Bolsonaro, Putin e a Guerra
Está enganado quem pensa que Bolsonaro foi à Rússia visitar o presidente do maior país do mundo para fazer qualquer tipo de acordo sobre as eleições deste ano. Desde 2016 a mídia norte americana alardeia que os russos interviram nas eleições americanas, favorecendo Trump.
Não é preciso de grande esforço crítico para perceber que isso não é possível. Segundo a imprensa, Putin e os russos teriam interferido na eleição que elegeu Donald Trump através do Facebook.
Acontece que todas grandes plataformas digitais estão baseadas dentro dos Estados Unidos, na Califórnia, sendo fiscalizadas com rigor pelo governo americano. Como uma rede social baseada em território americano seria usada por um governo estrangeiro?
Lá, como aqui, esse tipo de ideia serve apenas para uma coisa: esconder quem verdadeiramente usou meios digitais para interferir no processo eleitoral.
Aqui no Brasil, parte da imprensa reproduz a mesma coisa. Hackers russos teriam dado “uma forcinha” ao fascista americano. Por analogia, fariam o mesmo para Bolsonaro, sob as bênçãos de Putin.
O encontro entre os dois chefes de Estado já estava agendado há tempos. Os eventos que culminaram na ação militar russa na Ucrânia não estavam previstos para a data da visita.
Bolsonaro e seus aliados (sobretudo os militares) tinham um objetivo de fundo, mas tentou capitalizar a guerra a seu favor. Não conseguiu, mas parece que setores da esquerda morderam a isca.
Lamentável que importantes lideranças da esquerda – inclusive um ex-candidato a presidência de 2018 – acuse o golpe, levando milhares de militantes a concluírem a mesma coisa. Faz-se o jogo da extrema-direita neste caso.
Não se leva uma comitiva fora dos padrões em uma agenda oficial entre líderes de governo para fazer acordos secretos com finalidades antidemocráticas. A não ser que se queira que os outros pensem isso.
Ao jogar uma isca para ver se a imprensa e a oposição mordessem a isca, esconde-se quem, de fato, estará com Bolsonaro para tentar interferir, por meios digitais, nas escolhas eleitorais.
E nós já sabemos quem são: Os mesmos que, em plano internacional, interferiram de fato no Brexit no Reino Unido, nas eleições americanas de 2016 e aqui em nosso país em 2018. E aqui no Brasil, são também os mesmos que financiaram toda a parafernália digital que botou Bolsonaro no Planalto.
Para as CEBs é importante saber que lideranças religiosas estiveram e poderão estar envolvidas com essas coisas.
Francisco e a Paz
Devemos tomar como nossas as palavras do Papa Francisco: Em nome de Deus, peço-lhe: parem este massacre! Mas elas não devem ser dirigidas somente às tropas russas e ao seu dirigente.
O clamor de Francisco se dirige também àqueles neonazistas ucranianos que usam a população civil como escudo humano nos combates contra o exército russo. Ao presidente da Ucrânia, os EUA e a OTAN são tão responsáveis quanto os russos pela escalada da violência no leste da Europa.
O campo popular e democrático no Brasil não deve ceder à tentação fácil ao discurso da imprensa, que apresentam os russos como vilões nos acontecimentos na Ucrânia.
Será que esse discurso midiático não pretende impedir uma reaproximação futura do país com os países do Brics (Rússia, Índia, China e Africa do Sul) quando este desgoverno passar? O que é bom para os Estados Unidos no cenário internacional será bom para o Brasil também? Vale refletir a respeito.