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Hoje, 36 anos sem Margarida– A luta continua

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CASA DE MARGARIDA EM ALAGOA GRANDE, PB – PONTO TURÍSTICO DOS MAIS VISITADOS

Margarida Maria Alves nasceu no dia 5 de agosto de 1933 no Sítio Jacu, município de  Alagoa Grande, Estado da Paraíba, filha de Manoel  Lourenço Alves e Alexandrina Inácia da Conceição. Sendo a filha caçula numa família de nove irmãos (os outros são Rita Maria da Conceição, Maria Inácia da Conceição, Antônio Lourenço de Souza, Severino Lourenço da Silva, Regina Maria Custódia, Francisco Lourenço da Silva, Inês Alves da Silva e Joaquina Maria Marinho), Margarida aos seis anos de idade iniciou seus estudos no Sítio Agreste. Aos oito anos começou a trabalhar na agricultura juntamente com sua família, plantando feijão, milho e abacaxi, culturas tradicionais de sua região.
Católica por tradição, desde os primeiros anos de sua vida começou a frequentar a Igreja da cidade, onde recebia a orientação do padre Geraldo Pinto, pároco local, que mais tarde ajudaria a fundar o Sindicato dos Trabalhadores Rurais.          

No seu dia-a-dia era ativa e, sobretudo participante. Depois de preparar e plantar a terra, também participava diretamente da colheita e do transporte dos produtos, para comercializar na cidade.

FILHO DE MARGARIDA, ARIMATÉA, VISITA BIBIU DO JATOBÁ EM ALAGOA GRANDE

Ao completar vinte e oito anos veio morar na Rua Olinda, zona urbana do município, e continuou estudando. Foi essa constante disposição de trabalho e solidariedade que levou Margarida a conquistar a amizade, a confiança e o respeito dos agricultores.  

No dia 20 de dezembro de 1967 assume a tesouraria do Sindicato. Em 1973 casou com Severino Cassimiro Alves e no dia 11 de junho de 1975 nascia José de Arimatéia Alves, seu único filho. Em 1973 é eleita presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande, sendo reeleita em 1976, 1979 e 1982.

Na foto Lula ao lado de Margarida Alves, em apoio a luta dos Canavieiros

Margarida destacou-se como liderança dos trabalhadores canavieiros na luta pelos direitos sociais, alguns já conquistados pelos trabalhadores urbanos. Lutou pelo registro do trabalho em carteira, pela jornada de oito horas diárias de trabalho, 13º salário, ferias anuais e repouso semanal remunerado. Seu empenho sindical na organização dos camponeses desenvolveu-se por mais de doze anos, tendo encaminhado a Justiça muita ações trabalhistas contra os proprietários rurais locais. Numa delas, moveu um processo contra o filho de um fazendeiro que havia espancado uma moradora de suas terras, velha e paralítica.                

A dedicação, a firmeza e a coragem de Margarida na mobilização dos agricultores do Brejo Paraibano repercutiram na Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAS) em Brasília, na Federação dos Trabalhadores na Agricultura da Paraíba (FETAG-PB) em João Pessoa e em mais trinta e dois sindicatos rurais. Seu exemplo possibilitou o início da poderosa campanha salarial dos canavieiros e a reivindicação de dois hectares de terras para as famílias dos trabalhadores rurais plantarem roças de subsistência. Defenderam, sem medo e sem covardia a liberdade, os direitos trabalhistas e a reforma agrária.

Por acreditar na educação como forma de transformação, foi uma das fundadoras do Centro de Educação e Cultura do Trabalhador rural (CETRU) em João Pessoa. Afirmava que as mudanças sociais não dependiam só do Governo, mas da luta de todos para construir uma sociedade justa e igualitária. “Se a gente se isolar, se a gente faz uma concentração por aí e outra por acolá, se o Sindicato é dividido, eles tomam a frente porque eles estão sentindo que estamos desorganizados. É por isso que os poderosos ficam nos ameaçando, nos intimidando e até espionando pra ver qual o trabalhador que faz parte do Sindicato (…) Nos não podemos calar diante dessa multidão de famintos e injustiçados, temos que denunciar a situação em que estamos. A gente nunca vai esmorecer, não queremos o que é de ninguém, nos queremos o que é nosso”.                

Após sofrer várias ameaças, foi assassinada no dia 12 de agosto de 1983, às cinco e meia da tarde, na porta de sua casa, com um tiro de espingarda calibre l2 no rosto, disparado por um pistoleiro encapuzado, a mando de latifundiários, que fugiu em seguida. A morte de Margarida causou grande comoção dentro e fora do Estado pelo requinte de perversidade, mas sobretudo em face da liderança que ela exercia no seio dos trabalhadores rurais e do respeito que detinha no meio urbano. Sua morte provocou inúmeras e grandiosas, manifestações publicas dos trabalhadores e de entidades do movimento de mulheres no Brasil e no exterior, em protesto contra a impunidade dos senhores de terra nos atos criminosos que cometem na defesa do sistema latifundiário.                

Durante todos estes anos, inúmeros outros eventos lembraram o martírio de Margarida na Paraíba e em todo o Brasil. Foram programas de rádio, abaixo-assinados e encontros. A imprensa brasileira e também a internacional noticiaram a morte da líder sindical. O nome de Margarida e seu  exemplo se espalham rapidamente por todo o País, Escolas, associações de trabalhadores e de formação sindical, grupos de direitos humanos, ruas e praças recebem seu nome.

Sobre a impunidade dos assassinos de Margarida Maria Alves, a TV Globo exibiu o caso no programa “Linha Direta”, que foi ao ar em agosto de 1999.                

Para finalizar, uma frase de sua autoria: “Da luta não fujo. É melhor morrer na luta do que morrer de fome”.
PESQUISA 
José Rosinaldo de França (Beba).
Edição e Fotos – Acervo de Severino Antonio (bibiu – 9 9369 3233 zap).

Matéria publicada no blog Cultura do Brejo, em 12 de agosto. https://culturadobrejo.blogspot.com/2019/08/hoje-36-anos-sem-margarida-luta-continua.html

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