O Sínodo Pan-Amazônico, que será celebrado em outubro de 2019, vai se organizando aos poucos. A primeira reunião do Conselho Pre-sinodal está acontecendo no Vaticano, nos dias 12 e 13 de abril, onde está sendo trabalhado os “lineamenta” e o “instrumentum laboris”, que vai ajudar elaborar os materiais a serem trabalhados nas comunidades amazônicas.
Um dos participantes do encontro é o Padre Justino Sarmento Rezende, salesiano indígena nascido na comunidade de Onça Igarapé, na diocese de São Gabriel da Cachoeira, que é um dos cinco assessores do referido Conselho. Em suas palavras aos presentes, carregadas de emoção, dizia: “Eu estou aqui falando em nome dos povos da Amazônia e em especial em nome dos povos indígenas. Vocês estão vendo que eu sou o único indígena que tem aqui, mas um dia serão mais também, um pouquinho mais, mas hoje esse é o rosto da Amazônia”, mostrando seu desejo de que aos poucos a Igreja da Amazônia possa ter um rosto amazônico, inclusive no meio daqueles que pensam nos novos caminhos para a Igreja da Amazônia.
O salesiano do povo tuyuka, agradecia a celebração do Sínodo sobre a Pan-Amazônia, pois “a Igreja está olhando para nós, com o coração voltado para nós, com a mente. Está depositando em nós, os povos da Amazônia, a esperança de receber contribuições importantes para que a Igreja seja cada vez mais localizada e universal”.
Como alguém que, desde sua condição de indígena e seus estudos, conhece a vida e o sentir dos povos indígenas da Amazônia, o Padre Justino afirmava que “nós povos indígenas, povos evangelizados e evangelizadores hoje, temos também como contribuir para o enriquecimento da nossa Igreja. Por isso, peço que os senhores bispos, o cardeal Baldisseri e o nosso Papai, Papa Francisco, como disseram lá em Peru, nos olhem como filhos seus, irmãos seus, por que o senhor é irmão maior nosso, o senhor é nosso guia, nosso pastor”.
Igual tem feito muitas outras pessoas ao longo dos últimos meses, o assessor do Sínodo vê nele “uma oportunidade grande e importante para inovar a nossa Igreja, presente na Amazônia. Novos caminhos que quem mora aqui, não vai saber quais são os caminhos da Amazônia, mas nós que estamos lá podemos dizer quais são os caminhos que a Igreja pode percorrer”, mostrando assim a necessidade de construir o Sínodo desde a base, desde os aportes dos povos e da Igreja da Amazônia, escutando seus pedidos e anseios.
A evangelização da Amazônia tem sua história, reconhecida por alguém que falava “em nome dos povos indígenas, em nome dos povos da Amazônia”. Por isso, agradecia “na pessoa do Santo Padre, o Papa Francisco, a vida de tantos missionários, missionárias, sacerdotes e bispos que deram suas vidas com a gente, defendendo nossas vidas, nossas culturas e foram martirizados, derramaram seu sangue para banhar as terras amazônicas, e graças a eles nós podemos dizer que estamos vivos até hoje, porque senão fosse a Igreja, os outros já teriam nos acabado”, uma história que se repete ainda hoje, pois muitas vezes a Igreja continua sendo uma voz firme contra os depredadores da Amazônia, pagando caro por isso, como temos visto recentemente com a prisão do Padre Amaro Lopes, em opinião de muitos, injusta e arbitrária.
Uma Igreja que “está presente como irmãos e irmãs, também com suas culturas, com suas fragilidades”, reconhece o Padre Justino, destacando como “muitos chegaram a assumir o rosto amazônico, muitos missionários, mesmo não sendo indígenas, assumiram rostos indígenas, aprenderam falar nossas línguas, aprenderam nossas tradições e não quiseram mais voltar para cá, morreram lá, estão enterrados lá”, sendo um bom exemplo para que seja assumido por todos os que vivência sua fé na região essa Igreja com rosto amazônico.
Uma missão que já deu muitos frutos para a própria Igreja, pois como o salesiano reconhecia, “graças ao nosso Bom Deus, pelo trabalho missionário, surgiram muitos leigos comprometidos com a Igreja, como catequistas, ministros extraordinários da Palavra, da Eucaristia, religiosos, religiosas, sacerdotes, e esse é o rosto que nós temos que oferecer para nós que somos Igreja”. Faz-se necessário caminhar juntos, construir em comum, pois “nós estamos lá, mas estamos também aqui no coração da nossa Igreja. Vocês aqui e nós lá, formamos uma unidade, somos uma família, somos Povo de Deus”.
O indígena tuyuka, falando em nome de todos seus parentes, fazia um apelo aos presentes no encontro do Vaticano: “Espero que vocês, conselheiros do Sínodo, não esqueçam dessa nossa porção do Povo de Deus. Os meus irmãos indígenas e os povos da Amazônia esperam muito por esse Sínodo. Nós temos que dar o melhor que possamos dar para os povos que estão merecendo essa atenção especial”.