Campanha da Fraternidade:
Apesar do tema tão relevante e urgente para um país com 33 milhões de famintos, parece que a CF-2023 é “cozinhada em banho-maria” em muitas dioceses. Simplesmente a campanha não dialoga com o cotidiano das paróquias.
Em certas localidades, são realizadas aberturas oficiais, cursos e até propostas de gesto concreto. Mas tudo muito protocolar. Para boa parte do clero nessas áreas, Campanha da Fraternidade é coisa política.
Nas missas sequer as músicas da CF-2023 são cantadas. Quando muito, uma das músicas é tocada, ao final da celebração. Parece coisa para inglês ver. E é.
Eleições para a CNBB:
Este ano teremos eleições para a presidência e demais cargos na CNBB. A Assembleia-Geral do episcopado brasileiro será apenas no mês que vem, mas já tem “pré-candidato” a presidente da conferência episcopal proferindo aula magna em universidade católica fora de sua diocese.
Estamos diante de nova encruzilhada do catolicismo brasileiro. A divisão existente na sociedade é cada vez mais evidente no interior da Igreja e também se move em torno das reformas propostas pelo Papa e por seu ministério petrino.
Tudo indica que as candidaturas às funções dirigentes da conferência dos bispos estarão enredadas nesta trama.
Por um lado, teremos aqueles que – se não se opõem abertamente a Francisco – preferem “empurrar com a barriga” o magistério papal. Estes esperam que este pontificado esteja bem próximo do final.
Torcem para que o próximo pontífice restaure a “volta à grande disciplina” no dizer do saudoso Pe. João Batista Libânio. Sabemos bem quais grupos e movimentos adorariam que a CNBB passasse a ter uma nova linha e quais são suas posições em relação à democracia.
De outro lado, os entusiastas da Igreja sob Francisco e que há muito tempo denunciam o clericalismo e a necessidade de reformas profundas na Igreja. Como nunca, as eleições para a CNBB e a conjuntura política do país estarão entrelaçadas e serão decisivas para o futuro do catolicismo brasileiro.
Ataques à democracia:
Mais de dois meses após à invasão das sedes dos poderes da República em Brasília, as investigações avançam sobre os que patrocinaram a viagem da turba enfurecida que atacou os palácios na Praça dos Três Poderes. Entretanto, causa incômodo que os mentores dos atos ainda não tenha sido sequer citados.
Muito menos os militares que estimularam a baderna de 01 de Janeiro. A guerra híbrida no país segue seu curso e as dificuldades são enormes para estancar a sangria das ameaças contra a democracia.
Sem punir os operadores políticos da desestabilização do Brasil, apenas adiando o ataque final à democracia popular. Além disso, não faltam aqui e ali quem queira desestabilizar a sociedade brasileira. Dentro e fora da Igreja.
Povos Originários:
O governo teve o mérito de agir rapidamente em relação à situação do povo Yanomami. Entretanto, pouca coisa foi feita em relação aos grandes empresários do garimpo.
Punir garimpeiros e capatazes é insuficiente. É preciso chegar às conexões políticas de quem lucrou com a tragédia de Roraima e rastrear o ouro ilegal.
Em outras partes do país, os povos originários clamam por justiça e pela ação do Estado Brasileiro. Guajajaras, Pataxós, Guarani-Kaiowás… Muitos correm risco! O poder público precisa agir. E rápido!
Trabalho Escravo:
No sudeste, quando se fala em trabalho escravo, o imaginário popular nos remete para os rincões do Brasil – geralmente associados ao norte do país. Lugares sem lei, onde vale a ordem dada por um “coronel” saído de uma novela de época.
Típico exemplo de memória seletiva. A região de Campos (RJ) e o interior de São Paulo sempre tiveram trabalhadores resgatados por fiscais do trabalho por se encontrarem em situação análoga à escravidão.
Entretanto, o caso das vinícolas gaúchas poucos dias atrás e da colheita de arroz ocorreram no “Sul Maravilha”. Em uma região onde existe enorme orgulho pelas suas raízes europeias. Agora, ao serem pegos praticando tamanha vilania, se esquivam de suas responsabilidades.
Os escravistas do século XXI se recusam ajustar sua conduta com o Ministério do Trabalho. Ou suas associações emitem nota culpando o Bolsa Família pela desgraça do trabalho escravo.
Tão orgulhosos de suas conquistas no sul. Mas se esquecem que seus antepassados miseráveis vieram da Europa para tentar escapar das mesmas condições degradantes que hoje eles impõem aos seus empregados.
Em quem será que essa gente votou para presidente?
*Jorge Alexandre Alves é sociólogo, professor e faz parte do Movimento Nacional Fé e Política.