Por Francisco Orofino e Carlos Mesters
Existe um fio condutor entre as leituras da celebração deste domingo. Tudo pode ser resumido nesta frase de Jesus: a tranquilidade da vida humana não depende da segurança garantida pelos bens acumulados (Lc 12,15).
Leituras: Ecl 1,2; 2,21-23/ Sl 89(90)/ Cl 3,1-5.9-11/ Lc 12,13-21
A primeira leitura, tirada do livro do Eclesiastes, lembra que a vida é passageira. Este livro do AT tem um refrão: ilusão das ilusões, tudo é uma grande ilusão. O livro quer passar um grande recado: não devemos nos iludir nesta vida, acumulando coisas e bens que não podemos desfrutar. Para que se deixar guiar pela ganância e pela cobiça, em busca de uma segurança ilusória?
Nesta mesma linha de questionamento vai o Salmo de meditação. O salmista, numa elaborada oração de espiritualidade sapiencial, ressalta a brevidade e a fragilidade da vida humana diante da grandeza da criação de Deus. Diante da exuberante diversidade da natureza, a vida humana não passa de um sopro, ilusório e passageiro. O ser humano, no máximo, vive oitenta anos! O que torna esta vida humana mais curta, mesquinha e inútil, é que a maior parte do tempo da vida nós passamos em busca de uma segurança pessoal, acumulando bens e riquezas, vivendo entre erros e culpas, mergulhando na triste realidade do pecado da ganância e do egoísmo. Uma vida assim, corrompida pelo dinheiro, nada pode diante da justiça divina. Para o salmista, prolongar a vida humana seria prolongar as maldades e a ilusão de estar no controle de tudo.
No evangelho deste domingo Jesus é convidado a ser juiz numa disputa entre irmãos. Eles estão em conflito pelos bens deixados pelo pai deles. Jesus não aceita a provocação. Não quer ser juiz neste assunto. E faz um alerta: cuidado com a cobiça e a ganância! Acumular riquezas não garante segurança nem tranquilidade nesta vida. Para esclarecer seu ensinamento, Jesus conta então a parábola do homem rico.
Na parábola, Jesus apresenta um homem que, como bom administrador, conseguiu acumular uma grande riqueza. Animado com seu sucesso, ele planeja aumentar seu patrimônio, multiplicar a semeadura, ampliar seus celeiros e ficar cada vez mais rico. Mas toda aquela riqueza não consegue impedir sua morte prematura e inesperada. Justamente quando ele pensava que poderia viver em segurança, na tranquilidade da riqueza acumulada, teve um mal súbito e a morte chegou! Mergulhado em suas preocupações materiais, iludido pela segurança dada pelo dinheiro, acabou por perder seu bem mais precioso: a vida! O próprio Jesus nos dá a chave para entender a mensagem da parábola: “assim acontece com quem junta tesouros para si mesmo e não é rico para Deus” (Lc 12,21).