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Celebração do Jubileu de 50 anos das CEBs na diocese de Brejo

Podcast Outro Papo de Igreja, do Serviço Teológico Pastoral

A notícia é do blog da Paróquia Nª Sª das Dores de Chapadinha – MA. https://paroquiadechapadinha.blogspot.com.br/2016/11/celebracao-do-jubileu-de-50-anos-das.html 

Celebrar o Jubileu de 50 anos das CEBs quer dizer 50 anos de vida das paróquias da diocese de Brejo. O que era, como foi e como está sendo agora.

Temos que enfocar os aspectos históricos, sócio- políticos e religiosos. Passou-se da época dos coronéis (fazendeiros) para a época do agronegócio. E no aspecto religioso passou-se de uma religião intimista e individualista para uma fé transformadora das realidades sofredoras das grandes maiorias.

A Igreja foi deixando devagarinho essa fé individualista e assumindo aquilo que o Concílio Vaticano anunciou “aprouve a Deus salvar o ser humano não individualisticamente, mas em comunidade” (E.N. nº9).

Na época de 1970 tínhamos herdado duas vertentes da mesma herança: a herança escravocrata abolida em 1888 oficialmente mas continuada na prática nas fazendas do Maranhão. E a outra herança da ditadura militar que deixou as marcas e continuava impondo a ideologia do medo nas populações pobres para continuarem se sujeitando aos ricos e políticos e à sua ditadura.

Na época, os donos de terras usavam o braço do cabouco como máquina de enriquecimento. E como máquinas tratavam os moradores de suas terras, que não tinham nenhum direito, só o direito de obedecê-los e servi-los como seus únicos donos, com direito a prisão pela menor desobediência. Na realidade, a nação pouco contava, os fazendeiros eram a nação, a lei, o juiz e o tribunal. Na época tinha até fazendeiros que diziam “eu sou federal”.

Num ambiente assim, o medo era o combustível para manter o carro da história, e perpetuar o poder dos fazendeiros e coronéis. E ao mesmo tempo perpetuar a ignorância e a sujeição do povo. Alguma ou outra escola que tinha era na cozinha da professora. E esta era trazida diretamente da cidade pelo fazendeiro, e quando não servia mais aos seus interesses era logo despachada.

Em frente a esta situação começou um fermento como coisa pequenina e escondida no meio da massa fazendo a transformação. Foram as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), tanto no interior como na cidade. Justo, há 50 anos, em 1966 no norte do Maranhão, nas cidades de Tutóia e Barreirinhas. 

O povo começou a despertar na sua fé e nos seus direitos de cidadania. O nosso bispo dom Valdeci nestes dias assistiu uma celebração em Tabocas (Barreirinha) onde estava uma senhora dessa época e contou como naquela época começaram a viver unidos em comunidade: faziam roça comunitária para sobreviver em tempos de dívidas ao patrão, para fazer viagens, comprar Bíblias, e levantar a capela.

Esse fermento foi se espalhando pelas outras paróquias. E há 46 anos (em 1970), chegou também em Chapadinha.

Um comerciante ambulante pelo interior que vendia remédios começou levando Bíblias nas suas bolsas para vender e dizia: Meus irmãos, está aqui um produto novo. É a Bíblia. E começou juntando o povo nos dias de domingo, lendo e explicando a Bíblia, e deixando assim  esse costume pelos povoados. Era o senhor Sebastião Alves.

Não demorou a reação dos fazendeiros, que viam nessa união e nas mensagens da Bíblia uma ameaça ao seu poderio. Começaram mandando para a cadeia os organizadores dessas comunidades que começavam surgindo. E como diz o ditado, quanto mais bate mais frutos dá, e as comunidades foram aumentando. 

Paróquia, entidades de direitos humanos, organismos criados pela CNBB como CPT, Caritas, juntos faziam a defesa e acolhimento das causas que iam surgindo. Passados 50 anos, de entre muitos espinhos brotaram os jardins de mais de 108 Comunidades , 54 na paróquia de NªSª das Dores e 54 na paróquia de Cristo Rei no município de Chapadinha.

Pouco a pouco, o católico foi entendendo que “ a vida só se ganha na doação” (Diretrizes da Igreja no Brasil, n.11). E que “o discípulo missionário encontra na atitude de alteridade e gratuidade as marcas que configuram a sua vida à de Jesus Cristo”. (Leigos e Leigas na sociedade e na Igreja, 11).

A abertura ao outro não é “um opcional”, mas uma condição necessária para a realização do ser humano” (Evangelho da alegria, 2).

O povo das comunidades foi aprendendo que era preciso rejeitar a tradição de uma religião individualista e intimista que pensava honrar a Deus pisando nos direitos dos irmãos. 

E aprendeu que a missão é assumir ao mesmo tempo os compromissos sócio-políticos transformadores das realidades sofredoras dos mais pobres (Cristãos leigos e leigas no Brasil, n.112)

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