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Basta de má informação nos chamados meios católicos de comunicação

Podcast Outro Papo de Igreja, do Serviço Teológico Pastoral

Nós, presbíteros dos Grupos Padres da Caminhada e Padres Contra o Fascismo, de todos os Estados do Brasil, sentimo-nos no grave dever de apelar às autoridades da Igreja Católica Apostólica Romana para que proíbam a circulação de informações falsas ou deturpadas por parte de canais católicos de televisão.

Há tempos estamos sofrendo com essas inverdades que alguns canais católicos disseminam, confundindo sobretudo o povo simples de nossas comunidades, que os escutam como se estivessem ouvindo o próprio Deus. Sabemos que, na era da comunicação eletrônica e das redes sociais digitais, as instituições tradicionais perderam seu poder de influência e de respaldo à verdade. Qualquer líder religioso que se serve das redes para transmitir suas mensagens, tem garantida a difusão de sua fala em escala geométrica.

Vivemos hoje uma situação em que pessoas que possuem escasso conhecimento sobre um assunto acreditam saber mais que os outros consistentemente preparados. Isso faz com que tomem decisões equivocadas e cheguem a resultados indevidos. A incompetência restringe sua capacidade de reconhecer os próprios erros. Estas pessoas apostam numa superioridade ilusória. Desta forma, o poder mágico da telecomunicação empodera quem nela aparece, sobretudo se arroga para si o falar em nome de Deus, de Jesus Cristo ou da Igreja. Pessoas visivelmente despreparadas falam com tanta convicção e arrogância sobre assuntos que não conhecem, que acabam por transmitir uma opinião absurda como se fosse a mais pura verdade.

Em contrapartida, pessoas muito capacitadas podem diminuir sua autoconfiança e sofrer de inferioridade ilusória. Estas pessoas, acostumadas à vigilância e à autocrítica constantes, podem pensar que não são tão capacitadas e passam a subestimar as próprias habilidades. No limite, chegam a acreditar que pessoas menos capazes são tão ou mais capazes do que eles.

Há canais e pregadores que, valendo-se do título de católicos e arvorando-se a defensores da ortodoxia, passam por cima da autoridade dos bispos locais, não sintonizam com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e mantêm uma comunhão mais formal do que afetiva e efetiva com o Papa Francisco. Não há instância externa a eles que os regule, avalie e se lhes contraponha quando necessário. Podem causar um mal irreparável tanto na transmissão das verdades da fé quanto na formação da opinião pública, e muitas vezes formam, com aquele meio de comunicação uma comunidade de pertencimento, que funciona como um referencial absoluto de suas informações, ideias, valores, convicções, comportamentos pessoais e sociais.

Neste dramático tempo de pandemia, que já ceifou mais de 2.000.000 de vidas no mundo e mais de 212.000 no Brasil (nosso país, com 2,7% da população mundial, tem se mostrado responsável por 10% de óbitos por Covid-19 no planeta!) a Igreja Católica vem se colocando coerente e generosamente a serviço da vida. Basta ver as atitudes e os gestos do Papa Francisco e da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e da REPAM.

Por isso, é inadmissível que, na contramão, pregadores católicos despreparados, quando não ideologizados, minimizem as medidas sanitárias básicas, como o uso de máscaras, a higienização das mãos, o distanciamento social, e indisponham as pessoas contra a única medida capaz de debelar o vírus, que é a vacina, como, aliás, vem fazendo sistematicamente o Presidente da República, com sua política irresponsável e genocida. Que conhecimento científico têm esses senhores para desautorizarem um conhecimento tecnicamente comprovado? Suas opiniões transmitidas como se fossem oráculos causam um dano incalculável em pessoas simples de nossas comunidades que os ouvem.

O povo católico que segue estes canais não pode ser prejudicado por quem para eles representa o próprio Jesus Cristo, que não veio para enganar, “roubar, matar e destruir” (Jo 10,9), mas – segundo suas próprias palavras na sinagoga de Nazaré – veio para anunciar a Boa Notícia aos pobres, proclamar a liberdade aos prisioneiros, dar visão aos cegos, pôr em liberdade os oprimidos (cf. Lc 4, 18), para que “todos tenham vida e a tenham com abundância” (Jo 10, 10).

Precisamos dar um basta nisso, ou a Igreja Católica cairá num descrédito imenso, numa sociedade que já a escuta muito pouco. Esses canais provocam em muitos casos um desserviço à evangelização.

Padres da Caminhada e Padres Contra o Fascismo

21 de Janeiro de 2021.

 

 

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