ColunistasFrei Marcos Sassatelli, op

O Ser humano histórico

Podcast Outro Papo de Igreja, do Serviço Teológico Pastoral

(Continuo a série de artigos sobre o Ser humano, abordando outro tema)

O Ser humano – por “ser-no-mundo” (“no-espaço” e “no-tempo”) “com-o-mundo” (o mundo material e vivente e os outros, e o Outro absoluto/Deus), ou seja, por “ser-no-mundo” conscientemente – percebe-se a si mesmo como um ser histórico.

“Os Seres humanos desenvolvem a consciência no interior do desenvolvimento histórico real” (Marx, K. e Engels, F. A Ideologia Alemã (I – Feuerbach). Hucitec, São Paulo, 19865, p. 44, nota*).

A dimensão da “historicidade” é constitutiva e própria do Ser humano. Ora – para o Ser humano – “ser-no-mundo” como ser histórico significa “ser-no-mundo” como “projeto” (tarefa) que se concretiza e realiza (historiciza) num “processo” contínuo. A “projetualidade” e a “processualidade” são características do Ser humano enquanto ser histórico (sujeito da história, que faz a história). 

A liberdade humana – uma exigência e, ao mesmo tempo, uma consequência da racionalidade – como possibilidade de escolha “situada” e “datada”, é uma componente determinante da historicidade.

Por “ser-no-mundo” historicamente, o Ser humano é sempre um “vir-a-ser”. O mundo – que no Ser humano se torna história – apresenta-se ao Ser humano como algo já dado (ser dado, realizado) e, ao mesmo tempo, como devir (ser ainda não dado, possível). 

A história do Ser humano (como projeto e como processo sempre inacabados) é sua existência e sua existência é, por assim dizer, sua essência

“O ser do Ser humano, que é movimento na história, nunca se acha realizado, mas vai se realizando, não está definitivamente dado, pois sua essência é um contínuo estar-sendo” (Caldera, A. Serrano. Filosofia e Crise. Pela Filosofia latino-americana. Vozes, Petrópolis, 1984, p. 42).

Portanto, “entendemos o ser do Ser humano como um fazer a história e como um fazer-se pela história. Neste sentido, a própria ontologia, o ser, se torna história. O ser do Ser humano acontece na história e pela história, e esta, por seu lado, só se realiza através do desenvolvimento do ser. Há entre o ser e a história uma unidade dialética (…)” (Ib., p. 44). A história não é a expressão externa do Ser humano, mas a sua própria manifestação. “O ser do Ser humano ao se manifestar o faz historicamente e o próprio ser é um manifestar-se na história” (Ib., p. 45).

Em síntese, a dimensão da “historicidade” comporta:

* O fato que o Ser humano se encontra situado numa tensão entre o passado já realizado por outros Seres humanos (a história passada: patrimônio cultural, em sentido amplo) e novas possibilidades futuras a serem realizadas, social e individualmente, pelos Seres humanos de hoje e de amanhã (a história presente e futura: a cultura que acontece e que irá acontecer, sempre em sentido amplo); 

* A consciência de que o Ser humano – pela sua racionalidade e liberdade “situadas” e “datadas” – pode intervir no devir histórico; 

* O assumir o mundo e a si mesmo no mundo como tarefa, sublinhando a responsabilidade, que o Ser humano tem – para com a história, sobretudo para com o futuro da humanidade (Cf. Gevaert, J. Il problema dell’Uomo. Introduzione all’Antropologia filosófica. Elle Di Ci, Torino, 19814, p. 185. Ver também: VAZ, H. C. de Lima. Ontologia e História. Duas Cidades, 1968, p. 267-280 (Cap. IX: Consciência e História). 

O Ser humano é, pois, totalmente histórico (história), mas a historicidade não é – como veremos – a totalidade do Ser humano (o Ser humano todo).  

(No próximo artigo começarei a refletir sobre o Ser humano histórico-social)

Compartilhando:

  1. Para uma visão mais abrangente e mais aprofundada do tema dos artigos sobre Ética (ou, Antropologia ética), leia o meu livro: Ética da Libertação: uma abordagem filosófico-teológica. Editora Lutas Anticapital, Marília – SP, 2023 (384 páginas).
  2. Se estiver, pois, interessado/a em refletir – teológica e pastoralmente – sobre a Igreja renovada e libertadora (com um enfoque ético-cristão), leia o meu livro: Eclesiologia da Libertação: reflexões teológico-pastorais. Editora: a mesma, 2022 (120 páginas).

Site: www.lutasanticapital.com.br/

E-mail: editora@lutasanticapital.com.br 

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