Faleceu domingo à noite, 27 de agosto, o arcebispo emérito da Paraíba Dom José Maria Pires. Durante alguns anos foi um dos poucos bispos negros da Igreja Católica. Como ele assumia sua negritude, foi “carinhosamente” batizado de “Dom Pelé”, porém na medida em que se engajou na luta do Movimento Negro Brasileiro, tornando-se inclusive, um dos grandes protagonistas, da articulação que deu origem a Pastoral Afro-Brasileira da Igreja Católica (PAB), foi rebatizado pelo Movimento Negro, como “Dom Zumbi”. Tornou-se um dos Patriarcas da Pastoral Afro-Brasileira. Proferiu uma famosa homilia na histórica Missa dos Quilombos, em 1991, na cidade do Recife, considerada pelos historiadores como um dos textos fundadores da Teologia Afro-Brasileira Contemporânea.
Defensor das Comunidades Quilombolas, dos Povos Indígenas, dos Sem Terra, das mulheres em situação de prostituição, dos Camponeses, foi um dos “Padres Antigos” da Igreja dos Pobres na América Latina.
Incentivou as Comunidades Eclesiais de Base no Brasil, tornando-se um dos precursores da Teologia da Libertação. Orador dos mais brilhantes, dentro da mais lídima tradição afro-brasileira da cultura oral. Sua oratória simples, profunda e testemunhal, colocou-o na mesma Galeria, onde brilha, por exemplo, Martin Luther King Jr. Foi incansável defensor e teórico da “Firmeza Permanente e Não-Violência Ativa”. Poeta, intelectual orgânico, contador de histórias, teólogo, pastor, orientador espiritual, irmão, pai e amigo. Era apreciado por sua doçura e elegância, dito por muitos um verdadeiro “Black gentleman”. Foi um homem aberto ao diálogo, sendo um dos precursores do Diálogo Inter-religioso da Igreja Católica com o Candomblé. Dom Zumbi é uma dessas pessoas que fará falta ao Brasil, notadamente neste momento em que vivemos uma crise de proporções gigantescas tanto no cenário sócio-político, bem como no cenário eclesial. Foi um dos “gigantes” da CNBB.
Morreu na mesma data (27 de agosto) em que outros “Patriarcas da Igreja da Libertação” foram chamados ao “Orun”. Desse modo reúne-se a Dom Luciano Mendes de Almeida e a Dom Hélder Câmara; a eles juntam-se no céu, Pe. Antonio Aparecido da Silva (Toninho), Ir. Corina, Dom Jairo Rui Matos da Silva, Monsenhor Hilário Pandolfo, Pe. Heitor Frisotti, Pe. Francois L’espinay, Pe. Maurício de Limeira, Pe. Edir e tantos outros.
Dom Zumbi foi, como ele mesmo definiu os padres que abraçam sua negritude, um verdadeiro Babalorixá… Axé para Dom José Maria Pires!
Enviado pelo Pe. Gegê – Rio de Janeiro, autor/a desconhecido/a