A evangelização do mundo urbano tem se tornado um desafio para a Igreja do Brasil. A própria Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) tem discutido nos últimos tempos essa problemática, apontada em 2014 pelas comunidades eclesiais de base (CEBs) ao escolher essa temática como elemento de reflexão do 14º Intereclesial das CEBs, que vai acontecer em Londrina, de 23 a 27 de janeiro de 2018.
Para preparar esse momento, estão acontecendo encontros ao longo do país, em diferentes níveis, desde pequenas reuniões nas comunidades a encontros onde a representatividade é maior. Neste ano, o ISER Assessoria e a Comissão Episcopal Pastoral para o Laicato da CNBB, realizou cinco seminários de estudo e reflexão, reunindo assessores e assessoras das CEBs, para discutir sobre “As CEBs e os desafios de ser Igreja no Mundo Urbano”.
Neste final de semana, de 17 a 19 de novembro, as comunidades eclesiais de base da Região Norte se encontraram em Brasilia, para um intercâmbio de saberes. As CEBs da Amazônia constatam que a Igreja não tem conseguido acompanhar o crescimento das cidades, realidade que se repete em outras latitudes do país e do planeta.
Não podemos esquecer a situação pela qual o Brasil está passando, marcada pela retirada de direitos sociais, que atinge sobretudo a quem vive nas periferias. Diante de um governo que rasgou a Constituição, como reconhecia Ernane Pinheiro, Assessor Político da CNBB, em análise de conjuntura apresentada neste seminário, muitas vozes reclamam uma articulação de resistência, nascida da base da sociedade, pois ninguém pode esquecer que as mudanças que permanecem são aquelas que nascem dos últimos, dos mais pobres, que como nos lembra o Papa Francisco na Mensagem para a I Jornada Mundial dos Pobres, celebrada neste 19 de novembro, na qual os apresenta como “mestres que nos ajudam a viver a fé de maneira mais coerente”.
A presença da Igreja nas periferias das cidades é muito limitada e aí as CEBs, que nasceram e sempre viveram nos limites da sociedade e da Igreja, têm um papel de destaque, que pode ajudar a superar o distanciamento entre a instituição eclesial e o povo, com uma atitude de proximidade, que leve a Igreja a ser presença profética nos lugares onde se vive aquilo que é cotidiano aos homens e mulheres de hoje, a ser “Uma Igreja em saída, samaritana, para encontrar o Deus que habita na cidade e nos pobres”, como nos lembra o Bispo de Roma.
A referência para viver desse jeito não pode ser outra fora do próprio Jesus de Nazaré, que rezava, se fazia presente no Templo e na sinagoga, mas dedicava a maior parte do seu tempo a caminhar com o povo, a estar no meio de quem vivia nas periferias ou inclusive fora da sociedade.
Esse modo de ser Igreja que as comunidades eclesiais de base tentam fazer realidade nasceu no Vaticano II. Depois de um tempo de inverno eclesial, a chegada do Papa Francisco trás um novo impulso para essa forma de ser Igreja, plasmado na Evangelii Gaudium, onde aparece o programa do pontificado do Papa Bergoglio.
Sergio Coutinho mostrou no seminário algumas indicações que as CEBs podem encontrar na Evangelii Gaudium para a evangelização do mundo urbano. Coutinho destaca que a Evangelii Gaudium não pode ser entendida sem a Gaudium et Spes, que há cinqüenta anos atrás insistia em que a Igreja não pode ser afastada do mundo, pois a Igreja só vai ser um sinal e um sacramento para o mundo se o mundo for um sinal e um sacramento para a Igreja.
O Seminário serviu para recordar que é preciso viver a partir de uma perspectiva que nos conduza a ampliar nossa visão, “de ser sal, luz e fermento, de viver a partir de uma lógica dialogal”, como lembrava o Assessor Nacional das CEBs, Celso Carias, a reconhecer que “as CEBs representam uma vida nos limites da vida eclesial para ser memória viva do que é ser cristão”, segundo a Assessora Nacional das CEBs, Tea Frigerio.
As CEBs são desafiadas a discutir sobre temáticas que tradicionalmente têm sido relegadas dentro da reflexão eclesial. Por isso, o seminário foi momento para discutir e oferecer pistas que ajudem dentro do processo evangelizador, a partir das temáticas da comunicação, as juventudes, a ecologia, as questões de gênero e os ministérios laicais.
Nunca esqueçamos as palavras do Papa Francisco, que na Evangelii Gaudium nos lembra que “os discípulos do Senhor são chamados a viver como comunidade que seja sal da terra e luz do mundo (cf. Mt 5, 13-16). São chamados a testemunhar, de forma sempre nova, uma pertença evangelizadora. Não deixemos que nos roubem a comunidade!”. Plantemos sementes de esperança que ajudem a fazer realidade o Reino de Deus.