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“Black Panther”

Por Isaack Mwamdindile

Podcast Outro Papo de Igreja, do Serviço Teológico Pastoral

Black panther” (pantera negra) é o filme do Marvel que, além, de arrebentar em todos os mercados internacionais, onde já estreou, contém muitas lições, sobretudo no campo da pastoral afro. Construir uma igreja ou política de inclusão como rosto negro, com uma liturgia inculturada, como forma de pensar e viver afro, é o caminho desejado pela pastoral. Inclusive no Brasil, o filme foi o mais visto em fevereiro de 2018, com uma renda superior a 30 milhões de reais. Como se não bastasse, “pantera negra” não só recebeu críticas excelentes, como também vem sendo saudado como um marco histórico do cinema. Afinal, trata-se de um super-herói negro, dirigido por Ryan Coogler, com um elenco quase todo negro.

Assistindo o filme, além de se divertir aprende que:

Está cada vez mais clara a importância de fortalecer os movimentos, engajamento, políticas, imaginação social e diversidade cultural. Tais como ampliar as cotas raciais nas universidades, o Estatuto da Igualdade Racial, reforma agraria com demarcação da terra indígenas/quilombolas. Haja vista o sucesso avassalador de Pantera Negra em quase todos os segmentos sociais. Menos entre os racistas.

A igreja é povo de Deus com diversas cores, sabores, cheiros e texturas. Por isso, no filme todas as ações/todas as pessoas, têm visão de uma libertação coletiva e integral. Construindo uma unidade na diversidade. Existe uma rejeição total de uma mentalidade intimista e, por outro lado, a ênfase de uma ética coletiva. Uma empatia revolucionária! Pois as diversas formas de ver o mundo são sacramento da grandiosidade da criação. A unidade não é conformidade, mas o respeito aos outros tantos possíveis mundos, também na forma de viver a fé. Os atores mostram uma preocupação e atenção pelo bem comum, serviço pelos os menos favorecidos, os últimos, que são sujeitos e destinatários primeiros do Evangelho de Jesus Cristo.

Em Wakanda, aprendemos sabedoria inter-geracional: existe uma interdependência entre os jovens e os idosos; os jovens (representados por T´challa) não estão “impacientes” com os velhos; e os idosos admiram as habilidades da nova geração. Nesse dialogo cultural, os idosos são uma biblioteca viva. Assim com diz o Papa Francisco: “Os idosos são a reserva sapiencial da nossa sociedade. A atenção pelos anciãos é aquilo que distingue uma civilização”.

Na visão dos Wakanda, há salvação para todos, por que Deus é um dom para a humanidade. No filme todo o diretor Ryan Coogler apresenta para o público que a redenção é possível para todos. Para Deus nada é impossível. Ou seja, entre nós não pode haver distinção diabólica, porque todos nós somos filhos de Deus. Assim, o mundo foi gerado com o atributo divino da misericórdia (huruma) e com o da justiça (haki).  È uma forma de equilíbrio ditado por Deus. Crer é fazer parte do mundo; assumindo as contradições e belezas presentes nela. Não somos apenas parte do mundo, ou melhor, de um mundo, mas dos mundos, dos tantos mundos que nos rodeiam.

FEMINISMO EM COMUM                                                            Na terra das Wakanda, as mulheres negras são guardiãs da liberdade. Estão na frente do barco como organizadoras e estrategistas, tal como Nakia, Okoye, e Shuri. Mostram a mulher como produtora/sujeito dos bens, beleza, e não apenas consumidora. Essas mulheres são reflexões do espírito de Wakanda. E como disse T’challa: “devemos escutá-las”. Mulheres, como homens, não são nomes genitivos, mas um projeto da história.

Por fim, o filme mostra que tudo é conectado e em web. Tudo é #ubuntu! Não estamos sós, nem solitários, mas solidários. Os ancestrais estão sempre conosco. Em Wakanda, os mortos e os vivos se casam no tempo e espaço. A dimensão da ancestralidade é muito forte. Jesus como proto-ancestral, analogicamente, se encaixa muito bem, sendo que Ele sofreu, morreu e ressuscitou para nos libertar dos pecados para uma vida fecunda e em abundância sem fim. A humanidade caminha não para um fim, mas para um início.  Entre os pontos fundamentais para pensar Jesus como ancestral está a sua universalidade; isso ajuda a superar o etnocentrismo, racismo e preconceitos.

Por Isaack Mwamdindile, Tanzaniano. È missionário do Instituto Missões Consolata. Graduado em teologia pela Pontifico Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

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