ColunistasFrei Marcos Sassatelli, op

O Ser humano histórico-individual (4)

Podcast Outro Papo de Igreja, do Serviço Teológico Pastoral

(Continua a série de artigos sobre o Ser humano)

Para o Ser humano histórico individual, “ser-no-mundo” corpórea, bio-psíquica e espiritualmente ou pessoalmente, significa ainda “ser-no-mundo” sexuadamente.

Como totalmente “corpo”, totalmente “vida” (“bio-psique”) e totalmente “espírito” ou “pessoa” – o Ser humano individual é também totalmente “sexo” (sexuado). A “sexualidade” – que não se reduz à “genitalidade”, mas a inclui – é constitutiva da individualidade (corporeidade, bio-psíquicidade e espiritualidade ou pessoalidade) do Ser humano

A orientação sexual do Ser humano individual se desenvolve na adolescência, entre os 12 e os 16 anos aproximadamente. A maioria dos Seres humanos individuais sente atração (ligação afetiva) pelo sexo oposto (heterossexuais ou heteroafetivos); alguns (uma proporção bem menor), pelo mesmo sexo (homossexuais ou homoafetivos); e outros, por um sexo ou outro (bissexuais ou biafetivos). 

Desde os anos 1990, para indicar as orientações sexuais minoritárias, usa-se a sigla LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis – transexuais – transgêneros). Posteriormente, a sigla passou por várias mudanças. Ultimamente, a mais usada é LGBTQIAPN+ (lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, queer, intersexo, assexuais, pansexuais, não-binários e outras).

Toda orientação sexual do Ser humano individual – mesmo que seja minoritária – deve ser sempre tratada com respeito, igualdade e inclusão

O mesmo diga-se da identidade de gênero que é a forma pela qual o Ser humano individual expressa o gênero com o qual se identifica.

Na orientação sexual majoritária, o Ser humano individual (homo) existe como homem (vir, macho) e mulher (mulier, fêmea). 

As Antropologias “tradicionais” e algumas Antropologias “pós-tradicionais” (modernas) descuidaram deste dado de fato, considerando-o secundário para a compreensão da existência humana. É muito significativo o fato que algumas línguas dispõem de uma só palavra para indicar o homem – macho e fêmea – e somente o macho. Isso demonstra o papel secundário da mulher e a não relevância da distinção homem-mulher (Cf. GEVAERT, J. Il Problema dell’Uomo. Introduzione all’Antropologia filosofica. Elle Di Ci, 19814, p. 80-81). 

Para o Ser humano, o significado “humano” de ser homem e mulher está essencialmente na relação entre indivíduos corpóreos, bio-psíquicos e espirituais ou pessoais. O Ser humano individual torna-se homem e mulher na reciprocidade do encontro, isto é, no face a face corpóreo, bio-psíquico e espiritual ou pessoal do homem e da mulher. Um homem é verdadeiramente homem (vir) – em sentido humano – diante da mulher (mulier) e uma mulher é verdadeiramente mulher (mulier) – em sentido humano – diante do homem (vir). 

A sexualidade é o fato de o Ser humano individual (homo) ser dois (vir e mulier) e se manifestar na reciprocidade (na relação, no encontro inter-subjetivo). Não é o homem (vir) e a mulher (mulier) que criam uma relação inter-individual (corpórea, bio-psíquica e espiritual ou pessoal), mas quando o Ser humano individual (homo) se torna relação (ser-para-um-outro), ele revela a mim a mim mesmo como homem (vir) ou mulher (mulier) no face a face. É neste face a face que me reconheço como homem (vir ou mulier) e sou reconhecido como tal. 

Não é, portanto, a sexualidade que nos faz inventar o amor, mas é o amor que nos revela a natureza da sexualidade. Neste contexto do encontro inter-individual (corpóreo, bio-psíquico, espiritual ou pessoal) manifestam-se todas as possibilidades de linguagem e de reconhecimento do outro/a como outro/a, isto é, todas as possibilidades “humanas” das componentes do homem e da mulher, como as diferenças fisiológicas, o erotismo, as caracterizações psicológicas, as elaborações culturais, etc. 

À sexualidade pertence a fecundidade. Ela é predisposta pela estrutura biológica e fisiológica do homem e da mulher, e se reveste de uma dimensão inter-individual (corpórea, bio-psíquica espiritual ou pessoal) na vivência do reconhecimento mútuo como homem e como mulher, e na instauração de um novo diálogo com um novo ser. 

A estrutura homem-mulher é, podemos dizer, a estrutura que mais profundamente manifesta (exprime), no Ser humano, sua natureza inter-individual (corpórea, bio-psíquica, espiritual ou pessoal) e é o caminho comum para realizá-la (Cf. GEVAERT, J., o. c., p. 88-89). 

Tudo isso – embora de forma diferente – é válido também nas orientações sexuais minoritárias. Um Ser humano individual é verdadeiramente ele mesmo – em sentido humano – diante de outro Ser humano individual. Ora, reciprocidade se dá unicamente onde há alteridade, ou seja, onde dois Seres humanos individuais existem plenamente.

(No próximo artigo, continuaremos as nossas reflexões sobre a “relação” que existe entre as dimensões do Ser humano individual e sobre o próprio Ser humano individual como “presença”, “ausência” e “expressão”).

Compartilhando: 

Para uma visão mais aprofundada e abrangente dos temas tratados, veja o meu livro: Ética da Libertação: uma abordagem filosófico-teológica. Lutas Anticapital, Marília – SP, 2023 (pág. 384).

Por estarmos nos últimos meses do Sínodo sobre Sinodalidade, veja também o meu livro (pequeno): Rumo ao Sínodo do Povo de Deus. Lutas Anticapital, Marília – SP, 2024 (pág.67).

http://www.cebsdobrasil.com.br/wp-content/uploads/2018/07/20180708_141523-1024x662.png

    Ética da Libertação: uma abordagem filosófico-teológica                    Rumo ao Sínodo do Povo de Deus

(A fonte da Capa encontra-se na pág. 4 dos Livros)

www.lutasanticapital.com.br/editora@lutasanticapital.com.br

Marcos Sassatelli, Frade dominicano

E-mail: mpsassatelli@uol.com.br

https://freimarcos.blogspot.com

 Goiânia, 06 de agosto de 2024 

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