No dia 07 de setembro, dia da pátria, celebramos o Grito dos Excluídos/as. Igrejas, organizações populares e setores diversos da sociedade saem às ruas em todo o país, não para marchar como “soldado cabeça de papel”, mas para gritar como cidadãos e como pessoas de fé: Vida em primeiro lugar. É tanto um grito de protesto contra as várias formas de negação de direitos a amplos setores da sociedade, quanto um grito de afirmação e resistência populares nas lutas por direitos no campo e na cidade, quanto ainda um grito de alegria e celebração das conquistas populares.
É muito significativo que essa manifestação aconteça no dia 07 de setembro. Uma forma de dizer – no protesto, na resistência e na festa – que o verdadeiro patriotismo e a verdadeira unidade nacional se dão na luta e afirmação da dignidade de todas as pessoas, mediante conquista e garantia de direitos. O Grito é ocasião privilegiada de expressão e animação das lutas e organizações sociais: celebração das lutas e conquistas; animação e fortalecimento das resistências e lutas populares. Como bem recorda Frei Carlos Mesters: “Luta sem festa, derrota na certa. Festa sem luta, vitória falsa”.
O Grito dos Excluídos/as acontece desde 1995. Nasce como fruto da 2º Semana Social Brasileira – “Brasil: Alternativas e Protagonistas”, em sintonia com a Campanha da Fraternidade daquele ano que tinha como tema “Fraternidade e Excluídos” e como lema “Eras Tu, Senhor?”. Em 1996, a Assembleia Geral da CNBB insere essa atividade no Projeto de Evangelização da Igreja no Brasil: “O Grito dos Excluídos será celebrado anualmente, em nível nacional, no dia 07 de setembro, retomando preferentemente o tema da Campanha da Fraternidade” (Documentos da CNBB 56, n. 129). Desde o início, o Grito foi uma atividade promovida com movimentos e organizações populares. Em alguns lugares, articulado pelas pastorais sociais. Em outros lugares, por movimentos e organizações populares. Mas sempre como atividade conjunta.
O tema do primeiro Grito foi “Vida em primeiro lugar”. Nos anos seguintes, isso se tornou o tema permanente do Grito, colocando sempre o desafio e a possibilidade de reconstrução do país: “Reconstrução que vai além de atender as demandas tão urgentes com políticas públicas, seja de combate à fome, à violência contra o povo preto e pobre nas periferias, contra os povos indígenas, à violência contra as mulheres e à população LGBTQIA+. Mas que passa também pelo respeito aos territórios indígenas e quilombolas e pela garantia dos direitos à moradia digna, reforma agrária e urbana, ao trabalho, à educação, saúde, cultura e lazer. Reconstrução que, sobretudo, promova o fortalecimento da democracia e da soberania e aponte para a construção de um projeto de sociedade onde a economia esteja a serviço da vida” (CNBB – Comissão Episcopal para a Ação Sociotransformadora. Carta de apoio ao Grito dos Excluídos 2023).
O lema desse ano é: “Você tem fome e sede de que?”. Uma pergunta que faz ecoar os muitos gritos que vêm do campo e dos becos e periferias das cidades, ao mesmo tempo que exige de todos nós, como cidadãos e pessoas de fé, respostas concretas que atendam às necessidades e direitos de nosso povo. É claro que isso não dá a toque de mágica nem cai do céu. Exige muita luta e organização. Direitos se conquistam na luta. Não podemos cair na ilusão de que determinados governos vão garantir os direitos da população. Todos sabemos que os governos, por melhores que sejam ou pareçam, estão muito mais alinhados e amarrados aos grandes grupos econômicos do que parece…
Importa manter viva a esperança ativa do nosso povo: “esperança do verbo esperançar” que compromete e mobiliza; esperança fundada e dinamizada pelo Espírito de Deus que, a partir de baixo, consola, anima, desperta e mobiliza o povo na luta cotidiana pela sobrevivência e na organização e mobilização populares por direitos.
Que Deus abençoe os movimentos e organizações populares no campo e na cidade. E que o Gritos dos Excluídos e Excluídas anime nossas comunidades, pastorais e organizações populares na luta e conquista de direitos – sinal e instrumento do reinado de Deus nesse mundo que é um reinado de fraternidade, justiça e paz.