Artigos e Entrevistas

Comunidades Eclesiais de Base missionárias
Por Frei Marcos Sassatelli

Podcast Outro Papo de Igreja, do Serviço Teológico Pastoral

A Carta compromisso da XX Assembleia Eclesial do Regional Centro-Oeste (Goiás e Distrito Federal) começa dizendo: “Nós, Povo de Deus do Regional Centro-Oeste da CNBB, reunidos em Assembleia na cidade de Goiânia – GO, de 18 a 20 de outubro de 2019, com o tema: “Desafios da evangelização no mundo urbano”, realizamos uma profunda experiência de comunhão entre bispos, sacerdotes, diáconos, religiosos/as e leigos/as”. Reparem: “uma profunda experiência de comunhão”!

Continua afirmando: “Convocados a ser Igreja em estado permanente de missão, promovendo a unidade e respeitando cada uma das arqui/dioceses, e as atividades das pastorais, movimentos, organismos e serviços, realizamos uma retrospectiva e avaliação da caminhada dos últimos quatro anos”.

Declara ainda: “Após o estudo das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (DGAE 2019-2023), e como resposta aos desafios da evangelização em uma realidade cada vez mais urbana, queremos ser cristãos em Comunidades Eclesiais Missionárias”.

Como expressão deste compromisso, os participantes da Assembleia assumem as seguintes propostas de ação conjunta para o quadriênio 2019-2023:

  1. “Motivar as pastorais, movimentos, organismos e serviços, para que integrem em sua vivência os elementos específicos das Comunidades Eclesiais Missionárias, com seus pilares: Palavra, Pão, Caridade e Ação Missionária.
  2. Propor itinerários e elaborar subsídios que favoreçam a animação bíblica nas Comunidades Eclesiais Missionárias, especialmente por meio da Lectio Divina.
  3. Formar Ministros Leigos da Palavra, com espírito missionário, conforme Documento 108 da CNBB – Ministério e Celebração da Palavra.
  4. Capacitar leigos no conhecimento da Doutrina Social da Igreja.
  5. Implantar e aperfeiçoar os Conselhos Missionários em todos os níveis: paroquial, arqui/diocesano e regional”.

A Carta termina com uma oração: “Na busca de sermos discípulos/as missionários/as de Jesus Cristo e com a intercessão de Maria Santíssima, rogamos a Deus Pai, que os frutos desta Assembleia sejam uma grande benção para as Igrejas Particulares de Goiás e do Distrito Federal” (Uma voz no Centro-Oeste. Revista do Regional Centro-Oeste CNBB. Nº 11, 2019, p. 9)

Depois de apresentar o conteúdo dessa Carta Compromisso, sinto a necessidade de – fraternalmente – fazer algumas observações críticas.

Mesmo reconhecendo o valor que a Carta – por ser fruto de “uma profunda experiência de comunhão” entre os participantes da Assembleia – tem para as Igrejas do Centro-Oeste (Goiás e Distrito Federal), lamento que os ensinamentos da II Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e Caribenho (Medellín,1968) – que é o Concílio Vaticano II para a América Latina e Caribe – tenham sido totalmente esquecidos.

Na concepção de Igreja da Conferência – que continua plenamente atual – a Comunidade Eclesial de Base (CEB) é “o primeiro e fundamental núcleo eclesial” ou “a célula inicial da estrutura eclesial” (Medellín. XV, 10) e a Paróquia, “um conjunto pastoral unificador de Comunidades de Base” (Ib. 13). Reparem: de Comunidades de Base!

As Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) são a Igreja “Pobre, para os Pobres, com os Pobres e dos Pobres”. São a Igreja de Jesus de Nazaré. Para as CEBs, a Opção pelos Pobres (oprimidos, excluídos e descartados da sociedade) é “essencial” (não “preferencial”) e “constitutiva” do ser Igreja. Ela não exclui ninguém. Todos e todas somos chamados e chamadas a fazer hoje – em nossa realidade – o caminho que Jesus fez na época d’Ele.

As CEBs – por estarem comprometidas com a realização do Reino de Deus (a Boa Notícia de Jesus de Nazaré) na história do ser humano e do mundo – são Comunidades que escutam os sinais dos tempos, ou seja, que:

  • se inserem na realidade do lado dos Pobres (inserção, encarnação);
  • interpretam “desde os Pobres” essa realidade à luz do Evangelho e vice-versa (discernimento, julgamento);
  • transformam a realidade, fazendo acontecer – unidas a todas as Forças Sociais Populares que lutam pela mesma causa – um Mundo Novo, a Utopia do Reino de Deus (libertação, vida).

Por isso – à luz dessas observações críticas e sempre “como resposta aos desafios da evangelização em uma realidade cada vez mais urbana” – o compromisso das Igrejas do Centro-Oeste deveria ser assim reformulado e expresso: queremos ser cristãos e cristãs em Comunidades Eclesiais de Base missionárias (em saída). Uma Comunidade Eclesial só é “missionária” se for “de Base”.

Que o Espírito Santo nos ilumine para que sejamos uma Igreja renovada e libertadora! Vida Nova para todos e para todas!

(Cf.:  Concílio Vaticano II. A atividade missionária da Igreja – AG, 10; Ib. A Igreja no mundo de hoje – GS, 4; Documento de Aparecida – DA, 33; A Alegria do Evangelho – EG, 20 e 49).

Marcos Sassatelli, Frade dominicano

Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção – SP)

Professor aposentado de Filosofia da UFG

E-mail: mpsassatelli@uol.com.br

Goiânia, 17 de março de 2020

Foto de capa: Ateliê 15

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