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Nota da CPT Nacional em solidariedade ao Pe. Amaro Lopes

Podcast Outro Papo de Igreja, do Serviço Teológico Pastoral

Já se passaram dois meses e dezesseis dias que Pe. José Amaro Lopes de Souza está preso, de forma injusta e arbitrária no presídio de Altamira. Desde então, membros da Prelazia do Xingu, as irmãs de Anapu e a CPT do Pará seguem quase que isoladas na luta por justiça e pela liberdade do Pe. Amaro Lopes.

Nesse contexto, não é possível contar com a mídia brasileira, que segue envolvida pela lógica do capital,submissa ao grande latifúndio que opera toda essa armação contra os movimentos do campo, não só na prisão do Padre Amaro, mas na sequência de camponeses mortos e ameaçados, sobretudo no estado do Pará.

A Igreja do Brasil deveria ser mais profética frente essa situação! É necessário uma cobrança incisiva ao governo brasileiro e aos “dono” da justiça. Cada dia que passa, nosso irmão e defensor das causas herdadas da Irmã Dorothy, padece naquela cadeia!

Apresentamos aqui a nota da CPT Nacional, publicada em 7 de junho de 2018.

Fotografia: CPT

Poucas horas antes de a CPT lançar, em Brasília, no dia 4 de junho de 2018, a edição referente a 2017 de “Conflitos no Campo Brasil”, o Tribunal de Justiça do Pará negou por unanimidade o pedido de habeas corpus impetrado a favor do Padre José Amaro Lopes Souza, da CPT, mantendo-o assim afastado de Anapu (PA), onde desenvolve seu trabalho pastoral em apoio às comunidades camponesas. Dez dias antes, o ministro Marco Aurélio de Mello, do Supremo Tribunal Federal, havia concedido o benefício à Regivaldo Pereira Galvão, o “Taradão”, condenado em segunda instância como mandante do assassinato da Irmã Dorothy Stang, da CPT, em 2005, em Anapu.

O assassinato de Irmã Dorothy transformou-a em mártir e ícone que reforça a luta pela terra e a defesa da Amazônia. O consórcio criminoso que a matou tem outra estratégia frente ao Padre Amaro, que continua com energia e coragem o trabalho pastoral de Irmã Dorothy. Passou a tramar e investir articuladamente em sua destruição moral.

O conjunto de acusações contra o Padre, conforme constam do inquérito elaborado pela Polícia Civil de Anapu, baseiam-se em afirmações que partiram do presidente do Sindicato Rural de Anapu e de mais de 20 fazendeiros da região, interessados em se apoderar definitivamente das terras públicas tornadas Projetos de Desenvolvimento Sustentável de centenas de famílias camponesas.

No Tribunal, sem a mínima consideração aos argumentos apresentados pela defesa, a relatora votou pela negação do habeas corpus, mantendo a prisão do Padre, voto seguido por todos os demais desembargadores. Pe. Amaro ainda foi acusado de causar “tumulto social” em Anapu e de ser chefe de quadrilha armada na região, temido pelo prefeito, vereadores e fazendeiros.

Mantida a prisão do Padre Amaro, a violência continua solta em Anapu. No mesmo dia do julgamento, mais um camponês foi assassinado na luta pela terra, o jovem Leoci Resplandes de Sousa. Mais um que se soma aos 15 trabalhadores ali assassinados a partir de 2015. Em 09 de janeiro deste ano, o tio de Leoci, Valdemir Resplandes dos Santos, foi assassinado e, em 2015, seu primo Hércules Santos de Souza. À violência judiciária se soma a física, para o êxito de um projeto de morte.

Uma campanha de ódio contra o Padre e as irmãs que continuam o trabalho de Dorothy e contra a CPT se espalha pelas redes sociais desde estes setores, em Anapu.

A Federação da Agricultura e Pecuária do Pará, FAEPA, que reúne fazendeiros, pecuaristas, madeireiros, grileiros e outros ligados ao agronegócio no estado, imediatamente comemorou “com euforia” em Nota Oficial a negação do habeas corpus. A nota evidencia que a atuação pastoral da Igreja, da CPT, do Padre e das Irmãs tem sido um obstáculo ao intento deles, por quanto é um trabalho que apoia a organização e a resistência dos camponeses e camponesas e denunciam as arbitrariedades e violências contra eles praticadas todos os dias por estes setores.

A Diretoria e a Coordenação da CPT manifestam sua indignação diante de uma decisão que expõe a contradição e parcialidade no exercício do sistema de justiça. Como entender de outro modo a liberdade dada ao mandante do assassinato da Irmã Dorothy já condenado em Júri Popular e negada ao padre cujo trabalho pastoral incomoda os que o acusam, uma minoria que se sente dona do território e da política e age sem escrúpulos para manter seus privilégios?

Ao Pe. Amaro, às Irmãs de Anapu e à Prelazia do Xingu nosso apoio e solidariedade. Apesar das ameaças e perseguições, não nos demoverão da missão de serviço aos pequenos, preferidos de Jesus de Nazaré, ao qual buscamos ser fiéis, também sob injúria, perversidade e condenação. Confortam-nos e nos animam as palavras do profeta&nbs p;Isaías (cap. 10, vers. 1-3):

“Ai dos que decretam leis injustas e dos escrivães que escrevem perversidades, para prejudicarem os pobres em juízo, e para arrebatarem o direito dos aflitos do meu povo, e para despojarem as viúvas, e para roubarem os órfãos! Que fareis no dia do ajuste de contas, da calamidade que vem de longe?”.

 

Goiânia, 07 de junho de 2017.

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