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Membros do Conselho Pre-sinodal esperam que o Instrumentum Laboris responda à escuta do povo

Por Luis Miguel Modino

Podcast Outro Papo de Igreja, do Serviço Teológico Pastoral

O processo do Sínodo para a Amazônia continua avançando. Um novo passo será dado nesta terça e quarta-feira, 14 e 15 de maio, onde vai acontecer o segundo encontro do Conselho Pre-sinodal. Depois de um longo tempo de escuta, onde oficialmente participaram 87.000 pessoas, uma equipe de especialistas tem elaborado um esboço do Instrumentum Laboris, que será o material a ser trabalhado pelos padres sinodais, participantes da assembleia sinodal, a ser celebrada no Vaticano de 6 a 27 de outubro.

Os participantes do conselho, durante os dois dias de reunião, irão “estudar, aprofundar, sugerir, aperfeiçoar, o esboço do instrumentum Laboris elaborado pelos especialistas”, segundo o Padre Justino Sarmento Rezende, salesiano indígena do povo tuyuka, e um dos assessores do Sínodo. Ele afirma que o processo sinodal, “tem sido uma experiência muito interessante, importante. Ouvindo e aprendendo com as pessoas especializadas, escutar os medos e sonhos que carregam os bispos em seus corações de pastores, sonhar com uma Igreja mais próxima dos povos amazônicos”.

Segundo o salesiano, o processo sinodal está ensinando “lições de vida, que mostram que como Igreja temos muita coisa a avançar, dificuldades, problemas a superar. Sentir que muitos agentes de pastoral, mesmo sacerdotes, alguns bispos, não se sentem tão tocados pelos problemas que atingem os mais pobres, os mais simples. Essa é uma preocupação muito grande para quem está acompanhando esse processo de preparação. Tem sido uma realidade nova que estou conhecendo em profundidade como funciona a Igreja”.

Desde essa perspectiva, Dom Neri Tondello, bispo de Juina – MT, afirma que “a expectativa que nós temos para esta reunião é que, de fato, o documento que vamos a aprovar, chamado instrumentum Laboris, ele respeite toda a escuta que foi realizada nas rodas de conversa, nas comunidades, nas aldeias, com os povos indígenas, os quilombolas, os ribeirinhos e demais lideranças da nossa região”. Por isso, o bispo insiste em que “o documento represente esta voz que vem da base, é ali que está doendo, é ali que que tem os problemas, é ali que temos as carências, é ali que temos os gritos, os apelos que são levantados para que a Igreja pense em novos caminhos para o futuro dentro de uma perspectiva da ecologia integral. A minha expectativa é que o documento corresponda, seja fiel àquilo que a base respondeu”.

Essa também é a expectativa do Padre Justino, que destaca, “agora é tempo de fidelidade àquilo que foi sugerido por muitos povos, é tempo de firmar compromisso, de firmar aliança com Deus, de firmar aliança com o povo espalhado na região amazônica. Minha esperança é que tudo seja de acordo com aquilo que o Deus da vida inspire em cada um de nós”.

Dentro das duas realidades importantes do Sínodo, novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral, Dom Rafael Cob, bispo do Vicariato Apostólico do Puyo, Equador, reconhece sentir-se com muita alegria e, ao mesmo tempo, “com grande esperança para iniciar o Instrumentum Laboris para o Sínodo para a Amazônia, que irá fornecer uma resposta importante para muitas expectativas que o Sínodo abriu em toda a nossa Igreja, especialmente a Igreja na Amazônia”.

O bispo, se referindo ao processo sinodal, diz que “as expectativas sobre os novos caminhos para a Igreja são canalizadas para responder a desafios concretos, não apenas da Igreja da Amazônia, mas também da Igreja universal”. Nesse sentido, ele afirma que “aprofundamos, vimos os ministérios que a Igreja precisa para fazer realidade uma Igreja indígena, uma Igreja amazônica, uma Igreja inculturada, onde a sua cultura, a sua sabedoria sobre a religiosidade e as sementes do Verbo que em sua cultura há, também vão responder às expectativas que os povos originários têm em tudo isso.

No Vicariato do Puyo, desde a dimensão da ecologia integral, “estamos todos os dias envolvidos em ameaças e fatos que estão acontecendo na Amazônia contra a vida, contra a vida da natureza e contra os povos que a habitam”, disse Dom Rafael Cob. Ele afirma que “estamos muito satisfeitos por ter podido, nos últimos meses, assistir e acompanhar o povo Waorani que tem alcançado sucesso na ação que colocou contra o governo equatoriano sobre a exploração de petróleo que queriam fazer em seus territórios”. Segundo o bispo, “esta decisão cria um precedente que para nós é muito importante e tornou possível a unidade dos diferentes grupos étnicos em nossa terra de Pastaza”.

Nesse sentido, o bispo do Puyo, lembra que “nestes dias celebrou-se a festa das comunidades indígenas, sete etnias diferentes unidas com o mesmo ideal, defender a Amazônia, defender a terra, defender a vida”. Mostrando o apoio da Igreja, ele disse que “estamos com eles e continuaremos lutando em defesa dessa ecologia integral que o Papa Francisco também pede e que nosso mundo precisa hoje. É importante nesta segunda parte do tema do Sínodo Amazônico, que o mundo inteiro, unido, possa viver essa vida em plenitude, que Aparecida falou”.

Segundo o Padre Justino, se faz necessário, “assumir posicionamentos claros contra aquilo que prejudica os povos do mundo”. Ele afirma que “a nossa Amazônia nos faz ver que é importante defende-la, mas poucas pessoas têm atitude de respeito, de amor e defesa à Amazônia e seus povos”. O salesiano ataca os grandes empresários, “eles tem outra visão da Amazônia, pouco interessados em quem vive ali, as pessoas, os seres vivos, todo o sistema de vida que existe na floresta. Defender a Amazônia não é só defender uma região, é defender a vida, muitas vidas”.

Neste processo, ele se vê “como indígena que é defendido por muitas pessoas corajosas, e ao mesmo tempo no dever de defender a nossa Amazônia, os povos amazônicos”. Para ele é importante “sentir com o coração indígena, falar com a voz indígena, colaborar com os conhecimentos indígenas. Muitas expectativas, sonhos bons de acreditar que o Sínodo será um momento especial de defender a vida, defender nossos territórios, um tempo especial em que temos que assumir um compromisso sério sobre os valores humanos, valores da natureza, valores da vida como cosmo, como biomas que existem na Amazônia”.

Seguindo as ideias e desejos do Papa Francisco, o Padre Justino acredita que “temos avançado em pensar numa Igreja com rosto indígena, não somente o rosto, mas ter um coração indígena, que ama suas culturas, a sua região”. Isso pode ajudar a fazer realidade os novos caminhos que o Sínodo para a Amazônia pretende, pois “tudo isso vai transparecer nas nossas práticas pastorais, catequese, celebrações, reflexões, cursos, nas escolas, temas de formação. Isso que vai mostrar que nós como Igreja da região amazônica, pouco a pouco teremos que criar”. Nesse caminho, ele reconhece que “teremos dificuldades, pois muitos e muitas serão insensíveis para essas novidades, muitas pessoas interpretam esse momento como tempo de oposição àquilo que é chamado desenvolvimento e progresso. Nós que estamos trabalhando e acompanhando mais diretamente, enxergamos de forma diferente, na possibilidade de construir um mundo melhor”.

O fundamento de tudo isso está no fato de que “não podemos ser surdos aos clamores da Terra, aos clamores dos empobrecidos, principalmente nós indígenas, os migrantes, as mulheres, as crianças, que são explorados pelos esquemas corruptivos, que corrompem o sistema em diferentes níveis, político, religioso”, afirma o salesiano. Segundo ele, “a pesar de percebermos as dificuldades que teremos, não nos falta esperança, muitas coisas começam a acontecer, surgem como esperança, pois todas as comunidades que foram ouvidas, todas as pessoas que falaram, demostraram todas as realidades que envolvem, as realidades negativas que ameaçam, que destroem os povos, os territórios, mas também expressam uma esperança incalculável, com respeito à voz da Igreja, que é a voz profética nesse momento de muitos problemas nesses países pan-amazônicos”.

Finalmente, ele afirma que “para mim, um indígena tuyuka, participar de uma reunião como essa será novamente um momento importante para aprender, para contribuir, e assim ver e sentir de perto, as preocupações que o Papa Francisco tem para com a Igreja na região amazônica”. Por isso, “com muita esperança vou encontrar-me com outros que atuam em diversas regiões, em diversos países, para essa reunião importante. Tenho certeza que nossos antepassados indígenas, de diversos povos, estarão nos acompanhando, inspirando sabedorias para que não os traiamos, mas que consigamos colocar no papel o que muitos povos expressaram no tempo de escuta”, conclui o Padre Justino Sarmento Rezende.

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