ColunistasJorge Alexandre Alves

A PJ ousou olhar para frente

Podcast Outro Papo de Igreja, do Serviço Teológico Pastoral

No último dia 09/09, aconteceu a Romaria Nacional pelos 50 anos da Pastoral da Juventude. Foi um acontecimento sublime e quem esteve presente pode experimentar o que é uma espiritualidade libertadora e encarnada na realidade.

Além disso, estar em Aparecida, sob o manto de Mariama, nos possibilitou a emoção do encontro. Tantos afetos, tantas pessoas queridas que há muito não se encontravam. Abraços, rostos emocionados, sorrisos largos nos rostos de tanta gente que passou pela vivência única que somente o grupo de jovens pode proporcionar.

Nestes tempos em que muitas realidades eclesiais são áridas, marcadas pelo fundamentalismo/tradicionalismo religioso, o Santuário Nacional foi como uma brisa suave e revigorante na alma. Para muitos, foi a grande oportunidade de estar entre os seus.

Foi emocionante ver tanta gente querida. Ao mesmo tempo, ver pessoas que eu não conhecia abraçando seus amigos como eu abracei os meus me fez perceber que partilhávamos todos, sem exceção, dos mesmos sentimentos. Que bonito estar neste momento forte da Pastoral da Juventude, e ser observador privilegiado de toda energia que a PJ tem.

Certamente, cada um dos que estiveram presentes não foi sozinho. Carregamos conosco aqueles que não puderam estar presentes. Mas também levamos no coração e na memória os que passaram por nós e foram decisivos em nossa trajetória na PJ.

Levamos também os que já fizeram sua Páscoa e deixaram sua marca e sua enorme contribuição para essa história tão bonita da Pastoral da Juventude. Aqui trago presente três nomes muito importantes, não apenas para a PJ, mas para a Igreja do Brasil: Luiz Alberto Gomez de Souza, Solange Rodrigues e Irmã Leíza Lima, STS. 

Leíza Lima fez da sua vida religiosa um serviço aos jovens. Foi coautora dos primeiros subsídios para formação de grupos de jovens publicados no Brasil. 

Solange Rodrigues foi da PJ nos anos 1980 na dura realidade eclesial do Rio de Janeiro. Depois, passou a vida acompanhando lideranças juvenis e assessorando a Pastoral da Juventude. 

Mesmo nunca tendo sido assessora [orgânica] da PJ, Solange foi uma assessora a serviço dos jovens; era daquelas que abria espaços para o protagonismo dos mais jovens. Fiz parte de uma geração que muito deve a ela pela amizade e pelo incentivo a ser protagonista.

Há pouco mais de duas décadas, fizemos aqui no Rio de Janeiro mais uma edição do Curso do Rio (encontros ecumênicos de formação pastoral). Naquela oportunidade, iríamos tratar da questão das juventudes. 

Para trabalhar um dos aspectos da reflexão, chamamos Luiz Alberto e sua companheira Lúcia Ribeiro. Ambos com grande experiência de vida, ambos grandes sociólogos, ambos testemunhas oculares dos mais importantes momentos da Igreja e da sociedade brasileira no século XX.

Luiz Alberto e Lúcia foram da JUC (Juventude Universitária Católica) no contexto da Ação Católica. Este movimento trouxe para o Brasil os elementos primordiais das metodologias que a Pastoral da Juventude adotaria mais tarde. Os movimentos de juventude ligados a Ação Católica foram os precursores da PJ.

Naquele Curso do Rio, Luiz Alberto e Lúcia falaram com ternura e generosidade da Pastoral da Juventude. Viam a PJ como continuadora das inspirações das expressões juvenis da Ação Católica, do desejo de transformar a realidade da sociedade e de colocar a Igreja mais próxima dos jovens em geral. Eles nos contaram suas trajetórias juvenis e como aquela geração (dos anos 1960) se conectava com as juventudes do começo do século XXI.

Mas o principal motivo de trazer presente esta memória reside na fala final de Luiz Alberto a respeito da PJ. Ele disse que a Pastoral da Juventude era fundamental para o futuro da Igreja, porque era uma sementeira de lideranças para o Brasil, coisa que ele já constatava naquela altura. 

De fato, se no começo dos anos 2000, já era possível chegar a essa conclusão, o que dirá hoje quando encontramos tantos e tantas lideranças da Pastoral da Juventude nas universidades, no mundo das artes, na política e até mesmo no episcopado? Isso se deve ao fato de, na PJ, o protagonismo ser sempre dos e das jovens, e não dos adultos.

Talvez por causa dessa ousadia – dar liberdade e protagonismo às expressões das juventudes – que esta pastoral causa tanto incômodo em certos ambientes eclesiais. Mas a PJ também incomoda por formar pessoas dotadas de senso crítico. 

Afinal, trata-se de uma pastoral que é filha das grandes intuições do Concílio Vaticano II, das primeiras conferências do episcopado latino-americano e da teologia desenvolvida aqui neste continente. A PJ bebeu da mesma fonte da qual beberam a leitura popular da bíblia, as pastorais sociais, o Movimento Nacional Fé e Política e as CEBs do Brasil. 

Não à toa, encontramos tantas pessoas que foram “pejoteiras” liderando comunidades de base, se tornando catequistas, atuando em grupos de fé e política ou formando novas gerações. Afinal, a Pastoral da Juventude sempre compartilhou a mesma visão libertadora de Igreja com estes grupos. Por isso, também não é por acaso que os grandes bispos da história da Igreja do Brasil sempre apoiaram e confiaram na PJ, como o fizeram Paulo Evaristo Arns, Waldyr Calheiros, Pedro Casaldáliga, dentre outros.

Toda a comunidade eclesial de base deveria ter um ou mais grupos de jovens, sendo sementeira de lideranças. Como dizia Luiz Alberto Gomez de Souza, a PJ é expressão potente de um novo jeito de ser Igreja. Cabem as CEBs e outros movimentos acolher e valorizar a presença daqueles que vêm das fileiras da Pastoral da Juventude. Serão estes quem continuarão a nossa caminhada.

Comunidade que não abre espaço nem dialoga com os jovens, respeitando sua autonomia e seu protagonismo se condena à morte. Mais além, arrisco-me a dizer que sem a presença da PJ, as reformas de Francisco não terão eco no futuro da Igreja no Brasil. 

Enfim, ao celebrarmos em romaria os 50 anos da Pastoral da Juventude, também se pode constatar a felicidade de quem – como eu – passou pela Pastoral da Juventude. Estávamos felizes em poder olhar para trás e constatar que valeu a pena todo o caminho percorrido. 

Ao mesmo tempo, nossos corações se enchiam de esperança ao olhar para frente. Estávamos diante de uma juventude tão bonita e potente assumindo seu protagonismo, continuando nessa estrada de vida chamada PJ.

Vimos a garantia de um futuro para a Igreja. Estávamos diante de uma pastoral cuja metodologia dialoga diretamente com as propostas do Papa Francisco. Naquela romaria, sobretudo no encerramento da campanha de combate aos ciclos de violência contra as mulheres, testemunhamos o que significa ser uma Igreja em Saída.

Pessoalmente, sinto enorme gratidão a Deus e à vida por um dia ter passado pela PJ.  Ontem, pude constatar mais uma vez o bem que ela pode fazer na vida das juventudes. A Pastoral da Juventude foi decisiva para as escolhas fundamentais que fiz depois de ter passado pelo grupo de jovens e para que me tornasse o adulto que sou hoje.

Ter vivido esta romaria foi um turbilhão de bons sentimentos e de emoções em uma pessoa experiente como eu e tantas pessoas de minha geração. A gente pode imaginar o quanto este momento deverá ter marcado jovens que, pela primeira vez, participaram de um evento desta magnitude.

A Pastoral da Juventude, para além das suas cinco décadas de existência, prestou, presta e continuará prestando um enorme serviço à Igreja e ao Brasil com sua metodologia de formação integral da pessoa. Mas, sobretudo, ela é essencial pela vida dos jovens impactados por sua ação. Quem passa pela experiência do grupo de base, leva consigo uma marca indelével.

É muito difícil qualquer trabalho com juventudes, em realidades tão diferentes, alcançar a longevidade que a PJ possui. Atravessando gerações, a Pastoral da Juventude completou 50 anos porque ousou olhar para frente.

*Jorge Alexandre Alves foi pejoteiro e se orgulha de ter feito parte desta bonita história da Pastoral da Juventude.

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