Campanha da FraternidadeColunistasPadre Francisco Aquino Júnior

Ecumenismo popular
Fraternidade e justiça social

Podcast Outro Papo de Igreja, do Serviço Teológico Pastoral

A Campanha da Fraternidade (CF) desse ano de 2021 tem como tema “Fraternidade e Diálogo: Compromisso de amor” e como lema “Cristo é nossa paz: Do que era dividido fez uma unidade”. E será uma campanha ecumênica, promovida por várias igrejas cristãs. Ela nos recorda que “a fraternidade e o diálogo são compromissos de amor porque Cristo fez uma unidade daquilo que era dividido”.

Essa CF acontece num momento trágico de nossa sociedade: em plena pandemia da Covid-19. Uma pandemia que escancarou e aprofundou a histórica pandemia da desigualdade social. E num contexto de polarização e intolerância na sociedade e desgoverno no país. Nossa geração nunca viveu uma situação como essa. Ela perpassa as relações familiares, afetivas, eclesiais, sociais e políticas e tem como eixo articulador ou válvula de escape o “ser a favor” ou “ser contra” o desgoverno brasileiro. É como se todos nossos preconceitos e sentimentos de raiva e ódio explodissem… No meio de uma situação de inimizade como essa, somos chamados à fraternidade e ao diálogo. A começar pelo diálogo e fraternidade entre os próprios cristãos e as igrejas cristãs.

Embora o ecumenismo tenha sido um dos “objetivos principais” do Concílio Vaticano II; embora o papa João Paulo II tenha insistido que “a procura da unidade dos cristãos não é um ato facultativo ou oportunista, mas uma exigência que dimana do próprio ser da comunidade cristã”; embora tenha havido muito diálogo e atividades comuns entre várias Igrejas cristãs e até se tenha chegado a acordos doutrinais importantes entre elas; o ecumenismo parece algo distante de nossas comunidades e, para muita gente, parece algo impossível. O mais comum entre as igrejas é se tratarem como inimigas e concorrentes. E a culpa, claro, sempre é do outro que não quer dialogar…

No entanto, apesar dessa postura negativa generalizada, há experiências e práticas importantes de convivência, diálogo e colaboração entres cristãos de diferentes igrejas. Não no nível das discussões doutrinais, mas no nível da convivência fraterna, da solidariedade e das lutas por direitos. Quem não teve ou conhece experiências desse tipo entre familiares, vizinhos, conhecidos, membros de movimentos e organizações populares? Essas experiências mostram como a fé, quando não é desvirtuada, faz-nos viver como irmãos e não como inimigos.

Aqui na Diocese de Limoeiro do Norte – CE, por exemplo, a Caritas diocesana tem vivido e promovido experiências intensas e fecundas nesse sentido. O trabalho com famílias camponeses (quintais produtivos, tecnologias sociais, casas de semente, feiras populares, intercâmbios, assembleias populares, ocupações etc.), com catadores de material reciclável e com ocupações urbanas tem reunido pessoas de diferentes igrejas, favorecendo a convivência fraterna e a lutas por direitos. Nesses encontros e nessas organizações, as pessoas discutem os problemas, organizam as lutas e rezam juntas. Os encontros sempre começam e/ou terminam com oração – sinal de que a verdadeira fé não cria inimizade, mas fraternidade. Parece inacreditável ver catadores/as das igrejas Católica, Universal, Deus é Amor, Assembleia de Deus rezando juntos; ou camponeses de diferentes Igrejas rezando juntos no Acampamento Zé Maria do Tomé ou nas articulações de economia popular solidária.

Infelizmente, isso não é o mais comum entre cristãos e igrejas. Mas é sinal de que a gente pode viver como irmãos: não “apesar da fé”, mas “por causa da fé”. É importante recordar que a fé, antes de ser confissão de doutrina e práticas religiosas, é adesão a Jesus Cristo e seu Evangelho que nos faz viver como filhos de Deus e irmãos uns dos outros. É um modo de vida que se concretiza na fraternidade com todos e no compromisso com os pobres e marginalizados. E é precisamente aqui que nasce, enraíza-se e se desenvolve o que chamamos de ecumenismo popular: na vida fraterna e na luta pela justiça social.

Em Jesus Cristo que é a nossa paz, que derrubando os murros da separação, fez uma unidade do que era dividido, busquemos e promovamos o diálogo e a colaboração entre cristãos de diferentes igrejas: vivendo a fraternidade e lutando por justiça social.

 

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