Na ocasião dos festejos de São José, Dom Celso Antônio Marchiori, da diocese de Apucarama – PR lança uma nota duras críticas sobre o governo federal, em especial Dom Celso se refere a proposta de reforma da previdência, que segundo ele “é uma aberração contra os mais pobres”.
Acompanhe a nota na íntegra!
“Nenhuma família sem casa,
Nenhum camponês sem terra,
Nenhum trabalhador sem direitos,
Nenhuma pessoa sem dignidade”.
Papa Francisco.
A Diocese de Apucarana, Pr., em sintonia com a Doutrina Social da Igreja e à luz do Evangelho da vida (JO 10,10), vem afirmar a sua solidariedade com o povo brasileiro de permanecer firme no compromisso profético, seguindo a tradição, como lembra Amós, em defesa dos mais vulneráveis: “Eles vendem o justo por dinheiro, o indigente, por um par de sandálias; esmagam a cabeça dos fracos no pó da terra e tornam a vida dos oprimidos impossível” (Am 2,6-7). É neste espírito, em um momento tão delicado, em que a vida do povo se encontra ameaçada, que a Igreja Particular de Apucarana assume o seu papel, pronunciando-se acerca da Reforma da Previdência.
Muito se tem falado sobre a Reforma da Previdência nos meios de comunicação, especialmente nas redes de televisão, que afirmam, como “verdade absoluta” que ela é imprescindível para a nação e que se não for realizada, a Previdência Social vai quebrar, impedindo assim a aposentadoria das novas gerações e também inviabilizando o pagamento daqueles que já são aposentados. Em contraponto ao que é dito nas TVs, recebemos pelas redes sociais inúmeros artigos, posts, opiniões, dados estatísticos afirmando ser outra a realidade e que não há razão para a reforma, sendo tudo uma orquestração do governo e do sistema financeiro (leia-se bancos), para abocanhar um filé mignon do mercado, com o governo tornando não atrativa a previdência pública e conduzindo as pessoas para a previdência privada.
Se acreditarmos que há um pouco de verdade em cada uma das versões que nos são passadas, ou seja, que é preciso que haja uma reforma para não tornar a Previdência Social inviável no futuro e que tem gente muito graúda querendo se aproveitar disso para aumentar significativamente seus já polpudos lucros, há pelo menos uma verdade totalmente irrefutável nessa história toda: A proposta do governo é descaradamente uma aberração contra os mais pobres.
Nela não estão compreendidos os militares, os políticos, os autos escalões do Judiciário, do Ministério Público. Para eles não há nenhuma modificação em seus tão conhecidos privilégios. Já para o conjunto dos trabalhadores, são inúmeras supressões de direitos, que foram conquistados não como privilégios, mas como forma de minorar o sofrimento/desgaste daqueles que trabalham em atividades insalubres ou que, pela sua própria natureza, tornam-se inviáveis a partir de certa idade. Enfim, é uma proposta de reforma injusta, desigual, cruel e voltada apenas para a base de nossa pirâmide social.
Em razão das gravíssimas consequências da reforma para a vida de mais de 90% da população brasileira é que não podemos aceitar a imposição dessa tamanha atrocidade aos trabalhadores. É possível sim discutir a reforma da previdência, desde que isso seja feito com a participação da sociedade, com acesso a todas as informações e com a prudência e responsabilidade que a matéria exige, especialmente por lidar com a vida das pessoas em uma de suas fases mais frágeis, ou seja, a velhice.
Mas mesmo após o amplo debate, caso constatada a necessidade da reforma, que ela comece pela supressão dos privilégios e pela busca de fontes de financiamento nos setores da economia que mais lucram e que pouco devolvem à sociedade (leia-se bancos, agronegócio, tecnologia, etc…). Estes promovem grande concentração de riqueza com mínima geração de empregos. Extraem muito e devolvem pouco. Para termos uma sociedade e uma previdência social mais justas e sustentáveis, é preciso que ao invés do lucro, seja a pessoa humana a prioridade.
Animados pela missão de Cristo, que afirmava estar sobre Ele o Espírito do Senhor, que o ungiu para evangelizar os pobres, enviou-o para curar os corações, para pregar a liberdade aos cativos, a restauração da vista aos cegos, a liberdade aos oprimidos e a anunciar o ano aceitável do Senhor (Lc 4, 16-19), que a Diocese de Apucarana nos chama e refletir e a propor um debate mais amplo sobre a Reforma da Previdência.
Apucarana, 19 de março de 2017
Por ocasião da celebração de São José
+ Celso Antônio Marchiori
Bispo da Diocese de Apucarana- PR.
Publicado originalmente em www.diocesedeapucarana.com.br
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