A crise plural pela qual passa o povo brasileiro e mundial é gravíssima: crise econômica, política, ecológica, social, crise das instituições etc. Justo seria se o voto fosse facultativo e votasse quem quisesse e tivesse acesso às principais informações para discernir quais são os/as melhores candidatos/as. Alegando que iriam diminuir o desemprego, a maioria dos deputados federais e senadores ignoraram 54 milhões de votos e sem Dilma Rousseff ter cometido crime de responsabilidade destituíram a presidenta eleita pela vontade da maioria do povo brasileiro, abrindo as comportas para vários cortes em direitos fundamentais/sociais e rasgando a Constituição. Assim, dia 31 de agosto de 2016 iniciou-se no Brasil o 7º golpe sobre o povo brasileiro, desta vez um golpe parlamentar, jurídico e midiático.
Há vários mitos e mentiras circulando agora durante o segundo turno da eleição para presidente do Brasil. O Brasil não é um quartel. Logo, a eleição presidencial não é para escolher o melhor coronel/capitão. O Brasil é um país com 206 milhões de habitantes, um território de 9,5 milhões de quilômetros quadrados e com biomas – Cerrado, Mata Atlântica, Amazônia, Pantanal, Caatinga e Pampa – profundamente devastados pelo agronegócio que, por meio de monoculturas, uso exagerado de agrotóxico e produção de alimentos transgênicos, está causando a maior devastação socioambiental da história. Pesquisas científicas apontam que o uso de agrotóxicos na agricultura do agronegócio está causando câncer em mais de 600 mil pessoas a cada ano no Brasil. Assustador é que entre as propostas capitalistas de Jair Bolsonaro está acabar com o Ministério do Meio Ambiente e com a fiscalização feita por fiscais do IBAMA, do ICBbio e do Ministério do Trabalho. Isso, segundo ele, “para não incomodar o (grande) produtor”, ou seja: latifundiários e empresários do agronegócio estarão completamente liberados para aprofundar a devastação ambiental e o envenenamento da terra, da água, do ar e dos alimentos. Isso é proposta de exterminador do futuro. Se for colocada em prática essa proposta, será o fim da Mata Amazônica e do pouco de cerrado que ainda existe no Brasil. Essa proposta está totalmente na contramão do que propõe o papa Francisco na Encíclica Laudato Si: “A perda de florestas e bosques implica simultaneamente a perda de espécies que poderiam constituir, no futuro, recursos extremamente importantes não só para a alimentação, mas também para a cura de doenças e vários serviços” (Laudato Si, n. 32). “Anualmente, desaparecem milhares de espécies vegetais e animais” (Laudato Si, n. 33). O papa Francisco apoia a Agricultura Familiar na linha da Agroecologia e critica o agronegócio como um causador do êxodo rural ao dizer: “Há uma grande variedade de sistemas alimentares rurais de pequena escala que continuam alimentando a maior parte da população mundial, utilizando uma porção reduzida de terreno e água e produzindo menos resíduos, quer em pequenas parcelas agrícolas e hortas, quer na caça e coleta de produtos silvestres, quer na pesca artesanal. As economias de larga escala – agronegócio via monoculturas -, especialmente no setor agrícola, acabam forçando os pequenos agricultores a vender as suas terras ou a abandonar as suas culturas tradicionais” (Laudato Si, n. 129).
O latifúndio continua sendo a coluna mestra do capitalismo brasileiro, que é uma máquina de moer vidas humanas e de toda a biodiversidade. As áreas urbanas, por sua vez, consolidam os modelos de desigualdade social, onde a população empurrada para a periferia não tem acesso a uma política habitacional, saneamento básico, saúde e transporte digno. A violência social campeia com mais de 70 mil jovens sendo assassinados anualmente. Diante desse cenário, seja em área rural ou urbana, uma cortina de fumaça está sendo insuflada diante do povo que está sendo cegado e impedido de discernir qual é o candidato ético e que de fato governará o Brasil com o povo e para gerar o bem comum para todos.
Jair Bolsonaro (PSL) é candidato do grande empresariado do capital nacional e internacional. Se eleito, jamais irá governar com o povo e nem para o povo. Será sempre subserviente aos interesses imperiais dos Estados Unidos, pois ele prestou continência à Bandeira estadunidense. Ele continuará privatizando as empresas estatais, a mãe terra, as águas, reduzindo o povo à miséria e desertificando nosso território. Ele não fala nada sobre necessidade de políticas de preservação ambiental e nem de se fazer Reforma Agrária Popular. Ao contrário, promete fortalecer o agronegócio, as mineradoras, impedir a demarcação de terras dos povos indígenas e quilombolas e, pior, reduzir as poucas terras indígenas já demarcadas. Isso é injustiça que clama aos céus!
Se fosse “Deus acima de tudo”, Bolsonaro não discriminaria as mulheres, os indígenas, os quilombolas, as domésticas e os homossexuais etc. Bolsonaro defende torturadores e a tortura. Ele abusa do nome de Deus, pois semeia ódio no tecido social; em vez de colocar livros nas mãos das pessoas, quer liberar o mercado de armas no Brasil. Em 30 anos como deputado, Bolsonaro não contribuiu para melhorar nem a segurança pública no estado do Rio de janeiro. Se eleito, ele será como Trump no Brasil: autoritário e repressor. O ético é pôr nas mãos das pessoas livros e não armas. Ele recebe auxílio moradia sem precisar, usa funcionária do congresso para cuidar da mansão dele no estado do Rio de Janeiro. Ele disse que os povos indígenas não merecem “nem um centímetro de terra”. É uma grande contradição ser pessoa cristã e apoiar quem dissemina violência na sociedade, planeja distribuir armas e autorizar policiais a matar sem ser responsabilizados. O povo brasileiro não merece entrar novamente em outra ditadura. O ético é Ditadura Nunca Mais! Grave também são lideranças religiosas, sejam padres ou pastores, induzirem os fiéis a votarem em Bolsonaro só por causa do seu discurso enganoso que diz “Deus acima de tudo e defensor da família e da moral tradicional”. Ele mesmo já passou por vários casamentos e apresenta propostas antagônicas com a fé cristã: armar as pessoas, ensinar crianças a atirar etc.
Está enganado quem, por antipetismo, votar em Bolsonaro. Não punirá o PT, mas o povo brasileiro já tão injustiçado, pois todas as políticas públicas e direitos sociais serão liquidados. De 2003 a 2015, sob o Governo do PT o salário mínimo teve aumento real, 16 universidades federais e 422 Institutos Federais foram construídos, além de várias políticas públicas de respeito aos direitos humanos fundamentais. Conquistas sociais que nenhum outro partido fez. Não podemos aventurar por no volante do Brasil quem insufla políticas repressoras, que são falsos remédios para injustiças sociais e, pior, até acena no rumo de uma nova ditadura. A quem não sabe o que é Ditadura Militar-civil-empresarial sugiro ler o livro Brasil Nunca Mais e assistir ao Filme Batismo de Sangue.
Muito bem manifestou-se o jornalista Francisco Assis em seu Artigo de Opinião, publicado no Jornal português Público, em sua edição do dia 11/10/2018 (Selecionamos alguns trechos.): “Quem elogia o torturador de uma jovem mulher absolutamente indefesa atribui-se a si próprio um estatuto praticamente sub-humano. Tudo nele aponta para a pequenez: é um ser intelectualmente medíocre, eticamente execrável, politicamente vulgar. Bolsonaro é pouco mais do que um analfabeto ideológico com todos os perigos que isso mesmo encerra. Equiparar Haddad a Bolsonaro constitui um acto moral e politicamente inqualificável. Haddad é um intelectual sofisticado, um democrata respeitador dos princípios fundamentais das sociedades abertas e pluralistas, um homem de reconhecida integridade cívica e moral. Uma vitória de Bolsonaro significaria um retrocesso civilizacional para o Brasil e para o mundo. Haddad é hoje mais do que Haddad, é mais do que o PT, é mesmo mais do que o Brasil. Haddad é o símbolo da luta da razão crítica contra o obscurantismo, da liberdade face ao despotismo, da aspiração igualitária diante do culto das hierarquias de base biológica ou social. Haddad significa a civilização, Bolsonaro representa a barbárie”.
(Fonte: https://www.publico.pt/2018/10/11/mundo/opiniao/um-canalha-a-porta-do-planalto-1847097 )
Como discípulos/as de Jesus Cristo, devemos primar pela busca da paz como fruto da justiça social, agrária e ambiental; ter o amor e o respeito ao diferente como princípio da convivência social; diante das injustiças sociais, cultivarmos sempre Opção pelos injustiçados como Opção de Classe trabalhadora. É muito importante e fundamental estarmos cientes de que a superação das injustiças passa sempre por educação e cultura popular, a partir dos de baixo.
Enfim, Jesus de Nazaré não votaria em candidato que usa e abusa do nome do Deus da Vida e nem em candidato que representa os interesses do capital. Eis o caminho: votar em quem tem sensibilidade social e humana. Prefiro votar no professor Fernando Haddad, que, como Ministro da Educação ampliou em larga escala o acesso à Educação Pública em todos os níveis, possibilitou aos jovens da classe trabalhadora e das Comunidades Tradicionais o ingresso nas Universidades Públicas e Particulares e criou o Piso Nacional de Salário dos/as professoras/es. Militarização da sociedade jamais será caminho justo para a classe trabalhadora e camponesa e para ninguém.
Belo Horizonte, MG, 17/10/2018.
Por Gilvander Moreira[1]
[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Ciências Bíblicas; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG.
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