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Seminário em Manaus refletiu sobre o Sínodo da Amazônia desde a perspectiva do desenvolvimento sustentável

Por Luis Miguel Modino

Podcast Outro Papo de Igreja, do Serviço Teológico Pastoral

A Amazônia, por seu tamanho e complexidade, é objeto de diferentes olhares, entendimentos, atitudes, muitas vezes em conflito, pois nem sempre a realidade amazônica é vista de um modo bem-intencionado, além de interesses que procuram benefícios particulares que não respondem ao bem comum.

O Sínodo para a Amazônia tem sido um apelo do Papa Francisco para contemplar, para ouvir, para melhor compreender, a partir da fé, e descobrir a grandeza de uma região onde a mão do Criador desenhou paisagens deslumbrantes. Portanto, podemos dizer que “a criação não tem preço, não pode ser comercializada, não é carta de negociação, deve sim estar ao serviço da vida e do bem comum”, tal como foi reconhecido por Francisco Lima, Secretário Executivo do Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB.

Não podemos esquecer que o Sínodo da Amazônia é mais um passo em um processo histórico, segundo Francisco Lima, “em que a Igreja tem estado presente na vida dos povos da Amazônia, a partir de suas realidades, culturas, pensamentos, valorizando seus conhecimentos, suas experiências e iniciativas, e sobretudo para continuar aprendendo deles o cuidado com a Criação”, secularmente preservada e colocada a serviço da vida no Planeta.

O conhecimento que a Igreja tem da Amazônia vem de seu poder de capilaridade, de chegar no último canto, nas periferias, onde os órgãos públicos muitas vezes não aparecem. Como reconhecido por Fernando Merloto Soave, Procurador da República no Estado do Amazonas para os povos indígenas e comunidades tradicionais, “a vivência é o que ajuda a conhecer a Amazônia”. Em suas viagens por diferentes partes da região, ele frequentemente percebe “a ausência do poder público, elemento fundamental para garantir a sustentabilidade”.

Em uma atitude que corresponde ao que o Papa Francisco quer, Fernando Merloto Soave está promovendo fóruns de diálogo para refletir sobre a regularização de terras, saúde e desmatamento, em uma tentativa de “pensar no bem dos povos a partir de suas perspectivas e pensamentos”, relatando situações que desde outras visões de sociedade são chocantes, como é o fato de que algumas comunidades dizem abertamente que eles não querem energia elétrica ou que sejam construídas estradas.

Por isso, em uma atitude que a própria Igreja deve assumir quando quer se fazer presente na Amazônia, “devemos escutar para compreender a dinâmica dos povos, para empodera-los”, diz Merloto Soave, que vê o Sínodo como uma oportunidade histórica para “o fortalecimento de um novo olhar da Amazônia”. A partir dessa perspectiva, o promotor deu o exemplo de São Oscar Romero, como paradigma de “uma Igreja que fala a verdade, como um exemplo de transformação”. Em outras palavras, como construtora desses novos caminhos que a Igreja está querendo vislumbrar.

Na verdade, os próprios indígenas reconhecem que “as pessoas que virão, ficarão pior”, como declarou Alcione Meirelles, da Rede de Desenvolvimento Sustentável Maniraná, que congrega várias associações de vinte cinco municípios do Médio Solimões. Ele denuncia a existência de todos os tipos de tráfico, com a crescente presença de piratas, que têm a proteção de alguns militares e policiais. Junto com isso o indígena afirma que a consulta previa com os povos, garantida pelas leis brasileiras e internacionais, não acontece, porque “o governo não obedece as leis que eles próprios criaram”. Portanto, é necessária uma discussão séria, na qual a Igreja, especialmente através do Conselho Indigenista Missionário – CIMI, e das Pastorais Sociais, sempre colaborou com os povos indígenas.

Falar sobre vulnerabilidade de direitos na Amazônia, isso nos leva ao tráfico de pessoas “um dos problemas mais silenciados, invisibilizados e pactuados na Amazônia”, como diz Rose Bertoldo, da Rede Um Grito pela Vida. Este é um crime altamente organizado e lucrativo, que atua na clandestinidade e sobre o qual há silêncio cúmplice de grande parte da sociedade. Não podemos esquecer que a Amazônia brasileira é um local de passagem de grande parte das rotas nacionais e internacionais de tráfico. Esse problema tem uma solução difícil na região, devido às grandes distâncias e pouco controle, que é conjugado com a impunidade, que provoca silêncio e medo.

Quando um indígena e questionado sobre aquilo que é fundamental na hora de falar sobre luta por direitos, a defesa do território aparece como um elemento essencial, pois “território para um indígena tem a ver com a vida. A terra não é o chão, é o ambiente onde você vive”, um aspecto em que insiste Gersem Baniwa, nascido no Alto Rio Negro e que atualmente é professor da Universidade Federal do Amazonas. Uma visão muito diferente da que tem os não indígenas, para quem “o território faz parte do capital”.

Na verdade, não é possível pensar nos indígenas sem seus territórios, porque eles “têm uma relação ancestral com seu território, é um bem vital, primordial para a subsistência”, de acordo com Gersem Baniwa. Nesse sentido, o professor afirma que o segmento indígena é marginalizado e invisibilizado porque não gera renda, nem votos, que se traduz em uma falta de políticas públicas para os povos indígenas. Um exemplo disso é que, no estado do Amazonas, metade das escolas indígenas não tem prédio, o que é básico.

Gersem Baniwa afirma, sem sombra de dúvida, que na década de 1970 a Igreja Católica salvou os povos indígenas da extinção, especialmente com a criação do CIMI. Dada a situação atual, uma vez que o atual governo vê as terras indígenas “como um zoológico”, em uma nova tentativa de extinção, porque eles são vistos como um empecilho para o desenvolvimento, o professor vê necessário que alguém ajude a salvar hoje os indígenas. De fato, “qual é o desenvolvimento que os indígenas querem?”, pergunta o indígena baniwa. Ele mesmo responde dizendo que “respeito e dignidade, para que o indígena seja sujeito e protagonista da sua vida”.

Estas reflexões fazem parte dos muitos aportes que têm aparecido no “Seminário Sínodo da Amazônia: contribuições a partir do desenvolvimento sustentável”, que está aconteceu em Manaus, de 7 a 9 de março, organizado pela Fundação Amazonas Sustentável e a Arquidiocese de Manaus. Embora o processo formal de consulta já tenha sido encerrado, como reconheceu em seu discurso Virgílio Viana, Superintendente da fundação, o seminário quer servir de apoio na elaboração de documentos sobre o Sínodo.

As numerosas intervenções, em sua maioria limitadas a alguns minutos, onde foram ouvidas as vozes de representantes da Igreja Católica, do governo estadual, do exército, do estamento judicial, acadêmico e indígena, tem contando com a participação de algo mais do que cem pessoas, que em suas questões manifestaram as diferentes maneiras de contemplar uma região na qual pairam interesses de todos os tipos.

 

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