O mês de outubro é dedicado à reflexão sobre a missão e à oração pela fidelidade à missão. Todo mundo fala de missão e reza pela missão. Mas quando se fala de missão nem sempre se fala da mesma coisa. O mais comum na Igreja é pensar a missão como atividade religiosa: culto, catequese, eventos, visita às famílias, semana missionária etc. E missionário é quem realiza essas atividades. Tudo isso é importante e necessário para animar e movimentar a comunidade. Mas não é nisso precisamente que consiste a missão cristã. Mais que uma atividade, realizada por algumas pessoas, a missão é um modo de vida que diz respeito a todos os batizados e envolve todas as dimensões da vida. Realiza-se em casa, no trabalho, na escola, na Igreja, na política, nas redes sociais etc.
A missão cristã é a mesma de Jesus: “Tornar o Reino de Deus presente no mundo” (EG 176). Viver de acordo com a vontade de Deus. Fecundar o mundo com o Evangelho da fraternidade, da justiça e da paz. O Reino de Deus é obra de Deus em nós. Mas só acontece com nossa adesão e colaboração. Deus só reina em nossa vida e em nosso mundo se a gente aceitar e colaborar ativamente com Ele. Quando ele reina sobre nós, nossa vida é vivida na lógica do perdão, da fraternidade, do amor até com os inimigos, da compaixão e do serviço aos pobres. Nisso consiste a vida/missão cristã: viver no amor de Deus que se concretiza no amor aos irmãos, sobretudo aos pobres e marginalizado.
Mais que ter uma missão (atividade a realizar), somos uma missão (modo de ser/agir): “Eu sou uma missão nesta terra, e para isso estou neste mundo. É preciso considerarmo-nos como que marcados a fogo por esta missão de iluminar, abençoar, vivificar, levantar, curar, libertar. Nisto uma pessoa se revela enfermeira no espírito, professor no espírito, político no espírito…, ou seja, pessoas que decidiram, no mais íntimo de si mesmas, estar com os outros e ser para os outros” (EG 273).
A missão não é um departamento da vida (culto, doutrina, eventos religiosos) nem tarefa de algumas poucas pessoas (agentes de pastoral). É o modo mesmo de ser cristão. Diz respeito a todos os batizados. E se concretiza como verdadeiro processo de conversão e renovação pessoal, eclesial e social: transforma nosso coração (sentimentos, mentalidades, convicções, disposições etc.); transforma nossas relações (respeito, ternura, perdão, humildade, serviço etc.); transforma nossa Igreja (sinal e instrumento de fraternidade, reconciliação, compromisso com os pobres e a justiça social) e, através de nossas vidas e comunidades, fermenta o mundo com a lógica e a força do evangelho e colabora na construção de uma sociedade mais justa e fraterna (direitos dos pobres e marginalizados, fraternidade e amizade social, justiça e paz, cuidado da casa comum).
Isso só é possível na força e no poder do Espírito que age dentro e fora de nossas comunidades, em pessoas e grupos religiosos e não religiosos. Não por acaso, o tema do mês missionário desse ano é “Com a força do Espírito, testemunhas de Cristo”. Jesus foi ungido com o Espírito para a missão. E nós também fomos ungidos com o mesmo Espírito para a mesma missão. Mas é preciso deixar Ele agir em nós e em nossas comunidades, arrancando-nos de nós mesmos e de nossos interesses e colocando-nos ao serviço dos irmãos, sobretudo dos mais necessitados. Em sua Encíclica Fratelli Tutti, Francisco recordava que “a estatura espiritual de uma pessoa é medida pelo amor” (FT 92). O que o Espírito de Jesus faz em nós é abrir-nos e capacitar-nos para o amor. Esta é a obra do Espírito em nós. Esta é nossa missão. E isso foi resumido por Jesus no mandamento do amor fraterno: “Este é o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei” (Jo 15,12). Todas as atividades que realizamos na Igreja existem e só têm sentido se nos ajudam a viver o amor fraterno: seja na relação cotidiana com as pessoas; seja na defesa dos direitos humanos, da justiça social e da nossa casa comum.