No último final de semana (dias 16 e 17 de fevereiro de 2019) nós da Colegiada Estadual das CEBs do Estado de São Paulo estivemos reunidos no Assentamento Reunidas, na Agrovila Campinas, no Município de Promissão-SP, onde estão as companheiras Lurdinha, Cidinha e Glorinha, companheiras do MST. Mulheres fortes, da luta e guerreiras na causa do Reino de Deus, assessoradas pelos Pe. Severino, a voz profética da Igreja dos pobres que ecoa nos acampamentos e assentamentos de mulheres e homens que lutam pela terra em todo Estado de São Paulo.
Estavam presentes 45 pessoas representando as oito sub-regiões pastorais do Estado de São Paulo.
Fizemos memórias da irmã Dorothy pelos 14 anos de sua Páscoa; dos mortos de Brumadinho e seus familiares, vítimas de um crime ambiental sem precedentes no Brasil; foi apontada a nossa omissão no passado, enquanto Igreja, na luta “a Vale é nossa”. Lembrou-se também dos meninos do Flamengo que sonhavam ser grandes jogadores de futebol e ganharem muito dinheiro, ser famosos, e foram mortos pelo próprio sistema que os alimentava; e de outros momentos da caminhada das CEBs locais, no Estado de São Paulo, no Brasil e na América Latina e Caribe.
Fizemos uma análise de conjuntura econômica, política, social e ideológica do momento atual da sociedade brasileira e refletimos sobre interesses e jogos econômicos que estão por trás da atual conjuntura; a perda dos direitos sociais, trabalhistas e previdenciários conquistados ao longo dos últimos 150 anos; que há uma mensagem ideológica muito forte alimentando todas essas ações políticas e entorpecendo as massas, cada vez mais passivas com o que ocorre na política. O discurso de ódio e o moralismo que toma conta do povo e legitima o governo para atuar como está atuando. Um certo silêncio e receio da Igreja em exercer sua missão profética, enfim.
Nos debates entre os presentes, entre outras falas, foram feitas algumas críticas ao PT, como, também, responsável pelo avanço da direita e a eleição do Bolsonaro. O partido não foi capaz de dialogar com movimentos sociais de classe média que foram às ruas em 2011 (o “Basta”) e em 2013 (“não me representa”), deixando oportunidade para que a direita ocupasse o espaço que tradicionalmente era das esquerdas, e cooptasse o discurso contra a corrupção, que antes era de homens e mulheres militantes em prol de uma sociedade justa e fraterna e igualitária.
O PT não é um partido das CEBs, embora em seus quadros tenha muitos companheiros e companheiras que são das fileiras cebianas. As Comunidades Eclesiais de Base são anteriores ao PT e, por isso são maiores que o Partido que é apenas parte.
Nossos desafios e compromissos tirados no 14º Intereclesial, nas últimas reuniões da Colegiada em Barrinha e Cananéia foram reorganizados em 5 eixos temáticos, quais sejam: a) reaprender de novo; b) luta ideológica; c) aliança com o povo; d) CEBs, presença nas bases; e) Igreja viva e atuante, e apontam 14 propostas de ação que se interligam e se completam e serão trabalhadas por todas as CEBs do Estado de São Paulo.
Temos como desafio imediato, a médio prazo, elaborar um projeto de ação com essas propostas e com o que temos acumulado nos últimos anos de estudo, reflexão e luta, a partir das bases representadas em nossos Sub-regionais e na Colegiada Estadual das CEBs.
Reafirmamos nossa Mensagem de que somos uma Igreja em saída, Samaritana, Martirial, Profética e Ecológica, a serviço da Justiça e da Paz, na construção de outro mundo possível e necessário. Uma Igreja toda ministerial, participativa e comunhão, na defesa da vida e da casa comum, no partir do pão e nas orações (Atos 2, 42-47), comprometida social e politicamente, forma sublime de caridade, engajada nos movimentos sociais e populares na luta do povo. Uma Igreja em Movimento, no protagonismo dos pobres e dos jovens, através do trabalho de base, com fermento nas massas.
ANTONIO SALUSTIANO FILHO, membro das CEBs do Estado de São Paulo. O presente artigo é de responsabilidade exclusiva do Autor.