Irmã Tea Frigério, mmx

A Sinodalidade incluirá a Sororidade?

Podcast Outro Papo de Igreja, do Serviço Teológico Pastoral

A Sinodalidade incluirá a Sororidade? É a interrogação que brotou do profundo do meu ser mulher após participar da Pré-Assembleia Eclesial da América Latina e Caribe. Interrogação que foi se intensificando ao acompanhar os comentários que apareceram a seguir. 

Fiquei matutando, e o pensamento foi a um artigo que li recentemente e que confirmou em mim convicção e atitude: precisamos, a partir da base, exigir mudanças de paradigmas, entre eles o da linguagem. Talvez exigir não é o termo exato e sim começar da base, nas comunidades eclesiais de base, a assumir linguagens e atitudes que levem à conversão, à mudança, à sinodalidade.

Sororidade, o equivalente feminino da fraternidade, é um termo tão estranho ao vocabulário comum que os aplicativos de texto o assinalam como erro. Uma das razões pelas quais se considere inútil discutir sobre o termo sororidade está no fato que o mais usado termo fraternidade, incluiria homens e mulheres e, irmãos e irmãs, incluiria sororidade.

Encontramos o termo sororidade: latim-sororitas, inglês-sorority, francês-sororité, espanhol-sororidad, português-sororidade e, por existir nos vários idiomas significa que ele contém um sentido próprio e diferente do termo fraternidade. Comumente se considera fraternidade inclusivo, mas, na prática acaba por ser excludente. As mulheres, de fato, são portadoras de uma experiência, uma perspectiva, uma dignidade, um olhar que não podem ser subentendidas, incluídas ou resolvidas de um ponto de vista masculino considerado superior e inclusivo. As mulheres e as irmãs devem ser nomeadas e não subentendidas nos homens e nos irmãos, assim a sororidade deve ser explicitamente dita e não absorvida na fraternidade.

A igual dignidade entre homens e mulheres também deve ser afirmada em nível linguístico. É anacrônico hoje usar os termos fraternidade – irmãos, ignorando ou desconsiderando os termos sororidade – irmãs. 

Sororidade não é um duplo de fraternidade nem uma coqueteria feminista, motivada pela vontade de explicitar tudo também ao feminino. O termo nada mais faz do que explicitar o desejo de aderir à concretude da existência, sabendo que as mulheres não são de forma alguma homologáveis aos homens e que a diferença entre elas também marca a esfera existencial, emocional e espiritual.

Isso pressupõe uma Igreja de irmãos e irmãs em Cristo, onde a fraternidade e a sororidade constituem a sua dimensão profunda e, ao mesmo tempo, qualificam o estilo das relações entre as pessoas que fazem parte do Povo de Deus e entre estas, a da família humana.

Infelizmente sororidade está completamente ausente dos documentos, nos quais fraternidade aparece 26 vezes.

Redescobrir e valorizar o valor eclesiogenético da Igreja na dimensão da casa, inclusiva de mulheres, homens, jovens, crianças, adultos. Redescobrir a Igreja doméstica, da ekklesia kat’oikon de Atos 2,46 onde o pão se parte com alegria e simplicidade de coração ou At 5,42 onde não se deixa de ensinar e de anunciar a boa nova de que Jesus é o Cristo, talvez seja o único recurso para desenhar uma outra face da Igreja na crise que atravessam nossas comunidades, dentro das quais mais do que irmãos/irmãs somos estranhos e nos encontramos em um todo anônimo, habitudinal e distraído.

É nas casas que nasceu a comunidade cristã. É na casa que Jesus celebra a sua Páscoa. É a eklesia que se reúne nas casas que os discípulos e as discípulas do Crucificado Ressuscitado se reconhecem, uns aos outros, umas às outras, como frates (irmãos) e sororos (irmãs), membros da família de Deus. É na casa que o a Divina Ruah/Espírita irrompe como vento impetuoso sobre homens e mulheres dando origem à Igreja, família universal reunida. 

A mesma Divina Ruah/Espírita nos desafia a experimentar, ousar novas formas de ser Igreja, diversamente ligadas ao território, ousando linguagem nova e antiga, voltando a ser Laos, povo laical, povo de Deus. Novas células, reais lugares do acontecimento eclesial, espaços alternativos as formas existentes, não para deixá-las como são, mas para promover uma transformação radical e quem sabe substituí-las uma vez adquiridas autoridade e competência.

Presença da Divina Ruah/Espírita que fortalece a consciência profunda de que só começando de baixo, com gestos e atitudes que nascem da vida, na simplicidade e na pobreza de uma casa acolhedora, poderemos voltar a ser um sinal de respeito e de atenção. Mas para que isso aconteça, é necessário excluir definitivamente toda forma de clericalismo, toda forma de patriarcalismo, toda hierarcologia indevida. É necessário devolver a boa nova aos pobres, abrir-se à fraternidade, sororidade universal, abandonar toda discriminação de gênero.

Apenas comunidades laicais no sentido original do termo, em plena reciprocidade de homens e mulheres, incluindo carismas e ministérios, poderão conduzir a Igreja rumo a um presente e um futuro segundo o Evangelho. 

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