Por Leu Cruz*
Fui numa semana na Celebração Penitencial em preparação para a Páscoa (Quaresma). Depois de terminada a liturgia, fiquei me perguntando se o melhor seria chamar essa celebração de Celebração do Perdão ao invés de penitencial.
O perdão é maior do que qualquer penitência e, segundo a teologia, base de nossa fé, o perdão chega até nós e é uma realidade. Em Jesus, já fomos perdoados, e o que precisamos para nos libertar e libertar o outro é perdoar. Pensando assim, acredito que precisaríamos dar lugar privilegiado a essa força de amor que é o perdão, começando por chamar a Celebração Penitencial de Celebração do Perdão.
Imaginem as pessoas indo para Igreja dizendo: “Vou hoje à Celebração do Perdão”. Com que disposição essas pessoas estariam saindo de casa para receber o perdão de Deus, se perdoar e perdoar o outro! Que bonito! Que abertura poderia criar no coração com a decisão: vou à Celebração do Perdão!
Como viver a dor sem a luz do perdão e a confiança de que já fomos perdoados? Tem sido tão difícil perdoar, ao mesmo tempo que, sem o perdão, caminhar será sempre uma precisão, nunca um desejo da alma.
Vocês poderiam me dizer: mas a Celebração Penitencial já tem essa conotação. Amigos e amigas, as palavras nos edificam e também nos traem, elas têm alma e são vivas. A penitência é algo pesado, mesmo que tenha um pote de ouro no final do arco-íris. A liturgia pode dizer o contrário, mas o que parece ser dito é: a dor e o sofrimento são necessários, como uma condição para alcançarmos o perdão ou a libertação.
O que acredito ser necessário, todos os dias, reafirmar e viver, é que o amor e sua extensão – o perdão – são a condição para sermos verdadeiramente livres.
Penitencial também reforça a culpa. E quem tem culpa está impossibilitado de amar e de se sentir amado. A culpa é uma força que nos aprisiona, joga-nos na penitenciária, para recordarmos todos os dias a nossa falha e erro e nos torna prisioneiros deles, sem nem a perspectiva do aprendizado resultante do ato de errar.
Só a luz do perdão pode transformar toda culpa em responsabilidade. Pois, quando errei, feri a minha essência, não queria fazê-lo. Tenho responsabilidade pelo ato e por suas consequências, mas não tenho culpa. A culpa paralisa enquanto o perdão movimenta e tudo que se movimenta tem vida, renova e transforma – “vai minha filha seus pecados estão perdoados” ou “levanta, pega sua maca e vai para casa”.
O Espírito guarda em nós a memória do amor inicial, quando Ele soprou em nós a vida, chamou-nos pelo nome e disse que nos amava. Isso é a nossa essência. Em todo o nosso caminho queremos fazê-lo à luz dessa memória. Quando nos reunimos para celebrar o enorme desejo de sermos perdoados e de perdoarmos, estamos abrindo caminho para que essa memória com o frescor de seu sopro nos conceda sua leveza e simplicidade.
Chamar a Celebração de Reconciliação já é um passo, mas só com perdão há reconciliação, pois o mesmo antecede o reconciliar. Por tudo isso, acredito que podíamos, na Quaresma ou Advento, chamar nossa celebração de Celebração do Perdão.
Sei que já existe essa tendência e alguns já deram muitos passos nesse sentido. O que faz com que meus escritos não possuam muito de original. Todavia, busco somar com essas forças que tentam nos ajudar a estar mais inteiros e amorosos nessa vida.
Aceitem essa partilha com o carinho com que a mesma foi construída.
Abraços, Leu.
*Leu Cruz é participante da Rede Celebra, animadora Litúrgica da Comunidade Batismo do Senhor – Duque de Caxias / RJ, e mestre em educação pela Uerj.