Por Luis Miguel Modino
O que acontece na Amazônia não deixa ninguém indiferente, tem se tornado elemento de reflexão. Em tudo isso, podemos dizer que o Sínodo tem sido um instrumento que tem ajudado a dar visibilidade a problemáticas presentes por muito tempo nessa região. Mas o Sínodo é um processo que vai além da assembleia, celebrada no Vaticano de 6 a 27 de outubro, que pretende ajudar o mundo a tomar consciência sobre a importância do cuidado da Casa Comum.
Dentro desse processo, a Equipe Itinerante de Manaus, com o apoio de Entreculturas, Cáritas Espanhola e Manos Unidas, tem percorrido mais de 40 cidades espanholas, numa tentativa de trazer a Amazônia para perto da Europa, de passar um pouco da realidade amazônica, de amazonizar o velho continente, uma atitude assumida pelas crianças, jovens e adultos, que tem participando com muito interesse das múltiplas atividades desenvolvidas ao longo de mais de duas semanas.
Uma verdadeira maratona de atividades em colégios, paroquias, universidades, meios de comunicação, inclusive com o poder político. Os membros da equipe destacam a acolhida e interesse do povo e a pergunta sobre se o governo não faz nada diante da realidade apresentada, se não protege, ajuda. Os incêndios na Amazônia tem colocado a região em foco e isso preocupa muita gente em todos os países. A resposta era que o governo está totalmente contra os povos indígenas, contra o desenvolvimento sustentável.
Para os indígenas que participaram da experiência, tem sido um trabalho importante, “quando se fala daquilo que você faz, que você sente, que realmente acontece nas nossas aldeias, as pessoas ficam surpreendidas”. Os representantes dos povos originários destacam que “depois desse trabalho há uma esperança, há um outro pensar, outra visão para a Amazônia, que juntos nós conseguiremos fazer algo de melhor para todos os povos, toda a biodiversidade, toda a natureza e o bem comum”.
Uma selva não vive sem a outra, segundo a Equipe Itinerante, “nós vivemos na selva verde, na selva amazônica, e aqui é outra selva de pedras, de tijolos, mas uma não pode viver sem a outra, uma pode ajudar a outra”. Por outro lado, “a gente não ama o que não se conhece, a gente veio trazer um pouco de informações para que também a Amazônia se torne conhecida e se torne amada, respeitada”. O objetivo deve ser comum, “defender, ajudar essas vidas que existem na Amazônia e no nosso Planeta Terra, que todos juntos possamos cuidar dessa casa comum onde todos nós vivemos”.
Eles também destacam a valiosa experiência de ter participado das atividades do Sínodo para a Amazônia através da Amazônia Casa Comum, que desenvolveu múltiplas atividades ao longo das três semanas da assembleia. De fato, a Europa está muito interessada na situação da Amazônia, onde existem realidades como os povos isolados, monitorados e acompanhados pela Equipe Itinerante, de quem o Papa Francisco tem falado que são os povos mais vulneráveis de todos. Desde a equipe se diz que “se não houver uma providência, esses povos vão desaparecer em pouco tempo”.
Uma das grandes ameaças são as madeiras, que desde o Peru estão invadindo tudo. Por exemplo, no Rio Acre, que faz divisa entre o Brasil e o Peru, existem mais o menos 160 indígenas isolados. Diante disso, “se não existir uma preocupação por parte do governo, por parte das autoridades, que tem o poder de tomar decisão, praticamente eles vão desaparecer”.
Eles destacam que o pessoal da Espanha está muito interessado em resolver essas problemáticas, o que contrasta com a atitude do governo brasileiro, que todo dia diz que não vai ser demarcado um palmo de terra para indígena, que está liberando garimpo dentro das terras indígenas, um governo do qual não pode se esperar nada de bom. Desde a equipe se diz que nas reuniões que fizeram ao longo de mais de duas semanas chamaram muito a atenção sobre essas questões, uma situação muito complicada na região amazônica. Diante dessa situação, reclamam uma intervenção muito forte da Igreja, dos organismos internacionais para que possam proteger essa população. Pelo contrário, estão praticamente ameaçados de extinção.
Durante o tempo em que um grupo da equipe itinerante estava nas Ilhas Canarias, morreram afogadas umas quinze pessoas que tentavam chegar na Europa desde a África. Isso serviu para fazer a conexão entre o que está acontecendo na África e o que está acontecendo na Amazônia. Isso é “consequência de um sistema económico que explora, e que o povo da Europa não se dá conta dessa realidade”.
No percurso nas diferentes cidades, os membros da Equipe Itinerante tem descoberto que na Espanha existe muita imigração, que segundo eles escutaram, “eles vem atrás de melhores condições de vida”. Junto com isso agradecem o fato da Espanha ter muitos missionários na Amazônia.
Desde a Equipe Itinerante tem denunciado “os bancos que financiam as grandes empresas, madeireiras e garimpos na Amazônia. Tem que pensar duas vezes antes de financiar essas empresas, porque simplesmente é só para destruir a Amazônia”. Na fronteira entre o Brasil e o Peru há muitas empresas chinesas, que conseguem financiamentos com muita facilidade. Enquanto isso, “nós que lutamos para conseguir algum recurso para trabalhar na defesa dessas populações, existe tanta burocracia que a gente não consegue um apoio para poder trabalhar”.
Dentre os encontros, destacam um com estudantes de economia numa universidade, que estudam ética na cooperação internacional. O fato de ser jovens que estão estudando economia é importante. Desde a Equipe itinerante, tentaram mostrar “o estrago que a economia mal desenvolvida, mal vivida, pode fazer”. Por isso, “atrás de qualquer decisão econômica, de qualquer projeto de financiamento, de qualquer conta num banco, tem sempre vida, a economia tem sempre a ver com a vida, não tem só a ver com o dinheiro, com o lucro”.