O Sínodo dos Bispos da Pan-Amazônia se apresenta como uma oportunidade histórica para a Igreja da região. Dentro desse processo sinodal, a vida religiosa está chamada a ter um papel fundamental, especialmente no primeiro momento em que querem ser escutadas as vozes daqueles que vivem na região, sobretudo os povos indígenas. De fato, é a vida religiosa quem se faz presente nos cantos mais escondidos e nas realidades mais desafiantes, pois sempre teve uma importância decisiva na evangelização da Amazônia.
Como passo importante nessa caminhada, a Conferência Caribenha e Latino-americana de Religiosas e Religiosos (CLAR), junto com a Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM), organizou um Encontro de Congregações Religiosas com Projetos em Perspectiva Amazônica, que está acontecendo em Tabatinga (Brasil), cidade situada na fronteira com a Colômbia e o Peru, de 20 a 24 de abril.
São mais de noventa participantes, religiosas e religiosos, junto com alguns leigos e leigas, que trabalham em diferentes países que fazem parte da Pan-Amazônia, que estão refletindo a partir do tema “A missionariedade Pan-Amazônica na ótica da ecologia integral”. Tudo na perspectiva de vislumbrar novos caminhos para a Igreja e para a ecologia integral.
Para contribuir na evangelização da Amazônia se faz necessário entender o que ela é, uma terra fecunda, de todos, que acolhe, se faz preciso conhecer suas conexões e sua importância no equilíbrio da vida, segundo o jesuíta Fernando López, da Equipe Itinerante. Uma região que, como reconheceu o Papa Francisco no histórico discurso aos povos indígenas em Puerto Maldonado, sofre constantes ameaças, assim como os povos que nela habitam.
A Amazônia vive um tempo de boas notícias, que se concretizam na figura do Papa Francisco, a Laudato Si, a REPAM ou o Sínodo Pan-Amazônico. A Vida Religiosa é chamada a dar testemunho dessas boas notícias, a se conectar entre as diferentes congregações, a romper fronteiras, a olhar com uma mirada amorosa, cuidadosa e esperançada, como reconhecia João Gutemberg, representante da CLAR na Red Eclesial Pan-Amazônica.
Reagir diante dessas ameaças é hoje um dos principais desafios da Vida Consagrada na região. Isso é assumido pela vida religiosa na Amazônia e em toda Latino-américa e o Caribe na medida em que quer fazer realidade uma Igreja em saída, como expressa o logo da CLAR no triênio 2015-2018, que representa a Visitação. Daí, a vida consagrada é convidada a levar esperança, a despertar o reconhecimento da necessidade de cuidar da Casa Comum, de ter um olhar ecológico, de se por em caminho para chegar perto e acolher o povo, aspectos nos que insistia a Secretaria Executiva da CLAR, Luz Marina Valencia.
Sobre a Rede Eclesial Pan-Amazônica, seu Secretario Executivo, Mauricio López, destaca que dentro da REPAM, quem faz a diferença são os rostos concretos dos missionários e missionárias, especialmente da Vida Consagrada, insistindo na necessidade de escutar os povos da Amazônia, de juntar o povo, para ter uma visão de conjunto, pois todos somos REPAM. Para isso deve se produzir uma metanóia radical, uma conversão no coração de quem trabalha na Amazônia. Ser religioso e religiosa na Amazônia exige uma mudança de atitudes, de modo de entender a vida, de se relacionar com seus povos e com a natureza tão presente nessa terra, nesses rios.
Dentro do processo sinodal, que pode ser um momento histórico, como reconhecia o Cardeal Hummes numa mensagem enviado aos participantes, é importante descobri-lo como momento em que a periferia está chegando ao coração da Igreja, segundo Mauricio López. Por isso, esse é um momento de singular importância para construir uma Igreja com rosto amazônico e rosto indígena. Para isso, vai ter um papel decisivo às 45 assembléias territoriais sinodais que são previstas nos próximos meses, buscando a maior participação possível, assim como os diversos foros temáticos. É tempo de expressar as propostas ousadas e corajosas que o Papa Francisco espera, aspecto onde a Vida Religiosa, tantas vezes abrindo caminhos, pode ter um papel decisivo.
O encontro está servindo para refletir sobre alguns elementos que podem marcar o futuro da Vida Religiosa na Amazônia. Nesse sentido, tem aparecido a necessidade de um trabalho intercongregacional e interinstucional, de uma missão itinerante, que se faça presente no meio dos últimos, que escute os gritos da Amazônia e de seus povos, aspectos sobre os quais já existem diferentes experiências na região amazônica, algumas das quais tem sido compartilhadas ao longo do encontro para que possam servir como referência para futuras iniciativas.
Junto com isso, o conhecimento das diferentes realidades da região tem sido momento importante. Na fronteira tudo flui com rapidez, o que muitas vezes atinge decisivamente a vida do povo, especialmente dos mais vulneráveis, onde a vida religiosa das três circunscrições eclesiásticas dessa tríplice fronteira, o Vicariato Apostólico de Leticia (Colombia), o Vicariato Apostólico de São José do Amazonas (Perú) e a Diocese de Alto Solimões (Brasil), têm uma presença muito significativa.
Um encontro que está abrindo novos caminhos, perspectivas, utopias, onde os presentes estão descobrindo a necessidade de caminhar cada vez mais unidos para fazer realidade àquilo que, independentemente de carismas e congregações, é objetivo principal em todo missionário e missionária: fazer presente o Reino de Deus até as periferias do mundo.