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30 anos do Estatuto da criança e adolescente: caminho de cidadania, caminho de fé
Por Pe. Fabio Antunes

Podcast Outro Papo de Igreja, do Serviço Teológico Pastoral

No último dia 13 de julho, celebramos 30 anos do Estatuto da criança e do Adolescente. Legislação brasileira que prioriza a proteção integral dos direitos das crianças e adolescentes. Infelizmente vemos a cada instante retrocesso e ameaças dos direitos previstos no ECA. Um dos assuntos que de tempos em tempos retorna como foco, é a redução da maioridade penal, como justificativa de encerrar a impunidade.

Porém, o que vemos é uma defesa do encarceramento precoce de adolescentes e jovens negros como mais uma forma de marginalização e genocídio desse grupo.

A seguir um artigo de Pe. Fabio Antunes, promovendo uma análise sobre os 30 anos do ECA.

“As crianças são o futuro da família humana: todos temos a tarefa de promover seu crescimento, saúde e serenidade” (Papa Francisco). Com as palavras do Papa Francisco reforçamos a relevância desse estatuto no processo de democratização de nosso país, nas últimas décadas. Processo, justamente porque a promulgação da Constituição Federal e do ECA, não significam a conquista definitiva desses direitos, mas o ideal a ser buscado por nossa nação.

Da sua promulgação até hoje podemos dizer que estamos vivendo um desenvolvimento da realidade e dos direitos das crianças e dos adolescentes. É importante que a visão desse processo ajude a sociedade a ir aprimorando a legislação e as políticas públicas do cuidado e promoção da vida e dos direitos das crianças e dos adolescentes. Para colaborar com a reflexão sobre a relevância do ECA e ajudar a provocar seu aprimoramento, sugiro alguns pontos para consideração.

1 – Reconhecer a criança como sujeito: Pode parecer um conceito muito elementar, mas é preciso lembrar que nem sempre foi assim e pode passar, ainda atualmente, que as crianças não sejam reconhecidas como sujeitos sociais. Como sujeitos sociais as crianças e adolescentes devem ser reconhecidos, dentro de suas condições especificas, como destinatários de políticas públicas para seu desenvolvimento, cuidado e promoção.

2 – Busca da superação do estigma do trabalho e da violência: Trinta anos significam muitas mudanças, assim podemos esquecer facilmente como o trabalho e a violência contra crianças e adolescentes em nosso país, era uma realidade comum. Não faz muito tempo, muitos acreditavam, que sujeitar crianças e adolescentes em pesadas jornadas de trabalho de toda espécie, mesmo que isso significasse deixar outras coisas próprias da infância, como estudar e brincar, não fosse um crime. Outra prática que foi muito comum é a correção pelo uso da violência, sujeitar as crianças e adolescentes a castigos físicos parecia um requisito indispensável na educação.

3 – Universalização da educação: Em nossa cultura, também, não faz muito tempo, entendíamos o acesso à escola fosse alguma forma de privilégio reservado a algumas classes sociais. Hoje, felizmente, todos reconhecem a necessidade da escola e entendem o acesso a educação como um direito de todos. É importante ressaltar que a escola também projetou o reconhecimento dos direitos das crianças e adolescentes, podemos citar como exemplo a realidade do Bullying, realidade descoberta e, onde iniciamos o enfrentamento, dessa violência psicológica tão danosa para as crianças e adolescentes.

Creio que esses aspectos ressaltam alguns aspectos que a promulgação do ECA provocou em toda a sociedade brasileira. Devemos seguir esse impulso e continuar nesse processo de aprimoramento. Na Igreja aprendemos dos movimentos sociais e do Magistério da Igreja, por isso, a pastoral se enriquece desse diálogo sobre a realidade da infância.

Também como comunidade eclesial somos interpelados sobre a realidade das crianças e adolescentes em nossa sociedade, como comunidades de fé somos escola de humanidades. Assim, as crianças e adolescentes são destinatários especiais da nossa ação pastoral. Nesse sentido temos um grande desafio em implementar dois grandes marcos do Magistério da Igreja: 1- Pacto global pela educação; 2 – Motu Proprio do Papa Francisco sobre a Proteção dos Menores e das Pessoas Vulneráveis.

Pelo Pacto Global da Educação o Papa Francisco propõe a recuperação das grandes metas mundiais da superação da fome e da pobreza. A Igreja é chamada a promover o cuidado e o desenvolvimento integral das crianças e adolescentes, formando pessoas mais comprometidas com um novo modelo de relações humanas, com a ecologia e a economia. Mais, profética ainda, se mostrou a postura firme imposta pelo Papa Francisco, no combate ao abuso de menores e vulneráveis por membros da Igreja.

Encontramos no ECA e no Magistério do Papa Francisco elementos muito importantes para a promoção da dignidade das crianças e adolescentes, nos âmbitos da sociedade e da Igreja no Brasil. Que a interação da fé e a cidadania colaborem na construção de uma sociedade mais justa, na perspectiva da dignidade da pessoa, orientados pelos valores do Reino de Deus.

Foto de capa: Criança Mppr

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