“Sonho que se sonha só, pode ser pura ilusão;
Sonho que se sonha juntos, é sinal de solução!
Então, vamos sonhar companheiros,
Sonhar ligeiro, sonhar em mutirão”.
Zé Vicente
Estamos chegando ao final de um ano que mexeu com nossas profundezas, revirou nosso jeito de viver em comunidades, de nos comunicar, de trabalhar, de nos relacionar. Vivemos um ano de crise que segue seu rumo sem nos dar perspectivas de quando nos deixará. E como nos diz o Papa Francisco, “de uma crise, ou saímos melhores ou piores, mas nunca iguais”, penso ser este o momento oportuno de avaliação para nossas CEBs voltarem a sonhar.
Proponho uma avaliação a partir do novo livro do Papa Francisco, “Voltemos a sonhar” (título original), no qual propõe “um caminho para um futuro melhor”, escrito a partir de conversas com o escritor e jornalista britânico, Austen Ivereigh.
Não é intrigante que em meio a este caos sem precedentes, o Papa nos faça este “convite”? Ousado não? Coisas de Francisco! Ele extrai deste “tempo” o que chama de “saídas”, começando por sair de nós mesmos, porque “são os outros, à nossa volta, que nos ajudam a encontrar caminhos de saída, a dar o melhor de nós mesmos”.
A bíblia mostra os profetas em tempos difíceis de guerras e de crises, cuidando do povo para não cair no desânimo e na desesperança. É próprio do profeta cuidar e encorajar. Parece ter sido o caminho adotado pelos profetas, fazendo-os retomar o ânimo para, assim, retomar a vida. Não é diferente com Francisco, que em meio a este triste momento nos convida a voltar a sonhar, e juntos.
No livro ele nos oferece três “tempos” fortes que nos ajudam a avaliar o trajeto percorrido e adentrar no caminho ao qual chama de saída:
Tempo para ver
Estamos no meio de uma crise, a pandemia da Covid 19, mas existem outras crises terríveis, diz o Papa: “Como encarar as pandemias ocultas deste mundo: as guerras em várias partes do mundo, o tráfico de armas; os refugiados que vivem na pobreza, com fome e sem oportunidades; as mudanças climáticas, os 3,7 milhões de pessoas que morreram por causa da fome nos primeiros quatro meses deste ano?”. Como sonhar em meio a tantas crises? É preciso cercar-se da realidade, deixar-se “golpear” por ela, para então sonhar e sonhar grande.
É o momento de repensar nossas prioridades: o que valorizamos, o que queremos, o que buscamos e com quem buscamos? Como chegamos até aqui e com quem chegamos? Como assumimos a vida em comunidade? Como cuidamos daqueles e daquelas que mais sofreram nesta pandemia?
Tempo para escolher
Com o olhar aberto à realidade, reconhecer os critérios que nos guiam: que somos amados por Deus, que somos chamados como povo a serviço da solidariedade, que precisamos aprimorar nossa capacidade de reflexão e silêncio, de oração, de cultivo e de diálogo com a comunidade, animando-a a sonhar juntos. E como diz Francisco, com estes elementos podemos ler os sinais dos tempos, discernir e escolher um caminho que faça bem a todos: “distinguir os caminhos do bem que nos conduzem ao futuro, de outros caminhos que não nos levam a lugar nenhum e nos fazem retroceder”
Que caminho escolhemos? Uma dica do Papa: “Quando a Igreja fala da opção preferencial pelos pobres, quer dizer que sempre levará em conta o impacto sobre os pobres nas decisões que tomamos. Significa que devemos colocar o pobre no centro de nosso modo de pensar”.
Tempo para fazer
Esta crise terá que nos levar a recuperar o sentido de pertencimento, de regeneração de vínculos e de confiança. Segundo o Papa: “Não podemos deixar passar este esclarecedor momento. Não permitamos que nos digam que, frente à crise da Covid-19, nada fizemos para restaurar a dignidade de nossos povos, para recuperar a memória e recordar nossas raízes”. Este é um tempo propício de ação concreta. É um tempo para salvar, reparar e restaurar a ética da fraternidade. “Só o rosto do outro é capaz de despertar o melhor de nosso interior. Ao servir ao povo, nos salvamos a nós mesmos. Para sair melhores desta crise é necessário que recuperemos o saber de que temos um destino comum como povo. A pandemia nos recorda que nada pode salvar-se sozinho”.
O que vamos fazer?
(Fragmentos extraídos do Livro: Vamos sonhar juntos – Papa Francisco)