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Um presidente e um governo federal genocidas
Por Frei Marcos Sassatelli

Podcast Outro Papo de Igreja, do Serviço Teológico Pastoral

No dia 26 de fevereiro passado, em visita ao município de Caucaia na Região Metropolitana de Fortaleza (CE), o presidente Bolsonaro afirmou: “A pandemia nos atrapalhou bastante, mas nós venceremos este mal, pode ter certeza. Agora, o que o povo mais pede, e eu tenho visto em especial no Ceará, é para trabalhar. Essa politicalha do ‘fica em casa, a economia a gente vê depois’ não deu certo e não vai dar certo. Não podemos dissociar a questão do vírus e do desemprego”.

E ainda: “São dois problemas que devemos tratar de forma simultânea e com a mesma responsabilidade. E o povo assim o quer. O auxílio emergencial vem por mais alguns meses e, daqui para frente, o governador que fechar seu estado, o governador que destrói emprego, ele é quem deve bancar o auxílio emergencial. Não pode continuar fazendo política e jogar para o colo do Presidente da República essa responsabilidade”.

Com suas palavras e comportamentos, o presidente revela-se um homem de uma insensibilidade e crueldade diabólicas. Não só desrespeita publicamente as medidas básicas de proteção contra a Covid-19, como a máscara, o distanciamento e a higienização das mãos, mas também ridiculariza acintosamente as orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS) e dos cientistas, incentivando o povo a fazer o mesmo. O presidente demostra fria e cinicamente que – para ele – a vida dos pobres, sobretudo idosos/as, não tem valor nenhum. Sua morte – bem representada na charge de Jorge Braga – “vai ser um alívio para a Previdência” (O Popular, 25/02/21, p. 2).

Se o presidente se importasse com a vida dos pobres – por se tratar de calamidade pública – teria cobrado com urgência, através de medida provisória, uma “taxa especial” dos que possuem grandes fortunas para elaborar um projeto político sério e realmente eficaz de combate à pandemia da Covid-19. Infelizmente, para Bolsonaro e seu governo, a única coisa que importa – e que não pode parar de crescer – é o lucro dos ricos, obtido com a exploração e o descarte dos trabalhadores/as.

Um ano após registrar o primeiro caso em seu território, o Brasil é o segundo país do mundo em números absolutos de mortes, com mais de 251.500. No total, o Brasil tem cerca de 10,3 milhões de infectados. Nesses dias, o país atingiu o recorde de 1.726 mortes por Covid-19 em 24 horas.

Segundo o depoimento de pessoas que trabalham na Saúde, a maioria dessas mortes podia ter sido evitada. O principal responsável por elas é o presidente Bolsonaro, um criminoso que – se houvesse justiça – deveria ser preso, processado e condenado.

Infelizmente, essa trágica situação – ao menos por enquanto – torna-se cada vez mais grave por duas razões: em primeiro lugar, pela omissão conivente e criminosa do Legislativo e do Judiciário diante de um governo federal claramente genocida; em segundo lugar, pela “legitimação religiosa” desse mesmo governo por parte dos “anticristos” de hoje (tanto da Igreja Católica como das Igrejas Evangélicas).

Esses “anticristos” andam por aí de batina e colarinho branco ou com a Bíblia debaixo dos braços, pregando um evangelho que não tem nada a ver com a Boa Notícia de Jesus de Nazaré; “abençoando” um governo, que – como diz o papa Francisco – “exclui, degrada e mata”; e até (pasmem!) apoiando a compra de armas pela população.

Para ficar “dentro de casa”, ouvir – por exemplo – a pregação de “padre” Paulo Ricardo e ver o seu comportamento é assustador e deixa qualquer pessoa com um mínimo de bom senso profundamente indignada. É uma vergonha para a Igreja Católica! Pena que a Igreja seja omissa e não tome as providências cabíveis. “Padre” Paulo é um “anticristo” de batina, que – hipócrita e oportunisticamente – “legitima e abençoa” o comportamento dos “diabos” de hoje – comandados por um presidente também diabólico – que se aproveitam de seus cargos públicos para – fria, cínica e sadicamente – matar os pobres, a grande maioria do nosso povo.

No primeiro Domingo da Quaresma deste ano – na alocução que precede a oração mariana do “Angelus” – o Papa Francisco, refletindo sobre o Evangelho do dia (Mc 1,12-15) afirma: “Na sua vida, Jesus nunca teve um diálogo com o diabo, nunca. Ou o afasta dos possuídos ou o condena ou mostra a sua malícia, mas nunca um diálogo (…). Coloquem isso na cabeça e no coração: com o diabo nunca se dialoga, não há diálogo possível. Somente a Palavra de Deus”.

Que Jesus nos dê a graça de nunca dialogarmos com os “diabos” de hoje – e os “anticristos” que os apoiam – mas de combatê-los com toda força e perseverança, certos da vitória. “Neste mundo vocês terão aflições, mas tenham coragem: Eu venci o mundo” (Jo 16,33): o mundo do mal.

Marcos Sassatelli, Frade dominicano

Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção – SP)

Professor aposentado de Filosofia da UFG

E-mail: mpsassatelli@uol.com.br

Goiânia, 03 de março de 2021

 

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