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Iser Assessoria promove seminário “Caminhos para uma Igreja em saída”

Podcast Outro Papo de Igreja, do Serviço Teológico Pastoral

Entre os dias 13 e 15 de abril de 2018, o Iser Assessoria promoveu o Seminário de Articuladores e Articuladoras de CEBs e das Pastorais Populares do RJ, em Arrozal, no Centro Pastoral da diocese de Barra do Piraí e Volta Redonda.  Com o objetivo de buscar enfrentar os Desafios para uma Igreja em Saída, conforme nos tem convidado o Papa Francisco. Apesar do tempo curto, o seminário conseguiu realizar uma reflexão madura e consistente. Estiveram reunidos 35 articuladores e articuladoras de CEBs de sete dioceses, de pastorais populares (Pastorais Sociais; Pastoral do Menor; Pastoral Afro; PJ; CEBI) e do movimento Fé e Política.

Os objetivos foram promover um intercâmbio de experiências, proporcionar uma reflexão conjunta sobre a conjuntura de igreja no estado do Rio de Janeiro, e fortalecer uma rede estadual de pessoas que estão em sintonia com a proposta de evangelização do papa Francisco: uma igreja em saída, pobre com os pobres, comprometida com os movimentos populares.

Desde novembro de 2016 um grupo de pessoas de diferentes dioceses vem se reunindo no Iser Assessoria para refletir sobre estas questões e tomou a iniciativa de promover este seminário.

Iniciamos os trabalhos na noite de sexta-feira com uma análise da conjuntura sociopolítica nacional, para compreender o contexto em que se desenvolve nossa ação pastoral. Ivo Lesbaupin contribuiu com uma exposição inicial, apontando os contornos do golpe que em 2016 afastou a presidente Dilma, as contra-reformas estabelecidas pelo governo Michel Temer, a ascensão de movimentos sociais à direita no espectro político brasileiro, a aliança entre os poderes legislativo, judiciário e a grande imprensa que consolidou no imaginário social a idéia de que a corrupção é o maior problema do país, e a farsa de um processo que culminou com a condenação e prisão de Lula há poucos dias. Após a exposição seguiu-se um debate em torno do que nos cabe fazer diante disso e as perspectivas para além do processo eleitoral de 2018.

Na manhã de sábado foi feito um diagnóstico participativo sobre a conjuntura eclesial no estado, que foi concluído por Jorge Alexandre Alves, que nos ajudou a entender o contexto religioso mais amplo tendo como chave a noção pós-conciliar de Igreja Povo de Deus, suas contradições internas e externas. Também nos ajudou a compreender os sinais de ultraconservadorismo e fundamentalismo presentes nos meios católicos. Ainda pela manhã Francisco Orofino expôs a proposta do papa Francisco, de uma Igreja em Saída, a partir de seu programa na Evangelii Gaudium. O assunto foi abordado numa perspectiva processual, inspirada no desenvolvimento do magistério que a igreja da América Latina fez na recepção do Concílio Vaticano II. Mostrou-nos que uma igreja em saída deveria recuperar a mobilidade original, inspirada na experiência de Jesus junto aos pescadores. Nos cinco anos de seu pontificado, Francisco tem estabelecido um programa de revitalização do Vaticano II a partir dos eixos fundamentais do Concílio: (a) Descolonização, rompendo com a identificação entre a Igreja Católica e a civilização ocidental cristã, cujo indício maior é a universalização do Colégio dos Cardeais, com membros de países periféricos todos os continentes; (b) Descentralização, com realização de Sínodos para a descoberta de caminhos convergentes, que enfrenta a centralização da Cúria Romana; e (c) Desclericalização, reforçando concepção de Igreja como Povo de Deus e o protagonismo laical, para a qual instrumentos fundamentais são os círculos bíblicos – que favorece aos leigos e leigas o acesso à fonte primeira da Revelação; os conselhos pastorais – para exercício da comunhão e participação, e as Comunidades Eclesiais de Base.

A tarde de sábado foi dedicada à discussão em três grupos temáticos. Cada um deles contou com a animação de participantes do seminário: superação da violência (Douglas de Almeida), ministérios leigos (Umbelina Oliveira) e juventudes e mídias (Leandro Galdino, Nixon Marques e Quininha Fernandes), em que os participantes conversaram os desafios em cada um desses temas e formularam algumas pistas indicativas para o trabalho pastoral no estado do Rio de Janeiro nestes âmbitos. O dia terminou com um animado sarau de confraternização.

No domingo iniciamos o dia com a celebração da missa, onde partilhamos o pão da Palavra e da Eucaristia. Em seguida foi feita a memória do dia anterior com a colaboração de Diestéfano Sant’Ana. Em seguida houve um debate sobre os desafios e as perspectivas de ser Igreja em Saída no estado do Rio de Janeiro. Solange Rodrigues e Celso Carias deram início a esta conversa, a partir de elementos que foram levantados ao longo do seminário. Ambos deram ênfase aos aspectos metodológicos envolvidos neste processo eclesial. Por fim o grupo dialogou sobre os desdobramentos deste seminário e foram levantadas sugestões para a continuidade do fortalecimento desta rede de pessoas comprometidas com a proposta de uma Igreja em Saída.

O desafio de ser Igreja no mundo de hoje é grande. E o interior da realidade eclesial também reflete as ambiguidades que perpassam pela vida social em nossos dias. Por isso, foi necessário verificar, tanto a conjuntura social quanto a conjuntura eclesial. A tendência em produzir respostas rápidas aos desafios é grande, correndo o risco, por conta da crise aguda instalada, de recorrer a respostas autoritárias tanto na sociedade quanto na Igreja.

Por outro lado, vivemos hoje um momento da Graça com o ministério do Papa Francisco. Com uma profunda sensibilidade pastoral, ele tem nos indicado um caminho no qual se une o novo e a grande tradição com muito espírito evangélico. No seminário foi possível identificar o quanto as indicações de Francisco apontam para uma Igreja capaz de ser realmente Católica, isto é, Universal, no contexto do mundo de hoje. Um modelo de Igreja poliédrica, capaz de refletir em suas várias faces o rosto de cada cultura na qual ela se encarna.

Apesar do trabalho árduo, o seminário produziu grande animação nos que estavam presente, sabendo que não existem respostas prontas ou fáceis, mas que estrategicamente, como pobres que somos, podemos sim contribuir com o Papa naquilo que ele tem nos proposto enquanto uma IGREJA EM SAÍDA.

Contribuições para o texto: Solange Rodrigues e Orofino/Iser Assessoria e Celso Carias/Assessor da Ampliada Nacional das CEBs.

Fotografia: Portal das CEBs e participantes do seminário.

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