ColunistasPadre Francisco Aquino Júnior

Viva São Romero!

Podcast Outro Papo de Igreja, do Serviço Teológico Pastoral

Oscar Romero foi bispo da Diocese de São Salvador, capital de El Salvador, de 1977 a 1980. Um pequeno país da América Central, marcado por muitas injustiças, por uma profunda desigualdade social e vivendo sob uma ditadura militar.

Na medida em que os pobres começaram a se organizar para defender seus direitos, passaram a ser perseguidos pelos latifundiários e pelo governo. Muitos foram presos, torturados e até assassinados. Também os que apoiavam os pobres em suas lutas e organizações sofreram na pele as mesmas consequências e o mesmo destino: perseguidos com os pobres e por causa dos pobres. A lista é imensa: de camponeses a operários e estudantes; de sindicalistas a advogados e jornalistas; de religiosas a padres e bispo… Foram mais de 75 mil salvadorenhos assassinados na década de 1980.

Essa situação de miséria, injustiça e violência contra os pobres e seus aliados foi abrindo os olhos e o coração do bispo Romero… Aos poucos, ele foi percebendo que isso era contra a vontade de Deus e que a Igreja não podia ficar calada diante dessa situação. Passou a denunciar as injustiças e violências, a defender o direito dos pobres de se organizarem e a apoiar suas lutas e organizações. A cada domingo, na homilia, fazia um relato das violações de direitos humanos no país. Era, muitas vezes, a única voz profética pública no país. Suas homilias, transmitidas pela rádio, eram ouvidas no país inteiro.

Mas também Romero passou a ser caluniado e perseguido por estar do lado dos pobres. Até mesmo por muita gente de Igreja que estava do lado dos ricos. Jornais, rádios e televisão o acusavam de ser comunista e de incitar a discórdia e a violência; a rádio da diocese foi bombardeada muitas vezes; vários padres e religiosos foram perseguidos, expulsos do país, torturados e até assassinados; a maioria dos bispos, aliada dos militares e latifundiários e/ou preocupada em manter os privilégios da Igreja, ficou contra ele. Mas Romero permaneceu firme. Dizia que o maior tesouro e a maior riqueza que a Igreja tinha para proteger era a vida dos pobres. E que esta era sua missão como cristão e como bispo. Sempre respeitou e amou todas as pessoas, inclusive as que o caluniavam e o perseguiam; sempre condenou a violência; perdoou antecipadamente seus assassinos. Mas defendia com toda força e sem vacilar a dignidade e os direitos dos pobres. Muitos camponeses e operários diziam que ele era a sua voz: a “voz dos sem voz”.

E no dia 24 de março de 1980, foi assassinado, a mando dos militares, quando celebrava a eucaristia. Pensavam que dessa forma silenciariam sua voz profética. Mas, pelo contrário, ela passou a ecoar cada vez mais forte e mais longe, animando muitas pessoas e comunidades no mundo inteiro a denunciarem as injustiças e a defenderem os direitos os pobres. Sua missão continuou na vida de muitos cristãos, de muitas outras pessoas e de muitos grupos e comunidades. Ele mesmo já tinha advertido, no contexto das ameaças que vinha recebendo: “se me matam, ressuscitarei no povo salvadorenho”; “um bispo morrerá, mas a Igreja de Deus, que é o povo, não perecerá jamais”.

Celebrar a memória de Romero é confirmar sua vida e assumir sua missão. É continuar fazendo o que ele fez no lugar e no contexto em que vivemos. Não basta reconhecer sua santidade e dar vivas a ele em uma celebração. É preciso torná-lo vivo e atuante em nossas comunidades através de nosso compromisso e de nossa ação em defesa dos direitos dos pobres e oprimidos. Mesmo que isso custe caro. Jesus mesmo já tinha advertido: “Se me perseguiram, também a vós perseguirão” (Jo 15, 20).

A celebração da memória de Romero, unida à celebração do memorial de Jesus Cristo, o mártir por excelência, compromete-nos a todos. Através dela, confirmamos sua vida e nos unimos a ele, fazendo nossa a sua missão, atualizando em nossa vida e ação pastoral seu compromisso com os pobres. Só assim podemos celebrá-lo evangelicamente e gritar sem hipocrisia: Viva São Romero!!! Pois nosso grito não será mais que a proclamação profética de que Romero vive entre nós e vive, precisamente, através de nosso compromisso com a Causa dos pobres, com a luta pela justiça.

Viva São Romero!!! Que ele viva!!!

Para a “glória de Deus” que é o “pobre que vive”!

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