Carnaval em Abril
Que alegria ver a potência da maior festa popular. O carnaval é talvez uma das maiores sínteses do país.
No retorno das escolas de samba pelo Brasil afora, foi bonito ver tanto empoderamento da nossa gente preta e tantos temas críticos sendo abordados na avenida. Evidentemente, como é a sociedade, o carnaval tem suas contradições: a violência de uns em São Paulo, a negligência de outros no Rio com acidentes inaceitáveis, a ligação obscura com atividades ilegais, a promiscuidade com os poderosos de plantão.
Ainda temos a tentativa de pasteurizar a cultura popular com desfiles que se tornaram parte de uma indústria, por um lado; e por outro, temos a resistência e a presença firme das comunidades que se tornam protagonistas da festa, apesar da força do dinheiro. Se é o ingresso é caro e acessível para poucos, pelo menos sabemos que os mais pobres são os grandes artistas na avenida. Pena que seja assim somente no carnaval.
Destacaram-se as escolas do Rio de Janeiro com a presença forte de vários elementos da religiosidade de matriz africana. Em São, mercê nota a irreverência da escola Rosas de Ouro. Um de seus carros alegóricos mostrava o presidente sendo vacinado e virando jacaré, na irreverência típica do carnaval.
Em ambas cidades, volta e meia tivemos uma referência à Mãe Aparecida, a Nossa Senhora preta. E ainda há quem chame o nosso carnaval de festa profana ou coisa do mal… Vá entender a dureza de coração de uns e outros!
No Rio de Janeiro, a turma das arquibancadas gritava por Lula enquanto o povo dos camarotes o ofendia. Indicativo do que será as eleições de outubro? Ainda é cedo para saber, mas é preciso também ver como se comportará a turma que ficou no sofá vendo o desfile pela tevê.
O STF nas cordas
O desfecho do julgamento do deputado Daniel Silveira mostra o grau de erosão das nossas instituições. Sem dúvida que o intolerante parlamentar cometeu crimes contra a constituição, extrapolando suas funções públicas e a imunidade a que tem direito. Mas, lamentavelmente, ele foi eleito.
Neste caso, somente os representantes do povo (parlamento) poderiam cassar seu mandato e não o Poder Judiciário. Essa confusão é uma síntese da bagunça política no Brasil de hoje: o governo (Executivo) não governa, deputados (Legislativo) ameaçam ministros da Suprema Corte e violam a lei e o Judiciário legisla…
A Graça Constitucional é algo previsto na lei também. Se houve desvio de finalidade ou não no perdão concedido pelo Chefe do Poder Executivo ao brigão é um debate possível, mas muito distante da vida do povo das nossas comunidades de base.
Na visão do povo simples, a justiça condenou um deputado e o presidente mandou soltar. Apenas os militantes entendem o que está em jogo neste momento. Para a população em geral, pode-se estar dando a impressão de que os ministros do STF não mandam nada.
Temos mais uma crise política onde as instituições republicanas são atacadas e desgastadas. Mas ainda tem gente que acredita que elas estão funcionando. Como isso vai impactar as eleições e a democracia é difícil prever.
Mas esse não é problema maior. O mais grave é ninguém ter feito nada antes de chegarmos a essa situação. Mal a gente corta pela raiz…
As pesquisas eleitorais
Lula segue firme na casa do 41-42% nas intenções de voto. Muita gente anda assustada com o crescimento do presidente nas pesquisas. Mas era o esperado, sobretudo agora que Sérgio Moro não será mais candidato.
Teremos uma eleição polarizada, reflexo de como está a sociedade brasileira. Teremos eleições muito duras, com grandes doses de mentiras e de violência.
Tudo que existe de mais abjeto no país vê no atual governante sua tábua de salvação. Eles não terão escrúpulos em fazer qualquer coisa para continuar no Poder. É o que já vemos nas agressões no campo, nas áreas indígenas e nas periferias das cidades.
Mas apesar de tudo, nada indica queda nas intenções de voto para Lula. Dessa forma, a eleição pode ser a parte fácil disso tudo, mesmo com todas as dificuldades.
Há que se ter cuidado com os seguidores do ocupante do Planalto. Estão cada vez mais armados e desalmados.
Para o povo das CEBs vale a máxima do Evangelho: “Eis que eu envio vocês como ovelhas no meio de lobos. Portanto, sejam prudentes como as serpentes e simples como as pombas”.
Precisamos encantar a política para reencantar o Povo de Deus.