O Sínodo convocado pelo Papa Francisco, Comunhão, Participação e Missão, tem deixado muita gente na Igreja Católica nervosa. Por um lado, é difícil entender a razão de tanta resistência, por outro, compreende-se perfeitamente, pois o que está em jogo não são doutrinas, mas o clericalismo, a autorreferencialidade, em última instância, o medo de perder privilégios.
Sônia Oliveira, amiga, irmã no caminho de articulação do laicato na Igreja, talvez seja uma das melhores expressões do simbolismo contundente deste Sínodo. Além de ser leiga e ter diversas qualidades como pessoa, Sônia carrega na pele e no gênero uma marca indelével que aponta para uma profunda necessidade de mudança no caminho eclesial: negra e mulher.
Sim, ao longo da história da Igreja, o racismo fez parte vigorosa das opções evangelizadoras, e de certa forma ainda faz. Sim, mulheres, depois dos primeiros anos de cristianismo, foram perdendo sua dignidade no seio da Igreja, tratadas como seres inferiores, colocadas para fora de funções por argumentos antropológicos, quiçá misóginos, e não teológicos. E agora, bem devagar, voltam a ser reconhecidas.
Ora, ora. O Papa tem insistido que o Sínodo não é um parlamento. Que a escuta principal é ao Espírito Santo. Que não se trata de um debate ideológico, pois ser sinodal é constitutivo da Igreja, não é uma moda. Então, por que tanta preocupação? Será que duvidamos da honestidade do Papa?
Qualquer teólogo/a sabe que é o batismo o requisito fundamental da dignidade cristã. Que ele é a marca indelével que nos coloca como seguidores/as do CAMINHO, autodenominação dada por aqueles e aquelas que continuaram depois da Páscoa, e não cargos e funções que se exercem, cuja finalidade deveria ser a de edificar o processo no qual o Projeto de Jesus Cristo se faça presente no meio do mundo.
Sim, há vocações e responsabilidades diferentes. O múnus apostólico de um bispo não pode ser comparado ao de um reles teólogo de periferia. Porém, nenhuma vocação na Igreja deveria ser exercida de forma autoritária. Ninguém na Igreja deveria viver a missão com privilégios. A base fundamental é o “lava pés”: “ide vós e fazeis a mesma coisa”.
Assim sendo, a força simbólica de Sônia é enorme. Não queremos colocar um fardo pesado demais nas costas desta querida irmã. Mas o Papa parece ter percebido que só a presença dela fala. Sônia tem muito a contribuir, pois tem capacidade para isso. Contudo, sabemos dos desafios que obstaculizam possíveis alterações no percurso, pois se desinstalar não é algo fácil.
Sim, a expectativa em torno deste processo sinodal é enorme. A esperança de que leigos e leigas sejam tratados como irmãos e irmãs, e não como súditos, daí para frente, é grande. Depois desta etapa, em outubro/2023, ainda teremos mais um ano de reflexão. Sônia leva, neste momento, o POVO DE DEUS, dimensão eclesiológica recuperada no Concílio Vaticano II, mas que tem sido abafada e, com a graça de Deus, será reafirmada. Não há outro caminho a não ser o CAMINHO SINODAL.
É possível que a sinodalidade não se reestabeleça? Infelizmente sim. Contudo, será uma profunda traição daquele caminho tão bem sintetizado no Evangelho de Lucas. O Caminho entre Jerusalém e Emaús. Vá, Sônia, e nos leve junto!