ColunistasSergio Coutinho

Padres comunitários e a experiência das CEBs no Brasil: o olhar de Fritz Lobinger (final)

Podcast Outro Papo de Igreja, do Serviço Teológico Pastoral

Finalizando nossa série de três colunas que tratam da proposta do bispo D. Fritz Lobinger sobre a ordenação de “padres comunitários” para atender às milhares de comunidades sem eucaristia, vejamos a experiência que ele teve com uma paróquia organizada em rede de CEBs no Brasil.

Observando uma paróquia de periferia de uma grande cidade brasileira, D. Fritz Lobinger visualizava as grandes possibilidades de eficácia de sua proposta de ordenação de “padres comunitários”. Na descrição que fez desta paróquia brasileira, percebe-se nitidamente que a mesma estava organizada numa rede de CEBs. E isto fazia, na opinião dele, ser uma paróquia madura para a implantação do seu projeto eclesial.

Havia naquela paróquia entre 50.000 e 100.000 católicos, e havia dois padres. A paróquia se estendia territorialmente por ampla região na qual se encontravam 14 capelas construídas. Diante disso, Lobinger constatou: “portanto, parece antes um agrupamento de 14 comunidades e não uma só paróquia”. É neste sentido que nós entendemos uma “paróquia” no Brasil: formado por um conjunto de Comunidades Eclesiais de Base (CEB), incluindo a comunidade da “Igreja matriz”. Por isso, a CEB é “base” da estrutura paroquial.

Ainda segundo a observação de Lobinger, cada uma das 14 comunidades tinha seu Conselho Comunitário e, sobretudo, suas equipes de lideranças. A mais importante de tais equipes era aquela que dirigia as liturgias semanais, pois dirigia a Liturgia da Palavra em três domingos por mês, já que era somente uma vez por mês que algum padre podia celebrar ali a Eucaristia.

As capelas não eram grandes, segundo ele, porque embora a maior parte da população fosse católica, pouca gente assistia à missa aos domingos. Havia também outros serviços oficiais em cada comunidade: havia vários membros bem preparados para batizar por causa do grande número de Batismos, não apenas os de emergência; havia os que distribuíam a Comunhão; os que conduziam Funerais; e também ministros oficiais do Matrimônio. Além desses, havia naturalmente muitos outros que davam Catequese ou que cuidavam dos doentes ou do trato das finanças, da saúde, e um grupo especial para lidar com problemas da justiça e do desenvolvimento.

Toda essa gente recebia, segundo observação de Lobinger, regularmente, e sempre, uma formação. Era uma extensa rede de liturgias, planejamentos, encontros de formação, reuniões entre vizinhos e de oração, e os dois padres estavam no centro de tudo. Havia sempre à venda uma mesa cheia de folhetos (não de livros) do lado de fora das capelas. Os folhetos eram sobre a Bíblia e sobre muitas tarefas para as quais os líderes estavam sendo formados. Tudo o que tinha sido observado era o resultado de muitos anos de formação de líderes e de colaboradores paroquiais.

Vejam, como costumo explicar didaticamente as características das CEBs, a presença dos 5 “C’s” observados por Lobinger: Celebração (Palavra e/ou Eucarística), Conselho Comunitário, Círculo Bíblico, Catequese e Compromisso sociotransformador.

E Lobinger exclamou animadamente vendo as grandes possibilidades de concretização de sua proposta numa paróquia como esta: “Como tudo mudaria, se os bispos, no mundo inteiro, resolvessem admitir ao sacerdócio líderes comunitários comprovados!

Na realidade, segundo ele, não mudaria muita coisa. A Eucaristia, então, poderia naturalmente ser celebrada todo Domingo em cada uma das quatorze capelas. Em lugar de discutir se tal ou tal função é “leiga” ou não, a liturgia e os sacramentos poderiam agora ser celebrados por pessoas claramente autorizadas. Fora disso, porém, não mudaria grande coisa. Todo o mundo estaria feliz com o melhoramento, e todos os fiéis diriam que assim devia ter sido feito há muito tempo.

E o que diriam os dois padres diocesanos? Será que eles se sentiriam inúteis? Para Lobinger, eles achariam ridículo alguém pensar assim. Não seriam dispensáveis de forma alguma quando os primeiros cinquenta presbíteros fossem ordenados naquela imensa paróquia, os dois se sentiriam até mais necessários do que antes. No primeiro lugar da sua já carregada lista de eventos, haveria agora mais um grupo para treinar. Algo novo e mais profundo se esperaria deles a partir daquele momento.

Faço minhas as palavras de D. Fritz Lobinger: “Ah! Como tudo mudaria, se os bispos, no mundo inteiro, resolvessem admitir ao sacerdócio líderes comunitários comprovados!

Sem dúvida nenhuma: uma Outra Igreja é Possível!

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