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“A Amazônia não precisa ser conquistada, nem desbravada, precisa ser respeitada,” afirma Dom Evaristo Spengler em Seminário sobre o Sínodo

Por Luis Miguel Modino

Podcast Outro Papo de Igreja, do Serviço Teológico Pastoral

Dentro do Seminário “Rumo ao Sínodo especial para a Amazônia: dimensão regional e universal”, que está sendo celebrado no Vaticano, de 25 a 27 de janeiro, o bispo da Prelazia do Marajó, Dom Evaristo Pascoal Spengler, pronunciou uma palestra onde abordou o tema, “Ecologia, Economia e Política”.

Em sua intervenção, começava reconhecendo a ligação entre a política e uma “economia que mata”, expressão que aparece em Evangelii Gaudium, 53, o que segundo o bispo, faz com que hoje vivamos em “uma sociedade dominada pelo mercado”, onde “tudo virou mercadoria”, onde “tudo pode ser levado ao mercado”, que “transformou o planeta Terra num grande mercado”.

A consequência disso é a injustiça social e ecológica, que instaurou uma “economia de acumulação desenfreada”, que segundo Dom Evaristo, “beneficia os mais ricos em detrimento dos mais pobres”. Segundo o bispo, seguindo as palavras do Papa Francisco em Laudato Sí, se fazem necessários “novos estilos de vida e novas formas de consumo, de sobriedade compartilhada”, com “um paradigma de desenvolvimento alternativo ao atual”, que “deverá considerar o meio ambiente como um bem coletivo”.

O bispo do Marajó, desde uma visão histórica da Amazônia, denunciou que tradicionalmente “o colonialismo extrativista teve fortes incidências sobre povos autóctones e bens naturais mediante uma injusta expropriação”. De fato, ele disse que “trata-se a Amazônia como se fosse o celeiro do mundo, onde se pode retirar ou produzir o que quiser”, o que segundo ele não é verdade, pois “a Amazônia é um bioma frágil que tem seus próprios mecanismos internos de sobrevivência e resistência”.

Hoje na Amazônia vigoram dois modelos de desenvolvimento, segundo Dom Spengler, um predatório e outro socioambiental, claramente enfrentados e que tem provocado morte, como aconteceu com Chico Mendes, quem foi definido pelo bispo como “o mártir por defender a floresta”, ou a Ir. Dorothy Stang.

Uma das consequências do modelo predatório, é a “violência sexual contra crianças e adolescentes, sobretudo nas áreas dos grandes projetos econômicos presentes na região”, reconhecia o bispo do Marajó, pedindo ao Sínodo para a Amazônia “um olhar especial e misericordioso para a problemática”.

Fora de modelos que tentam se instalar na região, “a Amazônia não precisa ser conquistada, nem desbravada, precisa ser respeitada. O sistema amazônico não funciona nos moldes de competição, funciona nos moldes de cooperação”, destacando a necessidade de “conviver com a Amazônia”, fomentando uma política “ao serviço da boa convivência social e da boa convencia ambiental”, e não “a serviço da economia”, uma dimensão que pode ser aprendida com as populações tradicionais da Amazônia, mestres em interagir com o seu meio, que vem nossa casa comum “como algo vivo, um sujeito, parte da comunidade que deve ser respeitada”.

Dom Evaristo diz ter perdido a confiança na política vigente, “submissa e serviçal ao grande capital e aos megaprojetos”, que atua “sem ética e sem escrúpulos”. Por isso, se faz necessário escutar os cientistas que chegam a falar em risco de autodestruição, e à fé, “que reconhece tudo como criatura de Deus”. Nesse ponto, o bispo franciscano lembrava a figura de Francisco de Assis, que “cantava louvores a Deus, sentindo-se irmão de toda natureza criada. Louva a Deus pela Terra”, uma percepção que “está em profunda comunhão com a cosmovisão de povos originários da América, que chamam a terra de “Pachamama”, a grande mãe”.

Enfatizando a importância da Amazônia, e a urgência em “respeitá-la, preservá-la e cuidá-la”, o bispo tem situado sua esperança no futuro da Casa Comum, não nos “economistas globais, nem os políticos nacionais”, e sim nos “povos da floresta, os povos originários, com a proposta do “bem-viver” e as comunidades dos discípulos de Jesus, com a proposta do Reino de Deus, junto com outros aliados que sabem que a Amazônia é criação de Deus”. Por enquanto, Dom Evaristo Spengler vê isso como um sonho, mas “nós sonhamos com a utopia do Reino anunciado por Jesus”. Sua reflexão é, sem dúvida, mais um importante aporte, na tentativa de fazer realidade novos caminhos para uma ecologia integral, aspecto que faz parte do objetivo do Sínodo para a Amazônia.

 

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