“…Sempre nos passos de Jesus, na força do Espírito, em companhia dos profetas e mártires da caminhada, a serviço dos pobres e marginalizados em suas lutas por direitos e no cuidado da casa comum, a caminho do Reino definitivo de Deus…”.
Padre Francisco Aquino Júnior, no 15º Intereclesial das CEBs
Éramos 60 pessoas dentre cristãos leigas e leigos, religiosas, religiosos, padres e bispos, naquela que marcaria a primeira reunião do ano de 2024 dos articuladores/as, assessores/as e bispos, que acompanham as CEBs nos diferentes regionais, a Ampliada Nacional das Comunidades Eclesiais de Base, ocorrida entre os dias 25 a 28 de janeiro, em Cuiabá – MT.
Mais do que proceder à avaliação do 15º Intereclesial das CEBs, realizado em julho de 2023, e fazer a passagem da coordenação do 16º para as terras do Espírito Santo, a Ampliada voltou seu olhar para a profundidade de sua missão que vai muito além dos intereclesiais: a animação e o fortalecimento da caminhada das comunidades eclesiais na base. E isso é missão diária, conjunta, organizada, e que recebe contornos muito fortes, a partir da convocação de Francisco: em saída para as periferias existenciais, sociais, culturais… “no mundo urbano secularizado, na nova visibilidade das culturas originárias e negras, na emergência dos movimentos ligados à liberdade corporal, aos direitos da mulher e das minorias sexuais e outras pautas identitárias” – (cfr.: Marcelo Barros – IHU).
É na base que as CEBs seguem o projeto eclesial das primeiras comunidades cristãs: elas se reúnem em torno da Palavra, deixam-se orientar pelo testemunho dos apóstolos e apóstolas, pela vida, morte e ressurreição de Jesus e ali assumem o seu projeto libertador; através da comunhão fraterna, cujas relações são pautadas no amor, na justiça e na solidariedade com os pobres, na prática da partilha dos dons, do saber e dos bens; na fração do pão, que é a dimensão eucarística das comunidades através da partilha do pão nas casas e com os pobres; e nas orações em comum, cientes de que a comunidade que reza unida se fortalece no compromisso com o projeto libertador de Jesus de Nazaré.
Quando falamos em base, nos reportamos à imensidão de comunidades espalhadas pelos diferentes territórios que têm como referência uma igreja local. Contudo, lá nesta Igreja local, as CEBs são responsabilidade de quem?
Ainda é um desafio enorme para as CEBs se reafirmarem em seus territórios diante de uma Igreja mais preocupada com a manutenção de suas estruturas e de seu bem estar do que com as realidades que as cercam. O que, simultaneamente, acaba por invisibilizar a vida das comunidades eclesiais, ou identificá-las com o conjunto da “rede de pequenas comunidades”, conforme têm sido nomeadas nos planos de pastoral de algumas dioceses do Brasil. Sem contar que nas recentes Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil, as CEBs foram substituídas pelas Comunidades Eclesiais Missionárias, como se não existissem mais, num total desrespeito à sua história que teve como manjedoura as primeiras comunidades cristãs, animadas pelo Espírito Santo de Deus, como um jeito simples de ser a Igreja de Jesus Cristo, fruto da recepção criativa do Concílio Vaticano II (1962-1968). Mas a luta para que este “corpo” sobreviva, é processual, é caminhada e é cotidiana, não apenas de quatro em quatro anos, tempo que distancia um intereclesial do outro; contexto que lhe dá mais visibilidade.
É justamente nas bases que se evidenciam as maiores fragilidades e dificuldades enfrentadas pelas CEBs para se estabelecerem, serem reconhecidas e, enfim, reafirmarem sua identidade. Vejamos alguns dos principais desafios:
- É sentida a invisibilidade das CEBs nos últimos documentos da Igreja e na falta de apoio por parte de bispos, padres, leigos, leigas, religiosos, religiosas e nas mídias católicas.
- Existe formação sim, mas fragmentada; são iniciativas pontuais, sem continuidade, sem um processo de formação permanente.
- É forte a rotatividade de lideranças, a descontinuidade da missão assumida que pode ser por falta de uma preparação mais eficiente para lideranças capazes de animar a caminhada.
- É necessário pensar um processo de formação para animadores/as, articuladores/as e assessores/as, de modo a preencher as lacunas que se refletem na articulação das CEBs em vários âmbitos. Uma formação que interligue fé e vida: através de um olhar bíblico-teológico-pastoral, mas também, sociopolítico, crítico e autocrítico.
- A sustentabilidade financeira das CEBs é uma urgência a ser sanada. Ela é visível na falta de recursos, na dependência financeira e agravada pelo crescimento da pobreza….
- Também a comunicação enquanto veículo de visibilidade é um desafio para as CEBs, o que se reflete na dificuldade de acessar os meios digitais e na fragilidade de uma linguagem acessível com os interlocutores do campo e das periferias urbanas.
- E existe ainda o desafio de ser “casa de acolhida e protagonismo das juventudes”, para uma inserção e atuação das juventudes na caminhada das CEBs.
Como as CEBs estão inseridas numa Igreja local, “são” parte da mesma, obviamente que deveriam contar com o abrigo dessa instância. Mas nem sempre contam. Do contrário, esses desafios acima não existiriam. É nesse sentido que a Ampliada Nacional das CEBs tem um papel fundamental de guardiã das Comunidades, cuja missão, é ser um instrumento de animação das CEBs no Brasil através da formação, da articulação e da organização nas bases onde estão inseridas, superando a ideia de que as CEBs estão unicamente associadas aos intereclesiais. Ou seja, que a missão primeira da Ampliada é a preparação dos intereclesiais. Ao contrário, eles se inserem no contexto das CEBs no Brasil. São eventos importantes na caminhada que alimentam suas estruturas, reanimam as lideranças, marcam o encontro com irmãs e irmãos de vários lugares e regiões abrigados sob o mesmo teto das CEBs.
Para isso, a Ampliada Nacional conta com uma estruturação assim constituída: (03 pessoas de cada regional) dois articulares/as e um/a assessor/a; dois assessores/as nacionais; a pessoa que representa as CEBs na CNBB; o bispo referencial das CEBs e os bispos da região que sedia o intereclesial e o representante da Articulação Continental das CEBs. Dentro dessa estrutura e para estar mais próxima das CEBs, temos uma Coordenação da Ampliada, composta por um/a representante de cada grande região do país: Nortão, Nordestão, Oestão, Lestão e Sulão, os assessores nacionais e o bispo referencial.
A Ampliada Nacional, no seu conjunto, é que dá vida à caminhada fazendo-se chegar às bases através dos Grupos de Trabalho: Formação, Liturgia, Comunicação, Sustentabilidade e Arte e Cultura. Estes são serviços que se organizam para subsidiar o dia a dia das CEBs lá nas bases. Para isso, fica a recomendação do Pe. Aquino: não desanimar na caminhada, não desistir da comunidade, não banalizar a missão, não deixar cair a profecia e não perder a esperança!