Às minhas irmãs e aos meus irmãos,
Paz e bem
Nosso campo/espiritualidade no Brasil vive há pelo menos 20 anos um momento de extrema estagnação – e por que não dizer – um recuo acentuado. Após décadas de atuação de bispos como D. Helder, D. Pedro, D. Paulo – que com seu exemplo profético arrastavam o restante do episcopado brasileiro e abriam espaço para o protagonismo dos leigos avançarmos como Povo de Deus no Brasil – um misto de cansaço e desânimo abateu parte considerável de nós ante o aumento do conservadorismo em nossas estruturas eclesiais. E nessas linhas não se trata, nem de longe, de crítica ou reclamação. Pelo contrário.
Parte considerável de nós nos afastamos (eu, inclusive, vivenciei um “deserto religioso” de 15 longos anos) das estruturas eclesiais, outra parte participa e – de alguma forma – respalda estruturas pré-conciliares em suas paróquias/dioceses muitas vezes marginalizados por bispos que se comportam como verdadeiros príncipes em suas circunscrições. Dedicamos um tempo precioso para tarefas pastorais e estas pastorais são podadas e limitadas por bispos que renegam, na prática, o Vaticano II e o Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam).
Muitas vezes, deixamos de apresentar – por falta de pernas – temas que são tanto vitais para a Igreja hoje quanto são desconhecidos da maioria dos católicos hoje: Doutrina Social da Igreja, as conferências episcopais de Medellín, Puebla, encíclicas, Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil. Chegamos a não explorar como deveríamos a vida das primeiras comunidades cristãs, ricas numa perspectiva de comunidade ideal. As tarefas cotidianas de militância, assessoria, coordenação sugam – e restringem! – nosso viver cristão.
Alguém pode afirmar já fazemos tudo isso nas pastorais sociais, nas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), na Pastoral da Juventude (PJ), nos círculos bíblicos. Sim e eu concordo. Mas todos esses espaços são a nossa bolha! Tudo que fazemos, além de ficar restrito a nós mesmos, o fazemos de forma dispersa e diluída em nossas pastorais. E essa atuação, em certa medida, respalda estruturas muitas vezes medievais.
Fica então a pergunta: Por que aceitamos continuar nas catacumbas nas quais fomos jogados pelo conservadorismo nos últimos anos? Por que não reunimos nossos esforços diluídos em diversas pastorais? Por que não reunimos esforços num movimento estritamente católico criado e animado pela Teologia da Libertação, mas que não se limite à ela. Aproveitando a benção que é o pontificado de Francisco que escancara as portas para vivermos plenamente a opção preferencial pelos pobres. Que não caia na separação da fé com a vida “mundana”. Um movimento que busque ter vida diocesana sim! Com assessoria leiga e religiosa nas mais distantes e necessárias dioceses do país. Apresentando com certo grau de oficialidade uma alternativa de vida eclesial: Sinodal, com protagonismo leigo, radicalmente evangélica e herdeira de Medellín e Puebla. Todos os movimentos da espiritualidade renovada pentecostal, com todos os seus erros e acertos, buscam tal coisa.
Daniel Reis
Membro do Fé e Política Pe João Cribbin, Rio de Janeiro/RJ.