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Dom Vilsom Basso: “a Igreja tem que estar aberta ao diálogo, a aprender, a poder caminhar com as juventudes”

Podcast Outro Papo de Igreja, do Serviço Teológico Pastoral

Neste mês de outubro acontece em Roma o Sínodo da Juventude. Um dos padres sinodais é Dom Vilsom Basso, bispo de Imperatriz – MA, e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Juventude da Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB.

Dom Vilsom vê a juventude brasileira “aberta a uma proposta religiosa”, com uma “preocupação com a justiça social, os direitos humanos, as questões de ecologia”, uma juventude que “quer ser acolhida, escutada, quer espaço”. Por isso, o bispo de Imperatriz vê necessário “uma Igreja disposta a escutar o que os jovens tem a dizer, seus clamores, suas críticas”.

Como o senhor definiria a juventude brasileira?

Eu olho a juventude brasileira de vários aspectos. No aspecto eclesial ainda vejo uma juventude aberta, aberta a uma proposta religiosa, diferente de uma juventude européia e de outros grandes centros. A juventude do Brasil e da América Latina ainda é grandemente aberta à proposta de fé, religiosa, de Igreja. Por isso também de transformação.

O que a juventude brasileira poderia ensinar para a Igreja católica?

Vejo que a juventude brasileira, Pastoral da Juventude – PJ, Pastoral de Juventude do Meio Popular – PJMP, Pastoral da Juventude Rural – PJR, Pastoral da Juventude Estudantil – PJE, que se organiza na Igreja do Brasil desde os anos oitenta, é uma juventude muito presente, eclesialmente e especialmente sal e luz na sociedade, acompanhando todo movimento da Igreja na preocupação com a justiça social, os direitos humanos, as questões de ecologia.

Uma juventude muito presente e aberta, especialmente como o Papa Francisco diz agora, que quer uma juventude, quer uma geração inteira, vivendo a justiça social da Igreja. Uma boa parte da juventude da Igreja, ligada especialmente às Pastorais da Juventude, tem essa incidência social, a partir da fé e da experiência profunda com Jesus Cristo.

Nas suas reuniões com os jovens, na diocese, no regional, e como referencial da juventude na Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, quais são as demandas que os jovens colocam para a Igreja?

Acima de tudo de presença, de atenção, de espaço. A juventude, em grande parte, ainda é aberta a uma proposta de fé, de religiosidade, e espera da Igreja que ela esteja disposta a caminhar com ela, a escutá-la e eu diria uma Igreja que abre espaços, a juventude quer se encontrar. Se a Igreja não abre espaços, qualquer grupo será bom para que a juventude tenha relações. A Igreja tem que ser esse lugar onde a juventude possa se encontrar, possa estabelecer relações entre eles.

Uma juventude conectada, uma juventude que gosta de estar junto e com isso uma abertura a ali implantar as sementes do Reino. A nossa juventude é uma juventude que quer ser acolhida, escutada, quer espaço. Por isso mesmo vai propiciar oportunidades para a Igreja disseminar a boa noticia.

Para essa juventude que tem uma visão nova da vida, qual deveria ser a metodologia pastoral a ser seguida pela Igreja no processo de evangelização da juventude?

Eu diria que o que o Papa Francisco fala para o Sínodo da Juventude, como também para o Sínodo da Amazônia, é escutar, uma Igreja disposta a escutar o que os jovens têm a dizer, seus clamores, suas críticas. Me parece que é a maneira melhor que existe hoje, porque se chegar já ditando normas, dizendo é assim, é desse jeito, não há outro, então fecha caminhos de diálogo.

A juventude hoje é altamente conectada e a Igreja quer se contatar, quer estar com alguém. A Igreja deve ter essa capacidade de abertura à escuta, ao diálogo, à relação, a aprender, a ter coragem de ser criticada também pela juventude, e que ela possa mostrar caminhos. O Papa Francisco diz que a juventude é a janela do futuro. Eu digo que a juventude enxerga mais longe, ela apresenta novas tendências, caminhos. Vejo que a melhor maneira é a Igreja estar aberta ao diálogo, a aprender, e com isso poder caminhar com as juventudes.

O senhor fala sobre o Sínodo da Juventude, que já está próximo, qual é a reação que esse Sínodo está provocando na juventude brasileira?

É um processo, porque houve várias maneiras de participação. A primeira, no país e no mundo inteiro, foi o documento preparatório, com perguntas comuns e perguntas por continentes, referentes à juventude. Depois aconteceu um grande seminário internacional em setembro do ano passado em Roma. A partir daí houve um grande estímulo para que os jovens participassem diretamente, para quem não respondeu o questionário na sua diocese, nos seus grupos, pudesse enviar on line.

Foi a primeira vez que se abriu essa possibilidade de uma participação massiva dos jovens, o que eles sentem, esperam, pensam, sonham ou criticam da própria Igreja, enviado diretamente ao site do Vaticano específico para o Sínodo. Não bastasse isso, o Papa Francisco fez pela primeira vez uma reunião pre-sinodal, em março, com 300 jovens de todo o mundo, jovens católicos, não católicos, participantes ou não da Igreja, ateus inclusive. A Conferência Alemã enviou inclusive jovens ateus, e de fato foi levado em conta, porque tudo o que aconteceu naquela semana foi levado em conta para o instrumentum laboris, o documento de trabalho que nós, padres sinodais, que vamos ao Sínodo, temos ele em mãos.

Só que durante esse tempo ainda, só naquela semana o Papa se refere a mais de quinze mil jovens, que participaram ali diretamente, enviando sugestões. Houve uma grande participação do país e do mundo inteiro, e nós aqui no Brasil continuamos, nós andamos nos regionais do país, a comissão episcopal, estimulando a discussão sobre o Sínodo, aprofundando as questões. E agora, através do site Jovens Conectados, estamos criando maneiras digitais para que os jovens possam acompanhar até o Sínodo, viver os trinta dias do Sínodo em sintonia com o Sínodo em Roma e depois criando a expectativa do que virá, do que o Papa publicará. Estamos buscando de todas as maneiras fazer com que a juventude do Brasil esteja em expectativa e a Igreja toda esteja aberta ao que o Papa vai publicar a partir do Sínodo dos jovens.

Pelo trabalho que tem feito, o estudo do documento preparatório, o instrumentum laboris, e como padre sinodal, o que espera que o Papa publique nessa exortação post-sinodal?

O Papa Francisco é surpreendente. O que a gente escuta dele, quando ele já publica um livro, “Deus é jovem”, quando ele diz que a juventude é o coração da Igreja, uma linfa vital que se renova, quando ele dia que a juventude deve ser levada a serio, nossa expectativa é das melhores. Que venham de fato, do Papa Francisco, do Espírito Santo, de Deus, palavras certeiras, corajosas, inspiradoras, que de verdade a Igreja se abrindo, acolhendo a juventude, ela acaba acolhendo a própria renovação, ela acaba acolhendo a esperança de que há ainda muita coisa a ser feita.

A juventude, de verdade, é uma linfa vital, deve ser levada a serio e é uma grande esperança para o hoje e para o amanhã, da Igreja e da sociedade. Uma Igreja que tem uma juventude consciente, animada pela fé pode ser sal, luz, fermento na massa, na sociedade, transformando-a pelos valores do Evangelho.

Muitos jovens vêem no Papa Francisco um referencial, inclusive muitos dizem que ele é o cara, que é alguém que realmente vale a pena. Qual é a impressão que a juventude do Brasil tem, em geral, sobre o Papa Francisco?

Isso tudo gera uma responsabilidade ainda maior, porque no Papa Francisco eles olham para nós aqui presentes. Então isso exige de nós, responsáveis pelas juventudes, de toda a Igreja, uma autenticidade maior, uma coisa que aparece nessa preparação para o Sínodo. Os jovens dizem, queremos uma Igreja autêntica, transparente, verdadeira, comprometida. Isso eles vêem no Papa, isso esperam de nós, e se conseguirmos fazer essa conversão nossa como Igreja, abrindo espaços, então se abrem muitas possibilidades. A juventude de verdade, a gente acredita nesta força renovadora que a juventude é para a Igreja e para a sociedade, a partir de uma experiência com Jesus Cristo, o homem Deus que transforma suas vidas.

Além do seu trabalho acompanhando a juventude, o senhor é bispo na Amazônia e vai ter a sorte, ou a responsabilidade, de participar de dois sínodos como padre sinodal. O que o Sínodo da Amazônia pode trazer como novidade para a Igreja da Amazônia e para a Igreja universal?

Em primeiro lugar esperamos que mantenha em nós viva a esperança. É uma responsabilidade grande demais para nosso tamanho. Nós somos poucos para viver a luz, para olharmos, encontrarmos caminhos nesta realidade. Então, acima de tudo, que a preparação deste sínodo anime nossa esperança, nos mostre a verdadeira realidade, e que, pelo espírito de Deus e a reflexão sinodal, saiam propostas concretas para o futuro da Igreja na Amazônia e de uma ecologia integral, que preserve a vida, cuide das pessoas, e seja uma esperança para milhões de homens e mulheres nestas terras.

Foto: site da diocese de Tocantinópolis/2001

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