Solidariedade em tempos de pandemias

Estamos vivendo tempos difíceis, fruto da pandemia do capitalismo neoliberal. A COVID 19 expôs ao mundo a face mais cruel deste sistema de morte. Têm ceifado milhares de vidas em todo o planeta, desnudado e ampliado as abissais desigualdades econômicas, sociais e étnicas, devido o descaso dos governantes, que colocam a economia e os interesses políticos e ideológicos, acima da vida das pessoas e do planeta.

Em nosso País os gritos de dor e de luto ecoam em toda parte. A cada dia aumentam os casos de contaminação e mortes pela propagação do vírus agora com múltiplas variantes, tidas como mais perigosas e letais. Estamos vendo com tristeza os pobres morrerem por falta das condições elementares de tratamento de saúde, como vimos em Manaus e em outros municípios da região norte: faltam oxigênio, leitos e equipamentos básicos. Acompanhamos com indignação as posturas negacionistas e polarizadoras, com fins eleitoreiros sobre a vacina, desvalorizando a ciência, sendo inoperante com sua aplicação e criando cisma na população através de um movimento antivacina.

Além do sistema de saúde colapsado, é gritante o alto índice de desemprego, da fome, da exclusão, o aumento da mendicância e das violências. Situações que clamam aos céus e a nós, por compaixão e solidariedade. Frente a esta cruel realidade a SOLIDARIEDADE é o caminho, nos afirma o Papa Francisco: “a solidariedade é precisamente o caminho para sairmos melhores da crise”. Todas as pessoas, grupos e instituições são convidadas a fazer sua parte. As CEBs por força de sua identidade eclesial, na qual, fé e vida, espiritualidade e compromisso sociopolítico são intrinsicamente interligados, são interpeladas a assumir a solidariedade como o amor em ação e horizonte mobilizador de vida e esperança junto aos que sofrem.

A solidariedade como prática humana, espiritual, ética e sociopolítica constitui a nota característica das CEBs e das pastorais sociais na igreja do Brasil e da América Latina. É um critério bíblico e um princípio da Doutrina Social da Igreja (DSI).

A Parábola do/a Samaritano/a (Lc 10, 15-37) é a mais eloquente expressão de solidariedade. Nela a pessoa caída é o lugar, o rosto originário, no qual Deus nos fala e nos encontra, convocando-nos para a solidariedade, como indica o Pe. Adroaldo Palaoro (*). Para além da indiferença das lideranças constituídas, os gestos falam da força do amor solidário em tríplice dimensão: ver, solidarizar-se e cuidar (cf. CF/2020). A ação solidária daquele que chamamos de “Bom Samaritano” acontece em processo: 1) ação solidária emergencial (aproximação e cuidado); 2) mobilização e envolvimento de outras pessoas (a família da hospedaria); 3) partilha de recursos e acompanhamento (cuide dele e eu voltarei…).

Na DSI a SOLIDARIEDADE é um princípio coletivo. Um valor ético, uma ação política voltada para o bem comum e a justiça social. Neste prisma, fazendo valer sua opção preferencial pelos pobres, as CEBs, unidas a outras pessoas, grupos, pastorais, organismos e organizações da Sociedade civil, têm neste tempo de pandemias, realizado uma série de ações solidárias: grupos de orações, orações, a partilha de alimentos, de material de limpeza e higiene, máscaras, álcool em gel, medicamentos, campanhas de cuidados, vaquinhas online, grupos de escuta, campanhas, conformando uma rede de solidariedade que tem salvado muitas vidas.

No entanto, urge ampliar a SOLIDARIEDADE como mobilização social e incidência política nas estruturas geradoras destas realidades injustas. Como afirma o papa Francisco: “A solidariedade é também lutar contra as causas estruturais da pobreza, a desigualdade, a falta de trabalho, a terra e a casa, a negação dos direitos sociais e laborais. É fazer face aos efeitos destrutivos do império do dinheiro (…). A solidariedade, entendida no seu sentido mais profundo, é uma forma de fazer história e é isto que os movimentos populares fazem” (Fratelli Tutti/116).

Nesta perspectiva a 6ª Semana Social Brasileira propõe um grande Mutirão pela Vida com as seguintes pautas: Vacina já, para todos e todas; Auxilio Emergencial até o fim da pandemia; impeachment já para o governo Bolsonaro. Pautas já em curso com várias iniciativas. Oxalá as CEBs se engajem neste mutirão, motivadas por sua vocação/missão samaritana e sociotransformadora. Pois como canta Beto Guedes: Vamos precisar de todo mundo / para banir do mundo a opressão / para construir a vida nova / vamos precisar de muito amor.

 (*) A íntegra da profunda reflexão de Pe. Adroaldo Palaoro sobre solidariedade encontra-se em https://www.ihu.unisinos.br/42-noticias/comentario-do-evangelho/590676-solidariedade-o-amor-como-exodo-solidario

Sair da versão mobile