CEBs e os Mártires da Caminhada
“A fé se firma pelo testemunho dos mártires”. Pedro Casaldáliga
As Comunidades Eclesiais de Base têm como centro de sua espiritualidade a Palavra de Deus, na qual se inspiram para viver a dimensão fraterna, a missão profética e evangélica da opção preferencial pelos pobres e a promoção humana, nos meios urbanos e rurais. As CEBs é uma Igreja seguidora do mártir Jesus de Nazaré. Uma Igreja Lugar da Palavra de Deus e da partilha do pão. Uma Igreja dos pobres, Povo de Deus. Uma Igreja Pascal. Uma Igreja de encontro – vivência comunitária, de escuta, de oração. Uma Igreja da sinodalidade, portanto de Comunhão, de participação, de compaixão. Uma Igreja que Integra a Fé e Vida, assumindo as grandes lutas da democracia, da reforma política, da reforma urbana, da reforma agrária, da homologação das terras indígenas. Igreja que constrói a paz como fruto da justiça, na defesa da vida dos jovens, das crianças, das mulheres. Uma Igreja samaritana, missionária, ministerial, martirial, ecológica, solidária e ecumênica. Uma Igreja preocupada com a Formação Bíblica, Teológica, Sociológica, Pastoral, nas diversas instâncias.
Dom Moacyr Grechi nos diz: “As CEBs, célula inicial de estruturação eclesial” (Medellin, 15,10), “buscam ser comunidades enraizadas na prática histórica de Jesus de Nazaré, filho de Maria (Gal 4,4) e bebem do testemunho das primeiras comunidades cristãs (At 2,42-47; 4,32-35). Como Jesus, assumem a opção pelos pobres (Mt 9,35-36; Lc 4,14-30; Mt 11,2-6; Lc 7,18-23) e a partir deles anunciam o evangelho do Reino a todos, oferecendo a salvação como desejo de Deus Pai (1 Tim 1,4), colaborando na construção da fraternidade… Seguindo os passos de Jesus, as CEBs testemunham que a vida deve brilhar em primeiro lugar (Jo 10,10) e por sua causa, muitos e muitas foram até o martírio, para defendê-la em nome da Justiça do Reino”.
Por serem seguidoras do Evangelho e assumirem as causas do Mártir Jesus de Nazaré, podemos afirmar que as CEBs são cotidianamente marcadas pelo martírio, que vai acontecendo na vida do povo, por assumirem com Ele e com eles e elas, nossos Mártires, as causas da Justiça, da Paz, da Terra livre, da vida justa, da ecologia integral.
O martírio acontece ainda hoje porque existem pessoas que movidas pelo Espírito Santo, e revestidas com o senso de justiça, estão dispostas a ir dando a vida na defesa da Vida, denunciando as injustiças de um sistema social que não suporta vozes proféticas em favor daqueles que não tem voz, dos empobrecidos, dos marginalizados.
Nas CEBs espalhadas por este Brasil, na América Latina e Caribe, muitos de seus membros foram martirizados por assumir com Jesus a defesa da vida, anunciando o Reino diante do anti-reino, o Capitalismo neoliberal que devasta vidas a custa do lucro, do poder.
A nuvem de testemunhas só cresce a cada ano, e em nosso martirológico¹ podemos contemplar estes muitos militantes do Reino, homens e mulheres que no dia a dia das comunidades assumiram com a vida as causas do Reino e num compromisso radical de sangue e memória foram martirizados por acreditarem na Vida. Foram sendo profetas e profetisas do Reino, que diziam como Frei Tito: “é preferível morrer do que perder a vida”. Tanto no Brasil como na América Latina, estes mártires estavam intrinsicamente ligados a uma comunidade local, a uma CEB, podemos lembrar alguns: Santo Dias; Pe. Gabriel Maire, Dorcelina de Oliveira Folador, Raimundo “Gringo”, Sebastião Rosa da Paz, Vilmar de Castro, Monsenhor Romero, Lázaro Condor, Ir. Doroth Stang, Nossos Mártires.
Em todos os Intereclesiais a memória dos mártires da caminhada esteve presente e a partir do 9° Intereclesial foi assumido o compromisso de celebrar a memória dos mártires e seguir assumindo as suas causas, e a cada Intereclesial acontece a Celebração Martirial, evocando essa nuvem de testemunhas, homens e mulheres que estiveram firma na caminhada e fizeram a diferença nas CEBs.
Dom Pedro Casaldáliga enfatiza que “A CEB, por definição, é comunidade, igualmente fraterna, corresponsável, que partilha da mesa eucarística do Pão e da Palavra. Contra o egoísmo e o consumismo do capitalismo neoliberal. É a sobriedade partilhada, a pobreza evangélica, Igreja samaritana, libertadora, ecumênica, a IGREJA, outro modo de toda a Igreja ir sendo; sendo cada dia mais Reino, o Reino dos seguidores e seguidoras de Jesus de Nazaré, a Testemunha Fiel”.
Que sigamos sendo todos e todas testemunhas de testemunhas, herdeiros de suas causas, assumindo hoje, em todas as circunstâncias, essas Causas pelas quais tantos companheiros e companheiras vêm dando a vida pela Vida e que a memória subversiva de tantos mártires seja o alimento forte de nossa espiritualidade, da vitalidade de nossas comunidades, da dinâmica do movimento popular.
Antonio Carlos Pereira da Silva – Tonny
Irmandade dos Mártires da Caminhada