O Concílio Vaticano II nos ajudou a compreender que Igreja não existe fora do mundo nem pode ficar indiferente ao que acontece no mundo. Ela existe no mundo e está a serviço do mundo. Sua missão é ser “sinal e instrumento” do reinado de Deus, isto é, da realização de sua vontade no mundo. Por isso mesmo, ela tem que estar muito atenta ao que acontece no mundo, discernindo “nos acontecimentos, nas exigências e nas aspirações de nosso tempo, quais sejam os sinais verdadeiros da presença ou dos desígnios de Deus” (GS 11). Desde então, tornou-se comum falar de discernimento dos sinais dos tempos, o que implica esforço para compreender o que acontece no mundo e discernir os apelos de Deus à missão da Igreja nesse mundo. Isso explica a importância dada à análise de conjuntura nos encontros e assembleias de pastoral.
A Igreja da América Latina, inserida num contexto de profundas desigualdades sociais e de organização e luta pela transformação da sociedade, percebeu e chamou atenção do conjunto da Igreja para o “sinal dos tempos” por excelência em nosso mundo: situação de pobreza e marginalização e lutas por libertação. Compreendeu que essa situação de pobreza e marginalização é contra a vontade de Deus, é uma ofensa a Deus, é um pecado que clama aos céus e que exige tomada de posição da Igreja. E compreendeu também que os esforços e as lutas por libertação das mais diversas formas de injustiça, opressão e dominação, sempre limitadas e ambíguas, são sinal da presença/ação salvífica de Deus neste mundo. A ação de Deus é sempre uma ação libertadora. A salvação de Deus vai acontecendo nos processos históricos de libertação.
E nesse esforço de compreender a realidade em seus aspectos conjunturais e estruturais, Pedro Ribeiro, cristão-sociólogo, tem uma importância fundamental em nossa caminhada eclesial. Um mestre que nos ajuda compreender o mundo em que vivemos, tanto no que tem injustiça, como no que tem de movimentos e processos de libertação. Isso é fundamental para o discernimento eclesial da realidade (pecado X salvação), bem como para a orientação da ação da Igreja na sociedade (diretrizes, ações).
Celebrando os 80 anos de Pedro, bendizemos a Deus por sua vida vivida como dom, por seu espírito/saber crítico e profético, por seu compromisso com os pobres e marginalizados, por sua amizade e proximidade, por sua fé lúcida e libertadora. Obrigado, Pedro, irmão, companheiro e mestre muito querido.