Por Luis Miguel Modino
O Sínodo para a Amazônia vai se definindo, algo que se manifesta sobretudo no documento em que estão relacionados os debates dos chamados círculos menores. É claro que não foi a única coisa que foi feita até agora, mas podemos dizer que é um primeiro (e forte) impulso para o documento final, que não esquecemos que pode ser importante na exortação pós-sinodal.
No final da segunda semana, podemos dizer que o medo definitivamente saiu da aula sinodal e que o Espírito de Deus, que sempre sopra preferencialmente nos pequenos, entrou fortemente pela voz dos povos indígenas e mulheres Gradualmente, o desejo do Papa Francisco, expresso no discurso inaugural, está se realizando, embora ele sempre insista em algo mais, porque, como dizem alguns dos presentes na aula, Francisco é quem mais puxa a corda.
A sinodalidade quer ser assumida como a maneira de realizar uma Igreja com rosto amazônico, que escuta da presença e da proximidade, que quer passar de uma Igreja mestra para uma Igreja discípula, uma Igreja missionária que defende a vida e transforma a sociedade. Uma Igreja que deseja construir com base na ministerialidade e espera que todas as comunidades, privadas, sem poder celebrar a Eucaristia por muitos meses, até anos, possam ter ministros locais, homens reconhecidos por sua comunidade, independentemente de serem casados. Uma ministerialidade da qual as mulheres devem poder participar, elas são as verdadeiras cuidadoras das comunidades da região, se falando de diaconato feminino, um ponto em que há controvérsia. É importante lembrar que, na Igreja da Amazônia, o papel dos leigos é apresentado como primordial e decisivo para o futuro, por isso se insistiu em investir nos leigos e acompanhá-los.
Os círculos menores insistiram em cuidar da formação, baseada na realidade, em uma dimensão ecológica intercultural e integral, que deve estar presente nos planos pastorais, também nos das conferências episcopais, promovendo práticas sustentáveis e desenvolvimento alternativo, com base na sabedoria dos povos, cuidadores seculares de uma região que o chamado desenvolvimento destruiu.
O acompanhamento dos povos indígenas em suas lutas pela defesa de territórios e direitos deve ser uma atitude cada vez mais presente na Igreja da Amazônia, que deve levá-los a viver uma missão inculturada, a buscar políticas públicas em defesa dos direitos dos povos, protegendo os mais vulneráveis, que hoje são os povos em isolamento voluntário.
Numa região cada vez mais urbanizada, 80% da população vive nas cidades, a Igreja deve acompanhar os migrantes, com um cuidado pastoral que responde à violência. É uma Igreja preocupada com os direitos humanos, que não são respeitados, como evidenciado pela violência contra as mulheres, contra os povos indígenas ou o tráfico de pessoas. Nesse sentido, uma proposta é criar um observatório Pan-Amazônico para defender direitos.
No nível religioso, o diálogo ecumênico foi discutido, não devemos esquecer que há representantes de outras igrejas na assembleia, a piedade popular, cujas expressões devem ser respeitadas e valorizadas, falando de um rito amazônico, que resgata os líderes espirituais dos povos. Essa é a expressão de um dos elementos em que há mais consenso, que é inculturação, interculturalidade e diálogo intercultural, uma atitude que ajuda a reconhecer a diversidade de povos e culturas e que Deus manifesta em todos eles. Isso requer um trabalho missionário baseado no diálogo, conhecimento e evangelização em relação a essas expressões e culturas. Para isso, é necessária uma presença permanente para reconhecer valores espirituais, o aprendizado de línguas indígenas e uma liturgia adequada.
Os participantes da assembleia sinodal abordaram outras questões, como a comunicação, que ajude a disseminar, informar, anunciar e denunciar, gerando espaços de comunicação típicos dos povos indígenas, que tornam visível a realidade da Amazônia, também situações de injustiça e violência. Fala-se em cooperação missionária, itinerania, igrejas irmãs ou ação pastoral conjunta. A vida religiosa é desafiada a permanecer em locais de missão, a um trabalho itinerante e intercongregacional. É necessário acompanhar os jovens e ver formas de apoio econômico.
Nas propostas da assembleia sinodal são percebidos muitos elementos do Vaticano II, que por muito tempo foram deixados em segundo plano ou mesmo rejeitados e banidos. Dar vida às propostas conciliares sempre foi um dos sonhos e desafios do Papa Francisco, que vê uma luz a seguir nesses novos caminhos que estão sendo projetados no Sínodo para a Amazônia. O cumprimento deles é uma coisa do futuro, do estágio pós-sinodal, que muitos definem como o mais importante. Portanto, nada deve ser deixado de lado, sendo sugerida uma nova estrutura, um organismo que ajude a organizar e estruturar uma resposta institucional às propostas do Sínodo, a partir de uma ação pastoral em rede. É um tempo de esperança, é um kairos.