Por Luis Miguel Modino
Nada melhor para conhecer a Igreja da Amazônia do que ouvir quem faz parte dela, aqueles que percorrem seus rios e trilhas ao encontro de seus povos. Essas palavras são válidas quando a gente fala de Dom Joselito Carreño, bispo do Vicariato de Inírida, alguém que tem dedicado sua vida à missão, primeiro na África, onde ele foi enviado por sua congregação, os Xaverianos de Yarumal, e onde permaneceu por vinte anos, e mais tarde neste canto da Amazônia colombiana, na fronteira com o Brasil e a Venezuela.
O Instrumentum Laboris do Sínodo para a Amazônia, divulgado em junho passado, está sendo estudado pela Igreja da Amazônia, especialmente por seus bispos, que serão padres sinodais. Falando sobre o documento, o bispo colombiano enfatiza como fundamental a questão da inculturação e da interculturalidade, o que leva a um diálogo e ajude a superar os métodos de missão a partir da imposição de parâmetros chegados de fora.
Dom Joselito vê nos kairos “o momento da salvação, da libertação”, destacando a importância de amazonizarse, de “que deixemos nos cativar por esta realidade que está em perigo”, de viver a missão como uma atitude transversal, com “menos estruturas que nos paralisam, que nos colocam entre quatro paredes e mais encontro com o ser humano, com cada pessoa, com todas as pessoas, nos diferentes ambientes em que se encontram “.
“Com o Sínodo vai se tornar visível o modo de ser Igreja no coração da Amazônia, visibilizar esse jeito simples, humilde, descontraído, desestruturado, sem nenhum apego ao poder, mas ao serviço e a disponibilidade constante”, diz o Bispo de Inírida, que considera fundamental o apoio de toda a Igreja na evangelização da Amazônia, com o objetivo final de um fortalecimento cada vez maior da população local.
Quais o senhor acha que são os pontos fundamentais que devem ser destacados no Sínodo para a Amazônia a partir do Instrumentum Laboris?
Há vários tópicos a serem discutidos, a serem aprofundados, de tal forma que nos levem a encontrar novos caminhos para a ecologia integral e para a presença da Igreja Cristã Católica na Amazônia. Acho que um dos fundamentos é a inculturação e a interculturalidade. Esse é um das principais porque, em primeiro lugar, o bioma amazônico é um sujeito de direitos, e cuidar e acompanhar todo o processo de salvaguarda, proteção e atenção a todo o tema amazônico já é um trabalho de evangelização.
Mas as pessoas, do ponto de vista de nossa fé em Deus Uno e Trino, a pessoa é como a coroa da Criação. A revelação bíblica expressa isso, especialmente o Salmo 8, quando ele fala: “Que é o homem, para que com ele te importes? E o filho do homem, para que com ele te preocupes? Tu o fizeste um pouco menor do que os seres celestiais e o coroaste de glória e de honra. Tu o fizeste dominar sobre as obras das tuas mãos; sob os seus pés tudo puseste”. O ser humano é a coroa, o coração de toda a Criação, e é através do ser humano que o Senhor acompanha e cuida de toda a Criação.
A questão da inculturação está relacionada aos seres humanos que a habitam, com as comunidades ali presentes, os povos, os quase três milhões de indígenas que habitam a Amazônia, como os outros povos que nela habitam, uns trinta e cinco milhões. A inculturação tem que ser esse diálogo entre cada uma das culturas, porque há muitas, entre o coração do Evangelho com o coração de cada cultura, indo ao essencial, indo ao centro. A inculturação não são coisas supérfluas ou não são expressões puramente externas, mas tem que sair, como Jesus diz no Evangelho, da abundância do coração.
Não podemos ficar nos galhos, sem ir à raiz, ao coração, à essência. Por isso, a inculturação neste contexto da Amazônia é um diálogo que deve ser realizado entre a espiritualidade cristã e a espiritualidade ancestral, é um diálogo que deve ser estabelecido entre essas duas espiritualidades. Este é um trabalho para místicos, o trabalho de inculturação não pode ser feito por qualquer pessoa, deve ser um trabalho realizado por pessoas de fé, de grande fé, pessoas que se adentraram para viver uma espiritualidade em sua essência, nas demandas mais autênticas que Jesus, o Filho do Deus vivo, revelou-nos, comunicou-nos com a sua própria vida e com os seus ensinamentos e com todas as exigências que nos apresentou para o discipulado missionário.
Viver essa experiência espiritual, somente a pessoa imbuída ou imersa nesse processo pode estabelecer esse diálogo, primeiro com os caciques, que são os líderes espirituais dos povos indígenas, as pessoas mais profundamente conectadas com a realidade espiritual ancestral. Com eles são os primeiros com quem devemos estabelecer esse diálogo intercultural, a cultura do missionário, do evangelizador, com a cultura e a experiência espiritual, neste caso, das comunidades, dos povos, representada em primeiro lugar pelos caciques e também pelos pajés e pelas pessoas que de algum modo carregam mais profundamente a experiência espiritual dos povos indígenas.
Isso é um diálogo a longo prazo, mas que deve ser estabelecido, e na medida em que vai sendo aprofundado este é o lugar onde sai tudo uma escola de valores, todos os valores convergentes da espiritualidade ancestral com a espiritualidade cristã, para fortalecer-nos, para estabelecer como uma espécie de casamento, uma espécie de comunhão entre estas duas espiritualidades, que deve ser uma só, para fusioná-las a partir de um processo de diálogo, encontro, enriquecimento mútuo, de primeiro encontrar tudo o que nos é comum, de amassá-lo juntos como uma única realidade, chegando a encontrar os valores que são na espiritualidade ancestral dos povos, que estão no Evangelho, mas tinham sido promovido de forma que eles deveriam ter sido promovido desde a sua criação.
Com a espiritualidade cristã abraçar esses valores tradicionais que estão lá, que devem ser acolhidos e, assim, enriquecer a espiritualidade cristã e a experiência de fé. No diálogo eles também poder juntar-se à possibilidade de encontrar novos valores da fé cristã, que não estão na espiritualidade ancestral, mas são valores que irão enriquecer a espiritualidade ancestral dos povos indígenas. Que eles também possam acolhe-lo e, assim, enriquecer essa espiritualidade.
Enquanto isso, o processo de depuração da cultura da espiritualidade cristã, alguns valores que são imóveis, são perenes em nossa espiritualidade cristã, mas há equivalentes na cultura ancestral. Então a necessidade de purificá-los e acolher os valores do Evangelho. Do ponto de vista da espiritualidade dos povos indígenas, ver como alguns deles purificam a apresentação do coração do evangelho àquele que vai evangelizar, por exemplo individualismo, o que está muito presente na cultura ocidental, se deixar depurar pelo valor da comunitariedade, do senso de comunidade, da fraternidade, tão viva e tão real nos povos indígenas.
O Instrumento de Trabalho, no número 39, ele fala sobre a necessidade de aprender a partir do diálogo entre a espiritualidade cristã e as religiões amazônicas. Existe realmente tal atitude na missão da Igreja hoje na Amazônia?
Eu diria que deve haver casos especiais, eu não poderia julgar um por um os casos, mas considero que a tendência nossa amostra que fomos nos deixando influenciar pela cultura muito pragmática, o que leva mais para a parte da ação, do desenvolvimento como muito mal focado. Existem elementos que nos levam a ver as coisas superficialmente. Não tenho ouvido que haja um processo sério de experiências, embora eu saiba que existem, eu não ouvi falar de pessoas que fazem isso de uma forma consciente e sistemática.
Alguém compartilhou agora em uma reunião no Brasil ao respeito de umas religiosas que ficaram cinquenta anos com um povo indígena e fizeram um acompanhamento muito interessante com essas comunidades, chegando em um ponto em que foi estabelecido um diálogo em profundidade, coração a coração, das duas espiritualidades. Experiências como estas existem, eu acho que elas são várias, mas infelizmente não é o denominador comum, não é a realidade predominante, onde deve nos conduzir este novo caminho que nos está exigindo a presença evangelizadora da Igreja na Amazônia, fazer o caminho de um modo mais comprometido, mais generoso, mais sistemático, mais autêntico, e na linha desse diálogo, dessa inculturação, planejar ess diálogo de coração a coração, como um caminho para a santidade, que não é um caminho para fazer as coisas mais breves, mais curtas, mas para alcançar a santificação do ser humano.
Poderíamos dizer que esta falta de abertura ao diálogo intercultural, ao reconhecimento das espiritualidades da Amazônia, é um dos elementos que estão atrás das críticas que têm surgido a respeito do Instrumentum Laboris por alguns meios de comunicação, de alguns padres e bispos?
Pode ser uma grande razão ou causa porque toda essa crítica está sendo apresentada. Aqueles de nós que fomos enviados para realizar esta missão, essa evangelização nestes lugares, facilmente caímos na implantação ou transporte de estruturas dos lugares desde onde estamos indo, nós levamos um jeito de fazer as coisas. A outra razão é que um processo de inculturação séria implica muita disciplina, muita dedicação, muita oração, é um desejo de estar verdadeiramente, no coração, comprometido com este serviço.
Infelizmente, às vezes caímos em que queremos resultados imediatos. Há pessoas que vêm com muito entusiasmo, dedicação, temos um exemplo em Inírida com um povo chamado os Piaroas, que são dezoito comunidades, duas no departamento de Bichada, no Vicariato de Inírida e o resto do lado de Vicariato de Puerto Ayacucho, na Venezuela. Estas comunidades ao longo dos últimos trinta anos têm tentado fazer o seu próprio plano de vida a partir da espiritualidade ancestral do povo Piaroa, se aprofundar passo a passo para estabelecer um plano de vida com os pilares da cultura ancestral.
Acontece que essas tentativas não tiveram sucesso, tem uma irmã que os acompanha nos últimos tempos e disse que já sabia de quatro tentativas fracassadas, que começaram, chegaram a um certo ponto e foram embora. Esta última levaram muito a sério e nós do vicariato também. Quatro ou cinco anos atrás, esse progresso está sendo feito e os frutos estão começando a ser notados. Após cinco anos, os frutos do processo que está ocorrendo começam a brotar, é muito lento.
O lado positivo dessa tentativa é que houve perseverança e houve uma alta participação. Essa alta participação se deve primeiro a essa irmã, Marta, que mora lá. Antes de morrer, o chefe da comunidade de Sarrapia, naquela época não havia nenhum sucessor para ele, ele convocou toda a comunidade e disse que enquanto não elegessem o novo cacique, esta irmã é quem vai acompanhar e liderar espiritualmente. Deu uma grande autoridade para esta irmã e isso também tem sido uma chave porque ela tem sido capaz de manter essa seriedade, esse compromisso, a congregação tem ajudado ela, nós do vicariato temos colaborado desde todos os aspectos, moral, enviando pessoal, econômico, ajudando-a em tudo o que ela precisa.
Tem se progredido e está se fazendo caminho, mas isso implica que precisamos primeiro de uma seriedade muito alta da nossa parte como acompanhantes, porque quando nós não vamos, eles começam a se dispersar e acabou. Neste caso, temos sido consistentes no acompanhamento o progresso tem sido notável, e começa a comemorar alguns passos nesse processo que nos enche de grande motivação e nós estamos vendo que realmente vale a pena o que está se fazendo.
Nesse sentido, o senhor fala das diferentes medida de tempo, no Instrumentum Laboris ele aparece como kairos, como um tempo de graça, como assimilar este kairós amazônico desde a Igreja universal, desde a Igreja ocidental?
O kairos é o momento da salvação, da libertação, e eu sinto que esta experiência da Amazônia que Deus fez através do nosso Papa Francisco para nos amazonizar, para nos deixarmos cativar por esta realidade que está em perigo, que é o pulmão, que é a alma de todo o Planeta Terra, e precisamos acordar para essa realidade. Este é o kairos, que é um convite não só para a Igreja na Amazônia, mas à Igreja universal, temos que repensar toda a maneira de ser Igreja e viver uma experiência missionária.
Como o Papa Francis diz-nos, o transversal é a missão, é estar saindo de nós mesmos e ir ao encontro do outro, sempre estar em atitude de que menos é mais, menos consumo e mais simplicidade, mais generosidade, mais entrega, mais dedicação ao serviço dos outros. Menos estruturas que nos paralisam, que nos colocam entre quatro paredes e mais encontro com o ser humano, com cada pessoa, com todas as pessoas, nos diferentes ambientes em que se encontram. Menos roupagens e menos coisas que de repente nos distanciam, marcam diferenças com as pessoas e mais simplicidade em nossa maneira de viver, de nos relacionarmos e estar presentes no coração da sociedade.
É um convite para viver de uma maneira nova, de ser uma Igreja no coração de um mundo que está se tornando mais secularizado a cada dia e que o sistema tradicional da Igreja não mais lhe diz nada. Como sair desse sistema tradicional ao qual nos agarramos tanto e que nos impede de nos desconstruir, nos paralisa e nos impede de entrar no coração das pessoas. Por exemplo, o que o monsenhor Gerardo Valencia Cano fez, um bispo que ficou dezoito anos em Buenaventura, mas antigamente no Vaupés, trabalhou com os indígenas. Este homem aprendeu a viver o seu ministério episcopal desde a simplicidade do irmão que veste o macacão e vai trabalhar com o povo, ouvir os problemas das pessoas, que chegava numa loja e entrava ajudar a vender às senhoras enquanto conversava com eles.
Alguém chegava a pedir que não tinha isso ou aquilo, tomava o seu próprio colchão, o entregava e dormia no chão, uma forma de sair completamente fora da estrutura da hierarquia, uma maneira de se vestir, uma maneira de estar lá e fazer isso e o outro. Estar envolvido no dia a dia, no coração de cada pessoa. Esse tipo de experiência da nossa fé tem que ir nessa linha para poder falar à sociedade hoje. Muitas pessoas não nos chegam até nós porque continuamos em nosso antigo esquema, em nossa maneira antiga de fazer as coisas, temos que sair disso e simplificar as coisas.
Tudo o que você está dizendo traz à mente a figura do padre Bolla, salesiano que viveu por quarenta anos com os Achuar no Peru a partir dessa perspectiva e também nos remete à Igreja do Papa Francisco, uma Igreja que não quer se sustentar em grandes estruturas, em cerimônias luxuosas, em amizade com os poderosos, e isso é um pouco o jeito de ser Igreja em muitas regiões da Amazônia. Como traduzir isso e convencer a Igreja do Ocidente sobre a necessidade de viver dessa maneira a partir da realidade, neste caso da realidade amazônica?
Eu acho que o primeiro ponto é que o Sínodo vai tornar visível o modo de ser Igreja no coração da Amazônia, visualizar esse jeito simples, humilde, descontraído, muitas vezes sem estrutura, sem nenhum apego ao poder, mas ao serviço e à disponibilidade constante, sempre pensando em como melhor fornecer um serviço para o bem comum e o empoderamento dos povos e comunidades. Visibilizar esse tipo de Igreja, e de alguma forma pode enviar uma mensagem poderosa para aqueles que estão envolvidos nessas estruturas, isso pode ser um elemento valioso.
Mas o segundo elemento, que também seria de grande ajuda, o Papa Francisco está convidando, e eu acredito que isso é ponto chave, que não são apenas os bispos que estão nesta região que estejam envolvidos com o tema da Amazônia, mas que sejam todas as conferências episcopais, que não seja deixado apenas para aqueles de nós que estão lá, mas que seja verdadeiramente assumido por todo o episcopado. No nível local, nós, na Colômbia, os quinze bispos que estamos na Amazônia, se conseguirmos chegar ao coração dos outros sessenta, somos setenta e cinco bispos encarregados de jurisdições e, no Brasil, sessenta e alguma coisa alcançam os outros trezentos ou quase quatrocentos, se nos nove países que fazem parte da Amazônia, se conseguimos chegar às conferências desses nove países, isso é uma conquista.
Creio que isso é possível se continuarmos nesse mesmo espírito, através de um processo de conversão profunda e levando este chamado deste sínodo a um verdadeiro kairós para a Igreja, e não apenas para a Igreja presente na Amazônia, mas para a Igreja universal.
O que o senhor espera para seu ministério episcopal, para a vida do vicariato de Inírida, a vida da Amazônia, do planeta, da Igreja universal deste sínodo?
Antes de mais nada, espero que me ajude a descobrir que não sou uma pessoa isolada no meio dessa realidade tão distante, tão vasta, tão extensa quanto a Amazônia. Em primeiro lugar, descobrir essa comunhão, essa solidariedade, esse apoio espiritual, das experiências, riquezas que têm sido realizadas em outros lugares, para aprender com todos eles, dos elementos que vão nos servir para fazer melhor o nosso trabalho lá onde estamos. Esse é um primeiro elemento, para fortalecer esse senso de universalidade, de comunhão com todo o universo da fé cristã e de solidariedade a todos os desafios que apresenta o fato de estar presente na Amazônia.
Um segundo elemento é também esse apoio do ponto de vista da denúncia. Uma das grandes dificuldades quando trabalhamos desconectados com o resto é que às vezes denunciamos uma situação de injustiça ou uma situação de abuso de direitos humanos, ou extrativismo mineiro. Essas realidades que devem ser denunciadas, quando se faz isso, a força da palavra não é tão grande quanto quando se sente o apoio de toda uma conferência episcopal ou de toda a Igreja universal, terá uma força muito maior, sentir esse apoio, poder dizer aquela palavra com maior força, essa palavra profética para poder expressá-la com maior veemência, com maior audácia, porque se sabe que não se está só.
Embora saibamos que Deus está conosco e sempre estará conosco, mas ter o apoio da Igreja universal em denunciar todas essas realidades também é muito importante. Esse apoio que vai se alcançar com aquele trabalho que nos é mostrado, que está sendo desenvolvido e que será completado depois do Sínodo, porque o estágio mais importante é aquele que vem depois do Sínodo, que é trazer à realidade todos essas decisões para o bem de nossa presença evangelizadora na Amazônia.
Outro aspecto que eu espero é também apoio no nível de conseguir pessoal, de pessoas que de repente não tinham ideia ou que compartilhando todas essas experiências elas se sentiriam motivadas para prestar um serviço à missão, um serviço para a Amazônia, para estar lá a partir de suas realidades e de seu perfil profissional para poder contribuir também para esse cuidado e atenção dos povos indígenas, dos povos que nela habitam, bem como do meio ambiente. Retornar o maior número de pessoas possível e atraí-los para prestar um serviço nessas esferas do nosso mundo, do território universal e, acima de tudo, da Amazônia.
Um quarto aspecto também seria o apoio econômico, porque, para poder levar a cabo iniciativas, projetos que levam ao empoderamento das pessoas, são necessários recursos que possam fornecer esse apoio. Tanto a Igreja quanto o mundo, pessoas filantrópicas que estariam dispostas a apoiar projetos de empoderamento desses povos, dessas comunidades, projetos e programas que sejam a favor da defesa da Amazônia e do cuidado e atenção dos povos que habitam nela.
Um dos aspectos de maior destaque no processo sinodal tem sido a escuta dos diferentes povos da Amazônia, quais são os desafios que são apresentados à Igreja da Amazônia em vista do pós-sínodo, que o senhor diz ser um momento de grande importância? Como pode a discussão na assembleia sinodal ser trazida de volta para enriquecer a vida dos povos?
Eu sinto que nesse processo de escuta o que foi encontrado é que não há como contribuir para o desenvolvimento integral de alguns povos sem que eles mesmos sãoos gerentes de seu próprio processo, que eles mesmos assumam a responsabilidade por seu próprio desenvolvimento integral. Na primeira experiência que tive na África, na paróquia, dissemos que os missionários são como o pneu sobrante e eles são o carro com suas quatro rodas. Se os pneus estiverem furados, estamos lá para apoiá-los enquanto reparamos o pneu, mas imediatamente após o reparo, eles continuam. A ideia é que eles sejam aqueles que realizam todo o processo de desenvolvimento, de evangelização, que estão empoderados em todas as áreas de sua existência.
Essa é a linha que temos de trabalhar, quando partimos da escuta, o que devemos fazer é acompanhar e não fazer as coisas, não atrair megaprojetos e construir prédios que se transformam em elefantes brancos. Acompanhar processos, projetos como soberania alimentar, segurança alimentar, saúde integral, educação com metodologia própria, a partir de um diálogo, um enriquecimento mútuo. Que tudo seja feito por eles, que estamos lá para dar-lhes esse acompanhamento, essa capacitação, para ser esse pneu sobrante no caso de alguma vez viver situações em que eles precisam de apoio pontual. Que todo o processo seja levado adiante por eles, do começo ao fim.