Artigos e Entrevistas

Igreja católica em tempos de Pandemia – (ou a hora da solidariedade)
Por Celso Pinto Carias

Podcast Outro Papo de Igreja, do Serviço Teológico Pastoral

“Com efeito, como o corpo sem o sopro da vida é morto,

assim também é morta a fé sem obras.” (Tiago 2,26)

O trecho citado é o versículo final do capítulo 2 da carta de Tiago na Bíblia cristã – convido quem puder ler o capítulo todo – famoso pela frase “a fé sem obras é morta”. Muitas vezes este capítulo foi utilizado para disputas entre cristãos para saber o que é fundamental para salvação. Porém, ecumenicamente, sabemos que fé e obras não se excluem. Sabemos que a fé é uma condição fundamental para receber a ação amorosamente, e não terrivelmente, salvífica de Deus. A fé uma porta. Porém, esta porta precisa estar aberta, em quem diz tê-la, para amar a humanidade assim como Deus ama.

Neste momento no qual o mundo inteiro sofre sob a ação de um vírus que mesmo com um microscópio comum não se consegue ver, as pessoas de fé não podem ficar olhando apenas para o próprio umbigo.

Pelas mídias digitais temos visto muito convite à oração. Ótimo. Em outro artigo afirmei que rezar/orar é um gesto fundamental para entrar em comunhão com Deus. Mas Deus não atua na história nos tratando como marionetes. A graça de Deus age por dentro da história. Assim, estaremos durante a nossa vida sujeitos a viver as mais diversas experiências de dor, tristeza, e obviamente também de alegria, mas como parte de um itinerário que nos conduz, para quem afirma ter fé, a plenitude da vida. Tenho impressão, algumas vezes, que muita gente no cristianismo não acredita nisso.

Assim sendo, “Se um irmão ou uma irmã não tiverem o que vestir e lhes faltar o necessário para a subsistência de cada dia, e alguém dentre vós lhes disser: ‘Ide em paz, aquecei-vos e saciai-vos’, e não lhes der o necessário para a sua manutenção, que proveito haverá nisso?” (Tg 2, 14-16) Tipo: “estou rezando pelo fim da pandemia, mas descumpro todas as recomendações médicas e não estou não aí para quem estiver necessitado, que proveito haverá nisso?” É A HORA DA SOLIDARIEDADE.

Temos visto muitos gestos de solidariedade. Contudo, institucionalmente, a Igreja Católica, e as outras igrejas também, precisam se colocar com muita mais força na dinâmica de ajudar a SALVAR VIDAS. A CNBB, por exemplo, poderia fazer uma campanha nesta direção. Aqui em Duque de Caxias, por exemplo, um grupo de pessoas da Pastoral do Povo de Rua, tem se esforçado tremendamente para não deixar este povo sem comida. A pequena comunidade que participo, Batismo do Senhor, logo se prontificou a ajudar esta pastoral. Também um grupo de jovens de um coletivo que participo chamado “Movimenta Caxias”, tem ido aos lugares mais pobres oferecendo cestas básicas. O Movimenta Caxias não é um grupo de igreja.  Certamente aqui e em muitos outros lugares tem acontecido coisa semelhante.

Contudo, é preciso fazer um gesto mais contundente. Não basta rezar/orar e não estender as mãos. Evidente, que pelas características da pandemia, nossas mãos só poderão ser estendidas, predominantemente, virtualmente. Mas é possível conclamar para ajudar mais. A TV tem mostrado vários tipos de iniciativa solidária. É uma hora difícil. E o Brasil, por sua condição atual, corre um risco muito grande. Muita gente ainda não percebeu a gravidade do momento, e fica seguindo falsos profetas, sejam religiosos ou autoridades políticas. Certamente que a situação é complexa, com variantes em muitas direções. Mas o NOVO CORONA VÍRUS é real. A COVID-19 não é uma farsa. Quando em um país se morre mil pessoas por COVID-19, paralelamente também morrem milhares por outras razões. Mas é preciso compreender, definitivamente, que o colapso do sistema de saúde pode fazer uma morte que não aconteceria normalmente aconteça por falta de tratamento nos hospitais. A cidade de Guayaquil no Equador está vivendo um colapso neste momento, inclusive com cadáveres nas ruas.  É HORA DA SOLIDARIEDADE.

Celso Pinto Carias, “mendigo de Deus”

 

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