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IV ENCONTRO DE COMUNIDADES DA DIOCESE DE NOVA FRIBURGO, RJ

Podcast Outro Papo de Igreja, do Serviço Teológico Pastoral

Rio das Ostras acolheu no sábado dia 27 de maio o IV Encontro de Comunidades da diocese de Nova Friburgo, Rio de Janeiro. Um encontro muito esperado, preparado com muito carinho e trabalho de 14 equipes nos vários serviços necessários para que as comunidades vindas de toda diocese fossem bem acolhidas.

Com o tema “300 anos de bênçãos com a mãe Aparecida na vida das comunidades”, o encontro teve início às 8h com o café da manhã e o ofício da Virgem Maria. Depois, a professora Ivânia Ribeiro, mulher, negra, militante das causas sociais e pastorais, foi escolhida para a conferência principal. Falou aos 300 participantes sobre o tema do Encontro. Uma exposição profunda, concreta e iluminadora para a caminhada as Comunidades. Abaixo, destacamos alguns pontos de sua palestra.

A seguir, 10 oficinas temáticas ajudaram os participantes a refletir e partilhar sobre diversos temas da missão da Igreja. Após o almoço aconteceu uma plenária com a síntese de cada oficina. As oficinas foram: Campanha da Fraternidade, Devoção e Piedade Popular, Juventude e Missão, Fé e Política, Liturgia e Vida, Pastorais Sociais, Círculos Bíblicos, Pastoral Familiar, Música e Liturgia, Iniciação Cristã, Organização da Comunidade.

Às 15h o encontro das comunidades foi encerrado com a celebração eucarística presidida pelo bispo Dom Edney, que encorajou a missão das comunidades eclesiais na base, destacou que dia 8 de julho será comemorado o centenário do nascimento de Dom Clemente Isnard, desbravador e pastor missionário por 33 anos na diocese de Nova Friburgo.

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300 anos de bênçãos com a Mãe Aparecida na vida das comunidades
Alguns pontos da conferência de Ivania Ribeiro

Para falar da Mãe Aparecida, nos reportamos à figura de Maria, revelada pela Bíblia. Pensando em Maria de Nazaré, me vem a  pergunta: como era a vida das meninas no tempo de Jesus? Geralmente, dizem os historiadores, a mulher tinha pouco valor social. Era contada entre os bens do marido, junto com cabras, cabritos e outras coisas mais. Aos 13 ou 14 anos, meninas frágeis, sensíveis eram dadas em casamento. Algumas davam sorte, outras nem tanto. As mulheres eram julgadas pela sociedade com absoluta severidade. As adúlteras eram apedrejadas. Muitas, para matar a forme se prostituiam. Por isso Jesus tinha tanta consideração com as prostitutas.

Papa Francisco tem grande devoção por Maria. Ele tem nos dito que ela é modelo de fé, de discípula que ouve, aprende e coloca a palavra em prática. A Bíblia destaca a vivência de Maria junto com os apóstolos, rezando com eles no cenáculo. A narrativa é muito natural. Sinal que havia convivência. Era uma comunidade de fé e vida, que incluía diversas mulheres.

Isto nos leva a pensar hoje no papel das mulheres numa Igreja machista. As mulheres estão sempre à disposição. Mas quantas mulheres têm nos conselhos administrativos de nossas paróquias?

Eu era catequista, e uma vez, num encontro de formação, Dom Clemente Isnard, nosso bispo querido, nos disse: “vocês devem ensinar que os Sacramentos são 7, para os homens, e 6 para as mulheres”. Nunca esqueci desse ensinamento.

Temos que resgatar uma tradição antiga, quando as mulheres tinham uma participação mais efetiva na vida das comunidades. Há dez anos, o Documento de Aparecida refletiu sobre o papel da mulher na Igreja. E o que foi feito?

O documento de Aparecida resgata a essência do Magnificat. Maria proclamou que Deus depõe os poderosos de seus tronos e exalta os humildes. Esse era o seu Deus. Foi esse o Deus que Maria mostrou a Jesus quando era criança.

Nossa Espiritualidade deve ser mariana. Só que alem do terço e das ladainhas, precisamos olhar para a fragilidade das mulheres nas periferias.

O papa diz que devemos fazer como Maria. Ela saiu da sua casa, saiu dos seus muros, para ir ao encontro de uma mulher grávida. É tão bom ficar com nosso grupo de oração, no nosso círculo bíblico, ir à missa onde todos nos conhecem. O desafio é estar com as pessoas que necessitam de uma palavra, de um conforto, de tocar em Jesus. Estive preso e me visitastes, diz Jesus.

Devemos criar nas comunidades espaços onde as pessoas possam conversar. Conversar é da nossa natureza. Que sejam espaços respeitosos. A gente precisa desses grupos, onde as pessoas “jogam conversa fora” como se diz. Grupos de mães, de artesanato, de medicina alternativa, tanto faz, desde que as mulheres tenham um espaço para conversar e partilhar seus sentimentos.

Faço parte da pastoral da sobriedade. Noutro dia recebemos uma jovem mãe que todo dia era agredida pelo marido drogado. Ela nos contou que o filho de 3 anos chorava porque queria leite para por no café, mas não ela tinha leite em casa. Perguntei, o que você fez? Chorando ela disse: “eu bati muito nele”. Perguntamos: “com quem você conversa?” Com ninguém, disse ela.

Se queremos tem uma espiritualidade mariana, temos que aprofundar a Palavra. Ah! mas rezamos o terço e os mistérios são bíblicos. Mas não basta, é preciso aprofundar a Palavra. Precisamos criar nas comunidades espaços para aprofundar a Palavra. Seguir Maria, que seguia a Palavra de Deus. Nossa devoção não pode ser desvinculada do Evangelho.

Concluindo, uma palavra sobre os 300 anos de N.S. Aparecida.

Em Fátima há 100 anos Maria aparece a três crianças no contexto de uma Europa cada vez mais ateísta e em guerra (1ª guerra mundial). Daí a palavra forte de Maria é pela conversão, voltar-se para Deus e rezar o terço pela paz e o fim da guerra.

Há 300 anos a imagem de N.S. da Conceição aparece a três pescadores no Paraíba do Sul. O rio não estava mais dando peixes, um importante alimento para os pobres. Por isso Maria anuncia aos ribeirinhos que não faltará mais peixes. Hoje, com o rio poluído como está, haverá ainda peixes? Temos responsabilidade com os sinais de Deus. Os milagres não são para consertar nossos erros. Precisamos preservar a natureza. Esse é o clamor do Papa Francisco, no documento Laudato Si.

Celebrar os 300 de Aparecida é fazer o que a Igreja está nos pedindo. Olhar para a natureza e para os pobres. É isso que os documentos do papa Francisco nos pedem. Podemos fazer mil celebrações dos 300 anos, mas se não olharmos para os pobres, nosso louvor não subirá aos céus.

Quem são hoje os pescadores que estão sem peixes? Essa é a resposta que devemos dar nos 300 anos de Aparecida. 

Por Nevio Fiorin – Iser Assessoria 

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